Quarta-feira, 24 de Junho de 2009

Oportunidades no BRIC Índia

Nuno Manuel Leal Lopes | C13
 
AICEP - Portugal Global
Nova Deli | Índia
 

Pequeno olhar sobre a Índia

 

A evolução da cultura milenar tradicional indiana tem-se pautado por uma assinalável continuidade até ao século XXI. Porém, esta situação tende a mudar. O exponencial crescimento económico indiano, registado na última década, permitiu uma mobilidade social e a emergência de uma classe média jovem que começa a pôr em causa valores sócio-culturais e a adoptar comportamentos e estilos de vida ocidentalizados.

 

Numa primeira análise da sociedade indiana, o que ganha especial relevância é, inevitavalmente, o sistema de castas ainda vigente que tem grande impacto na dinâmica nacional ao nível da estruturação e organização. Apesar da  proibição ao nível constitucional, é praticado pelo Hinduísmo, ou seja,  por cerca de 80% da população. Assim, torna-se difícil a tarefa de compreensão da dimensão deste fenómeno, de uma compreensão da entidade nacional indiana, bem como, da matriz política e sócio-cultural.

 

A maior democracia do mundo é resultado de uma diversidade cultural, racial e  religiosa acentuada (foi o berço de duas das mais importantes religiões do mundo: Hinduísmo e Budismo), alicerçada numa rica herança cultural de 5.000 anos e na primeira experiência unificadora do domínio cultural britânico (administração centralizada), que converteu uma das mais antigas civilizações do mundo num Estado-Nação.

 

Temos que ter em conta que se trata do segundo país mais populoso do planeta, com uma densidade demográfica de 332, 2 habitantes/km2.

 

 

Oportunidade

 

Apesar das relações históricas e seculares entre Portugal e a Índia, houve um corte das relações diplomáticas, até 1975, entres os dois países aquando da expulsão por ordem de Jawaharlal  Nehru (então primeiro-ministro) das colónias de Goa, Damão e Diu em 1961.

 

Como mercado emergente e potência económica pertencente ao grupo dos BRIC (grupo criado pela Goldam Sachs em 2003), a Índia é um mundo de oportunidades para as empresas portuguesas. O mercado indiano tem-se expandido continuamente desde a reforma económica de 1991, então protagonizada pelo actual Primeiro-Ministro (na altura Ministro das Finanças) Manmohan Singh. Com a liberalização da economia, o crescimento económico indiano tem revelado um rápido crescimento do PIB, incentivos ao IDE e às exportações. O aumento dos níveis de emprego deveu-se, principalmente, à aposta no sector das tecnologias de informação e na formação de quadros. Não é de descurar a subida do índice de transacções da bolsa de valores desde 2001 (200%) até à actual crise.

 

O desenvolvimento económico indiano está concentrado em meios urbanos e, sobretudo, em cinco grandes metrópoles, a saber: Deli, Mumbai (Bombaim), Bangalore, Kolkota (Calcutá) e Chenai (Madras) e, ainda, a cidade de Hiderabab, que tem ultimamente ganho dimensão e vindo progressivamente a juntar-se ao grupo das outras cinco. É, pois, nestes centros urbanos que vive e trabalha a emergente classe média indiana de 200 milhões de pessoas , dos quais, 50 a 70 milhões (as opiniões divergem)  terão um nível de vida que se aproxima dos níveis ocidentais tendo também apetência para consumirem produtos ocidentais, que são por eles considerados sinais emblemáticos de ascensão social,  entre os quais o vinho.

 

 Além da sua posição geográfica, a Índia é favorecida pelo respectivo fuso horário que representa mais um elemento atractivo às multinacionais, que na procura de ganhos de eficiência concentram os seus recursos no core business e sub-contratam as empresas de tecnologias e de terceirização de serviços tecnológicos para os restantes processos. Serviços de programação, back offices e call centers (por exemplo: BPO- Business Process Outsourcing) são uma realidade intrínseca à economia indiana.

 

Em comparação com as restantes economias asiáticas, a Índia tem a vantagem de não depender tanto das exportações para o crescimento económico, sendo sustentada pela procura interna. A Índia, de modo a fazer acompanhar este desenvolvimento económico assente no mercado interno (com cerca de 250 a 300 milhões de consumidores da classe média em termos de paridade de poder de compra), da sustentabilidade requerida vai necessitar de um forte investimento nas infra-estruturas indispensáveis à base industrial.

