Terça-feira, 13 de Novembro de 2007

O papel da investigação no desenvolvimento de um país e na qualidade dos seus produtos e serviços

     Luis Monteiro - Pfizer; Sandwich; U.K.

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O conhecimento científico e tecnológico é consensualmente apontado como um dos principais pilares das dinâmicas de desenvolvimento económico, social e cultural das sociedades. A evolução do mesmo ao longo da história da Humanidade confunde-se e é até certo ponto indissociável da evolução do próprio Homem. A identidade que nos atribuímos, no início do terceiro milénio, enquanto parte da comunidade mundial, de um determinado povo ou mesmo como indivíduos, está intrinsecamente marcada por séculos de pesquisas e avanços nas diversas áreas da ciência. Do objecto mais banal do nosso quotidiano à percepção que temos do mundo e da vida, tudo resulta ou deriva dessa enorme corrente de conhecimentos que se renova e supera a um ritmo diário.

O impacto da investigação científica na vida das populações é tido pela comunidade pública como um acontecimento que teve sobretudo lugar sobretudo no século XX. Esta ideia, deve-se principalmente, ao enorme progresso tecnológico verificado nesse período, mas também ao aparecimento dos meios de comunicação e produção de massas, que permitiram às pessoas um acompanhamento mais próximo do que ia sendo descoberto nos vários domínios. Mas a inovação com base em fundamentos teóricos (investigação científica) passou a ser preponderante no desenvolvimento económico e social das nações pós Revolução Industrial. A união entre a ciência e a técnica (que veio suceder ao “aprender fazendo” do início daquele período histórico) veio permitir o estabelecimento das sociedades como as conhecemos (cidades, valores morais,...) e inaugurou uma era de “crescimento económico moderno”. E os países que estiveram na origem do aparecimento desta combinação foram os que assumiram (e continuam a assumir, de uma maneira geral) a predominância mundial em quase todos os aspectos, devido à vasta aplicação dos produtos e serviços resultantes da pesquisa científica.

Este enquadramento histórico serve apenas para realçar a importância da investigação no desenvolvimento dos Estados modernos, contrariando a ideia de que é um tema recente. O que estamos a assistir hoje em dia é uma tentativa de um número cada vez maior de países, em que Portugal se insere, de recuperar em relação às nações que foram pioneiras neste campo, no valor atribuído ao papel do conhecimento científico e à sua aplicação prática como impulsionador do crescimento. Se no passado já foi essencial, no futuro apresenta-se como vital e as denominadas Novas Tecnologias e (principalmente) a Biotecnologia são unanimemente consideradas como as chaves para o sucesso económico deste século.

Actualmente são os Estados Unidos, a maior economia mundial, que estão na vanguarda da invenção e inovação tecnológica (tendo ultrapassado na segunda metade do século XX as posições ocupadas pela França, Reino Unido e Alemanha até então). Para além de demonstrar inequivocamente a estreita relação entre conhecimento e desenvolvimento, é importante tentar perceber as causas que levam os americanos a liderar o sector da investigação e desenvolvimento (I&D). Em primeiro lugar, a proporção de investigadores em relação à população é de quinze em cada mil, enquanto que na Europa o número fica pelos dez por milhar de habitantes. Mas o principal factor de diferenciação reside no facto de que as actividades associadas à ciência e tecnologia norte-americanas não estão circunscritas ao mundo académico. Antes pelo contrário, apenas 20% dos investigadores exercem funções na universidade, enquanto que os restantes 80% estão ligados ao sector industrial (na Europa o número de investigadores está distribuído igualmente entre as universidades e a indústria). Isto traduz-se numa capacidade ímpar para conseguir a transferência de tecnologia da ciência para a indústria, criando um grande impacto económico-social e enraizando a proximidade das universidades às comunidades em que se inserem e, num plano mais abrangente, às preocupações e ambições nacionais.

 

É importante que Portugal se sirva do exemplo dos Estados Unidos para tentar aumentar a competitividade do país e das empresas nacionais. Sem querer que a cultura americana seja adoptada sem critério, é preciso aprender com ela e adaptá-la à nossa realidade. E o caminho passa por um forte e sustentado aumento do financiamento público para a I&D. Apesar de ser um investimento cujos retornos económicos manifestar-se-ão apenas a longo prazo, só assim é possível incentivar as empresas portuguesas a aumentar as despesas em investigação. É a investigação realizada nas e pelas empresas que mais directamente se relaciona com o aparecimento de novos produtos e processos, contribuindo para o crescimento da produtividade. Mas não é suficiente despender mais capital. São necessários os recursos humanos qualificados indispensáveis às actividades de I&D. Em Portugal, para além de haver uma proporção reduzida de pessoas ligadas a esta área (apenas três investigadores por cada mil habitantes), há uma fraca absorção dos graduados no sector empresarial. De facto, 90% destes elementos exercem funções nas universidades, número bastante distante da média europeia, já para não falar da norte-americana, que é quase a oposta. E a capacidade dos pesquisadores e cientistas portugueses não fica atrás dos das restantes nacionalidades. Para o provar basta o registo do número crescente de protocolos e parcerias entre empresas e centros de investigação estrangeiros com empresas, instituições e governo portugueses. É o reconhecimento da qualidade humana existente, que infelizmente é obrigada a prosseguir a carreira no estrangeiro por falta de oportunidades em território nacional.

A vantagem do conhecimento num mercado livre e altamente concorrencial onde as exigências dos consumidores, a optimização dos processos e redução dos custos fazem com que os próprios custos dessa investigação sejam compensados pelos benefícios que dela advém. Tornou-se indiscutível que será através do investimento na área da ciência e tecnologia que um país poderá apresentar um desenvolvimento coerente no futuro, tanto no aspecto económico como na qualidade dos seus produtos e serviços. E é importante que Portugal tente acompanhar esta tendência quase obrigatória, para que construa bases sólidas de crescimento e para não ser apenas conotado com a produção de vinhos, produção têxtil e turismo. E não consigo imaginar melhor promoção para o país do que a conclusão de um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) sobre Portugal que culminou com a assinatura de um protocolo de colaboração entre o governo nacional e aquela instituição “...a excelência da investigação encontrada nos centros de investigação portugueses ao longo do exercício de avaliação recomenda que o MIT fomente projectos de colaboração com as instituições portuguesas. Além disso, o empenho do governo português em reforçar a ciência e a tecnologia e em promover a colaboração internacional nos âmbitos do ensino superior e da ciência e tecnologia torna Portugal um país interessante para se fazer investigação e um parceiro relevante para futuros projectos de colaboração numa economia emergente globalizada e baseada no conhecimento.”

publicado por visaocontacto às 17:06
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