 

Melhoramentos necessários ao nível da rede rodoviária, aeroportuária, de energia e telecomunicações e os sub-sectores relacionados, são a OPORTUNIDADE de negócio que merece ser explorada pelas empresas portuguesas.

 

AICEP

 

No escritório da AICEP em Nova Deli, respondemos às solicitações das empresas portuguesas e indianas que tenham o objectivo da internacionalização, em ambos os sentidos.

 

O pedido de contactos de Clientes Finais, para eventuais parcerias, é uma constante. Nas múltiplas pesquisas de mercado que efectuámos, indicamos desde os distribuidores e produtores aos importadores e exportadores, que consideramos serem os mais adequados, para cada produto/serviço, neste gigante asiático. A resposta quanto a eventuais dúvidas mais específicas, como por exemplo, ao registo de princípios activos, taxas alfandegárias impostas, documentos necessários à exportação/importação, são outros casos típicos dos pedidos de informação das empresas portuguesas, aos quais respondemos com urgência.

 

Na captação de investimento para o mercado Português, seleccionamos e contactamos as empresas com historial de investimento no estrangeiro e experiência em lidar, com sucesso, com diferentes realidades económicas, culturais e sociais. Empresas que têm uma política de reinvestimento em I&D, ou seja, capacidade para introdução de competitividade, inovação e maior produtividade às economias onde operam.

 

São sectores dereferência:

Automóvel, Pasta de Papel, Produtos Minerias não Metálicos, Energia, Turismo, Actividades e Tecnologias Marinhas, Nanotecnologias diversas, Software, Biotecnologia, Equipamentos Médicos, Design (industrial, etc.).

 

Depois do envio de e-mails e posteriores follow-ups procedemos à marcação de reuniões e à apresentação do nosso País. A representação de Portugal em eventos é, obviamente, uma das nossas responsabilidades.

 

É assim o quotidiano na Embaixada Portuguesa em Nova Deli, com um calor suportável e esporádicas quedas de energia, no bairro de Chanakyapuri.

  

Números e percentagens:

- cerca de 800 milhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia

- cerca de 500 milhões vivem abaixo do limiar de pobreza

- 200 milhões não têm comida sufciente para satisfazer as necessidades básicas de nutrição

- existem 4 principais castas: 5% a 10% da população é Brahman (actividades religiosas e do foro intelectual), 30% é Kshatriya (preservação e defesa da sociedade, hoje em dia os indivíduos podem ser funcionários, cientistas ou professores) 20 a 30% pertence aos Vaishiyas (actividade comercial ou empresarial) e a restante população é Shudra (actividades manuais e de limpeza). Este sistema de castas é simbolizado pelos vários membros da Deusa Ganesh. De notar que a casta mais baixa, os Intocáveis, não é considerada neste simbolismo religioso.

- 72% da população é rural, sendo a restante 28% urbana

- a Índia é o quarto produtor farmacêutico mundial

- em 2005-2006, 54% do PIB era representado pelo sector dos serviços

- a rede ferroviária transporta 12 milhões de pessoas diariamente e emprega 1.6 milhões de pessoas, representado o maior quadro mundial de funcionários (Indian Railways)

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Segunda-feira, 2 de Março de 2009

Robustez anti-crise

Maria da Franca Levy Gomes | C12

Enabler

Índia

A Índia, enquanto economia emergente será, segundo o FMI, menos afectada pela crise mundial que os países mais desenvolvidos. Segundo as previsões, o crescimento do PIB da Índia, que em 2007 foi de 9,2%, baixou para os 7,9% em 2008. Espera-se porém um ligeiro aumento para 2009. Os preços dos bens também têm vindo a baixar desde 2007 e espera-se que assim se mantenha em 2009. (Hindustan Times). Porém, a diminuição das exportações e a falta de investimento no país – essencial para o seu desenvolvimento, poderão vir a agravar esta situação.

Assim, as iniciativas tomadas por empresas e organizações no país, surgem não apenas para fazer face à crise Mundial, mas também, serão sobretudo, para combater os problemas internos que um país com 1.148 milhões de habitantes e em desenvolvimento enfrenta e com o qual se debate diariamente.

Os problemas sociais passam pelo crescimento incontrolável da população. Só Mumbai tem o dobro da população de Portugal, vivendo na sua grande maioria na rua, ou em condições muito precárias de higiene, sem acesso a serviços de saúde, e sem escolaridade. Esta larga porção da população indiana, desamparada e explorada, não vê outra solução que não seja ter mais filhos, e assim mais braços para trabalhar e trazer umas míseras 20 rupias para casa, por dia (0,31 euros).

Os problemas de infra-estruturas passam pelo facto de as grandes cidades indianas como Mumbai, Delhi, Bangalore, Chennai, Calcuta, Hiderabade não conseguirem acompanhar, a nível de infra-estruturas, o seu crescimento. Como resultado, deparamo-nos com estradas esburacadas, falta de passeios, edifícios sem qualquer tipo de estudo de impacto ambiental e paisagístico, ruas transformadas em lixeiras.

Os problemas económicos passam pela disparidade no que diz respeito ao crescimento salarial da população, agravando assim o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. A mão-de-obra é muito barata devido à sua grande oferta, e assim, explorada.

Como reacção a todas estas profundas e enraizadas dificuldades, várias medidas vão sendo postas em prática com o âmbito de fortalecer o país e torná-lo mais apto na luta contra crise. Esta luta passa em parte por saber usufruir das vantagens competitivas de cada país, a todos os níveis sociais e económicos.

O que tem a Índia de vantajoso relativamente a outros países? Uma vasta população, logo mão de obra, potencial tecnológico bem como humano, forte potencial no que diz respeito a desportos como cricket e hóquei, uma cultura exótica, uma história interessante, uma paisagem variada e exuberante e uma flora e uma fauna ricas e diversificadas.

Assim Delhi recebera em 2010 os Jogos da Commonwealth, tirando partido da sua história.

A sul do pais. Bangalore é considerado a Silicon Valley da Índia, usufruindo do seu potencial tecnológico e humano.

O país vai dando a conhecer a sua cultura através de jogos e campeonatos mundiais de cricket e hóquei, tendo já sido campeões mundiais nestes dois desportos.

A sua cultura multifacetada, que divide a sociedade em castas, englobando num mesmo território mais de quarto fortes religiões, centenas de templos, igrejas, mesquitas, um território onde se falam 120 línguas (23 oficiais) diferentes, onde as praias de areia branca ou escura se misturam com as palmeiras, onde os elefantes, os tigres, os camelos, as vacas sagradas abundam, onde o deserto, a montanha e os campos de chá e café se estendem a perder de vista, a Índia oferece a quem a visita, umas ferias inesquecíveis. Assim o país usufrui da cultura e beleza natural para atrair turistas.

Neste contexto deparamo-nos com grandes grupos como o Grupo Tata. O Grupo Tata, presente na Índia desde 1868, gere vários tipos de negócios, tais como construção automóvel, hotelaria (Hotel Taj – Mumbai), software e sistemas de informação, produção de aço, serviços financeiros, seguros, produção de energia, produtos de grande consumo (chá, café, livrarias), produtos farmacêuticos entre outros.

Este grupo foi pondo em prática ao longo dos anos várias iniciativas comunitárias, bem como apoiando a Arte e o Desporto através de patrocínios e sendo o “patrono” no que diz respeito à herança da cultura Indiana (tapeçarias entre outros).

Tem igualmente sob sua gerência o Tata Memorial Centre, hospital Nº1 no tratamento e investigação oncológicos, no qual 70% dos pacientes recebem tratamento gratuito.

O Instituto Indiano de Ciência também pertence a este grupo e engloba 40 departamentos de Investigação e Desenvolvimento, bem como um departamento de ensino nas áreas da ciência, engenharia e tecnologia.

É de salientar igualmente a preocupação ecológica deste grupo, incentivando o desenvolvimento sustentável, que proteja o meio ambiente e beneficie as pessoas que dele dependem, através do JRD Tata Ecotechnology Centre.

A Índia tem ainda um longo percurso a percorrer e muitos aspectos a fortalecer, como a questão da sensibilidade relativamente à higiene e à limpeza, das infra-estruturas, da corrupção, da alfabetização e da pobreza. Mas a verdade é que a Índia tem muito para oferecer a qualquer investidor, com grandes margens de lucro. Esta será a sua tábua de salvação nesta época de crise.

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Sábado, 28 de Fevereiro de 2009

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Bernardo Lago Cruz | C12

Critical-Links

Nova Deli | India

 

 

A crise financeira, a crise económica, a crise social, a grande crise de valores são na Índia um fenómeno interligado mais com a própria cultura Indiana do que com a massificação de comportamentos encontrados no Resto do Mundo.
A realidade Indiana é caracterizada pela existência de centenas de diferentes dialectos, dezenas de religiões e mais de 1 bilião de pessoas a viverem unidos pela mesma nação.·Sendo assim deixo aqui 4 paralelismos entre a crise na Índia e a crise Mundial.

 - A Crise Social 

 14 milhões de pessoas partilhando 80Km2A Crise Social no contexto indiano é no ponto de vista ocidental aquela que é mais brutal, o panorama em Nova Delhi é de uma cidade a rebentar pelas costuras onde o trânsito caótico e o lixo espalhado pelas ruas são aliados a uma pobreza extrema. A Índia goza do estatuto de uma democracia, mas o sistema de estratificação social das castas ainda vigora na sociedade indiana, sendo a cor da pele um factor de descriminação social presente. Quem nasce pobre morre pobre, dia após dia, sol após sol os sem-abrigo e waste pickers reúnem-se junto de montanhas gigantes de lixo para proceder à separação deste e a casta mais pobre (Os Intocáveis) muitas vezes é desmembrada intencionalmente pela Mafia Organizada de Delhi com vista a poderem ser uma fonte de rendimentos.

Em cada semáforo dezenas de miúdos carregando cocos, mangas, bananas, balões, livros e peluches assediam os turistas com um comum brilho nos olhos e sorrisos irresistíveis. Os rickshaws manuais são confinados maioritariamente à população idosa, que carrega turistas e mercadorias O choque cultural é incontornável no que toca ao comum ocidental que visita a Índia pela primeira vez. A realidade é que a cultura indiana é muito diferente da nossa, o que para nós é considerado desumano para os indianos é considerado normal, a vida e a morte têm um sentido muito distinto quando comparados com os da sociedade Judaico-Cristã. Mas uma questão permanece, imaginem como seria a interacção social se toda a população de Portugal estivesse concentrada em 80Km2?

  

2. A Crise Económica – Baksheesh, o suborno honesto

 

A crise económica que se vem a sentir no mundo deriva de múltiplos factores, factores esses que pertencem a relações desenvolvidas sobretudo entre países ocidentais. No que toca às relações económicas dos diversos agentes no espectro indiano, é de notar que as relações estabelecidas entre eles não foram baseadas na lei da concorrência perfeita. Os contratos e relações estabelecidos são efectuados com base em relações pessoais e contratos paralelos, há uma maneira própria de fazer negócio, onde o dinheiro debaixo da mesa é mais importante do que a viabilidade económica do negócio.

Outra curiosidade no mundo económico indiano prende-se com o chamado Black Money. Segundo o Swiss Bank a Índia tem aproximadamente 1500 milhões de dólares não declarados, depositados na Suiça (em segundo lugar vem a Rússia com 3 vezes menos). Esse dinheiro deriva, principalmente, de contratos paralelos. Os baksheesh como  são abertamente chamados os subornos, contribuem para que a pesada burocracia deixe de ser uma presilha para a economia Indiana.

O baksheesh é, de certo modo, uma forma aberta e “honesta” de corrupção, já que toda a população indiana conhece o seu poderoso significado.

Assim, a crise económica mundial é menos sentida na Índia, visto que as decisões são baseadas na tradição indiana e menos afectadas com o desenrolar da economia Mundial.

 

3. A Crise Financeira – Proteccionismo Salvador

 

A crise financeira é aquela que mais se pode sentir face às outras. A interligação dos mercados mundiais faz com que seja impossível não sentir os efeitos negativos vindos da economia americana e consequentemente da economia ocidental. Mas, mais uma vez, é fácil demonstrar que a Índia é um país que se encontra protegido neste campo, visto que a lei Indiana obriga as empresas estrangeiras que operam naquele país a possuírem capital indiano. Sendo assim, em alturas de crise, o mal-amado proteccionismo indiano ao capital estrangeiro protege as empresas indianas.

Ao observar o pânico gerado pela onda de desemprego nas famílias face à fuga dos capitais estrangeiros de Portugal, questiono-me se Hugo Chavez tinha razão ao proteger o próprio país de decisions makers estrangeiros que só têm em conta factores financeiros em detrimento do contributo e know how gerado pelo sector secundário do país.

 

4. A Crise Generalizada de Valores – medo/consumo vs amor/ carpe diem

 

Para a maior parte da população ocidental, a realidade mundial é lida através dos meios de comunicação social. Neste momento ligamos a TV ou internet e somos bombardeados por múltiplos actos de violência, morte e fome, com publicidade pelo meio, havendo uma cultura de medo/consumo associada. Visto que há uma crise económica e financeira generalizada, o consumo sofre mudanças, as pessoas já não conseguem comprar aquilo que os media publicitam, porque os bancos não lhes financiam o capital de que necessitam. Existe assim um vazio, provocado pela desgraça e violência que nos é imposta pelos media,  e que aumenta de dia para dia quando não temos aquele sentimento de bem-estar ao comprarmos um carro,   telemóvel ou qualquer bem material.

Na Índia não existe uma crise generalizada de valores, a maior parte da população não tem tempo nem condições para ser brainwashed pelos media, a pobreza e o ramerrame do dia a dia, fazem as pessoas viverem o momento de coração aberto, sem medos nem receios, prontos a encontrar felicidade e harmonia em pequenos prazeres que para nós ocidentais são dados adquiridos.

 

Namasted

 

 

 

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Domingo, 25 de Janeiro de 2009

Viver e trabalhar na Índia, um mergulho na diferença.

Gonçalo Afonso | C12

Wipro Corporate

Bangalore | Índia

 

Quando soube que tinha sido colocado na Wipro, na Índia, a minha reacção não foi muito entusiasta e não fiquei muito satisfeito com o destino. Actualmente tenho de reconhecer que, de todos os mercados, a Índia é dos mais interessantes para realizar uma experiência profissional de curta duração.

 

A Índia, é sem dúvida, um destino exótico, não só para férias mas também, e especialmente, para viver uma experiência profissional. A cultura indiana é muito diferente da cultura ocidental, quer em termos de regras de etiqueta e comportamento, quer em termos de regras sociais, o que se repercute no local de trabalho.

 

Viver num país como a Índia é aceitar viver num desafio constante, onde aprendemos, por experiência própria, que a expressão “diferenças culturais” tem uma dimensão que ultrapassa o nosso entendimento. Na vida fora da empresa é preciso aprender a viver numa cidade com cerca de oito milhões de habitantes, onde os ocidentais continuam a ser considerados “seres invulgares” pela maioria da população e a vida social nocturna está limitada por lei a terminar às 23.30 h.

 

Profissionalmente, esta experiência apresenta uma grande vantagem: enquanto auditor interno da Wipro ganho uma visão transversal da actividade da empresa nas várias (e muito diversificadas) áreas de negócio onde a Wipro está presente. O principal negócio da Wipro é consultoria informática (Wipro Technologies), mas também está presente no mercado de Business Process Outsourcing (Wipro BPO), equipamentos informáticos (Wipro Infotech), iluminação, cuidados pessoais e de saúde (Wipro CCLG).

 

Apresento, de seguida, alguns aspectos da minha experiência profissional na Wipro que gostaria de partilhar, sendo apenas alguns exemplos do “choque cultural” com que tive de lidar.

 

Viver num país onde uma das línguas oficiais é o Inglês pode criar a ilusão de ter uma vantagem: facilidade de comunicação. Contudo a Índia tem muitas línguas (23 línguas oficiais incluindo o Inglês) e nem todas as pessoas falam a língua da potência colonizadora. No entanto, a maioria das empresas adoptaram o Inglês com língua corporate (como é o caso da Wipro), e toda a comunicação interna e com os clientes é feita nesta língua. Esta política não invalida que algumas discussões entre colegas seja em Hindi, Kannada, Tamil... incluindo quando estou presente e o assunto me diz respeito. Mas, mesmo quando as discussões são travadas em Inglês, não significa que consiga comunicar com os meus colegas de forma eficiente. Ainda há a questão do sotaque que, por vezes, torna as conversas muito semelhantes a discos riscados onde as frases são repetidas várias vezes até se perceber a mensagem.

 

A forma de trabalhar dos indianos é diferente da forma de trabalho a que estava habituado em Portugal, quer pelo ritmo (lento) em que desempenham as suas tarefas, quer pelo número (elevado) de breaks que fazem durante o horário de trabalho. Isto não implica que o trabalho não tenha qualidade, muito pelo contrário, o nível de exigência é bastante elevado e o trabalho tem que estar muito bem feito aquando da entrega (o que faz com que as deadlines sejam adiadas várias vezes).

 

A hierarquia na empresa é outra característica que me continua a surpreender. Reflexo da sociedade muito estratificada (reminiscente do antigo sistema de castas), mesmo no local de trabalho a hierarquia social é muito forte e reflecte-se em pequenos aspectos, como no facto de não se falar com os empregados da limpeza.

 

As situações acima descritas (e muitas outras) transformam esta experiência numa oportunidade de crescimento (pessoal e profissional) impossível de conseguir noutro contexto. Além dos conhecimentos técnicos que estou a adquirir, que serão muito úteis no futuro, saliento a capacidade de adaptação que desenvolvi. A Índia é, sem dúvida, dos destinos mais interessantes para a realização desta experiência, quer pela sua riqueza e diversidade cultural, quer pelo facto de ser uma grande potência económica mundial que continua a surpreender o mundo pela sua capacidade de adaptação e inovação na área da tecnologia.

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Domingo, 27 de Julho de 2008

Rumo à Índia com tempestade

 

 

 

 

 

 

 

Jaime Silva

 

 

 

 

Enabler

Bangalore   |   Índia   |   C11

 

 

 

 

 

 

A crise internacional recente criou sérios problemas à capacidade de crescimento das empresas portuguesas. Com um clima de abrandamento económico no mercado interno a solução parece ser a aposta em mercados emergentes e a diversificação para novos sectores de actividade. Algumas empresas portuguesas vêem na Índia uma excelente oportunidade de expansão e preparam-se para entrar neste mercado.

 

Razões para esta escolha não faltam: a economia indiana teve no ano transacto (2007) um crescimento do PIB de 9%; o governo indiano anunciou, em 2008, planos de investimento em infra-estruturas a rondar os 500 mil milhões de dólares a efectuar nos próximos cinco anos; e, obviamente, a existência de um mercado interno com cerca de 1,2 mil milhões de pessoas com pretensões de consumo. O potencial é visível nas “ruas” da Índia. Os centros comerciais encontram-se repletos, as cadeias de restauração multinacionais têm lotação esgotada a qualquer hora do dia e a afluência a lojas de telemóveis é inacreditável.

 

No entanto, este mercado que à primeira vista é muito apetecível pode tornar-se amargo, caso sejam ignoradas algumas dificuldades.  

 

Se um empresário me pedisse para caracterizar a Índia após a minha experiência de oito meses neste país eu ficaria um pouco embaraçado. Não existe um estereótipo para se enquadrar esta sociedade. A Índia é um dos países com maior diversidade e pluralismo do mundo, seja nas etnias representadas na sua sociedade, nas diferentes expressões culturais, na profusão de línguas e religiões ou no clima e níveis de desenvolvimento económico distintos entre várias regiões. Esta diversidade, impede a adopção de uma estratégia de negócios transversal a todo o país, mas este é apenas um dos factores, que torna este mercado difícil e complexo.

 

A população da Índia é normalmente apontada como uma vantagem económica. As previsões sugerem que em alguns anos a Índia se poderá tornar o país mais populoso do mundo. Este crescimento populacional torna-se preocupante se pensarmos que esta expansão acontece em famílias muito pobres que encaram os filhos como forma de sustento, reproduzindo os níveis de pobreza e analfabetismo nesta sociedade.

 

As quase cinco décadas de proteccionismo e um mercado interno muito vasto permitiram o aparecimento de empresas locais muito fortes. As empresas indianas têm assim a vantagem de serem familiares para os Indianos, terem um preço muito competitivo e um know how de mercado. A economia informal será outro concorrente muito forte para as empresas estrangeiras.

 

Dificilmente um plano financeiro conseguirá prever todos os custos inerentes a uma incursão no mercado indiano. A Maioria dos burocratas e políticos do país aproveita a sua posição de poder para retirar proveitos pessoais. Esta corrupção e burocracia na função pública são também uma forte barreira à entrada. Uma empresa de retalho para abrir as suas portas ao público terá que conseguir 30 licenças.

 

Após a entrada no mercado as dificuldades não terminam. Infra-estruturas ruinosas e a necessidade de formação intensiva representarão um custo alto. Basta entrar em alguns estabelecimentos comerciais para perceber a necessidade urgente de formação comportamental dos colaboradores. A expatriação de colaboradores de países desenvolvidos para a Índia será muito complicada tendo em conta as diferenças culturais e o agravamento da qualidade de vida. O transporte de bens é moroso e oneroso. Quando se transportam produtos entre Estados é obrigatório o pagamento de um imposto de saída. Ao entrar noutro estado é obrigatório o pagamento de uma taxa de entrada. Por vezes até a deslocação de bens dentro do mesmo estado está sujeita a um imposto denominado de octroi.

 

O cenário já parecia complicado porém o contexto económico actual apimentou ainda mais o ambiente de negócios na Índia. O custo elevado dos alimentos e das matérias-primas, especialmente do petróleo, lançaram a inflação para um máximo histórico de 11%. O Banco Central da Índia já respondeu subindo, no passado dia 24 de Junho, a taxa de juro para os 8,5%. O Governo perante um défice orçamental previsto de 9,4% fica de mãos atadas e poderá mesmo ter que eliminar subsídios que mantêm preços artificialmente baixos provocando ainda mais pressão inflacionista. Esta pressão inflacionista poderá originar um aumento no custo do trabalho e respectiva perda de competitividade nesta economia.

 

É de louvar a aposta das empresas portuguesas na Índia mas antes de dizer: Chalo (“vamos” em Hindi) vale a pena pensar nos remédios que devem ir na bagagem.

 

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Terça-feira, 22 de Julho de 2008

Trabalho - O que esperar da índia

José Lima Vaz

 

 

Wipro Technologies  
Bangalore   |   Índia   |   C11

 

 

No primeiro dia de trabalho estava ansioso. Não sabia o que esperar, que ambiente, que colegas, que carga de trabalho, que exigência. Fui apresentado a toda a equipa num almoço de recepção, debaixo de muitos olhares e perguntas indiscretas.

O ambiente de trabalho era bom e descontraído. Os colegas interagiam entre eles e procuravam incluir-me nas inúmeras pausas que iam fazendo durante o dia, ora para o pequeno-almoço, ora para o chá a meio da manhã, para o almoço e para o café depois de almoço, para o chá a meio da tarde e ainda para o lanche. O ritmo de trabalho é lento, despreocupado e sem pressão. Talvez mais saudável, admito, mas muito diferente do que estava habituado.

Demorou até que me atribuíssem alguma tarefa. Não um dia ou dois. Uma semana. Foi então que senti que havia alguma resistência em fazê-lo. Advertiram-me para o facto de toda a informação ser confidencial. Repetiram uma, duas, três vezes a mesma frase. Notei que havia insegurança e não foi agradável.

Houve também situações em que pedi a colegas esclarecimentos acerca de determinado assunto e não mostraram boa vontade. Não por ser inoportuno mas porque não estavam dispostos. Mais tarde vieram as perguntas acerca dos planos profissionais. Se tencionava ficar na Índia, muito ou pouco tempo e até quando o faria. Julguei serem perguntas de curiosidade, mas logo conclui que não. Temiam que eu viesse ocupar os seus lugares. Idolatram os estrangeiros, acham-nos superiores e talvez por isso se sintam ameaçados. Respondi que não tencionava ficar na Índia por muito tempo. Tranquilizei-os.

A carga de trabalho, é em geral, reduzida. Talvez por a mão-de-obra ser barata, as tarefas estão muito dispersas pelos colaboradores e é comum haver alturas em que não haja nada para fazer (o que justifica as muitas pausas ao longo do dia). Aconteceu-me diversas vezes. Esta situação seria impensável em qualquer país do mundo ocidental.

A exigência é grande. Se a carga de trabalho é pequena é natural que se exija qualidade no trabalho.

Antes de partir para a Índia, muitos foram os colegas de trabalho, em Portugal, e que trabalham com indianos à distância, que me disseram que não iria ser fácil. Pois bem, de perto, corroboro essa opinião.

 

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Terça-feira, 29 de Abril de 2008

Índia - Oportunidades cheias de dificuldades.

   Ricardo Belo da Silva - Winning Ways, Nova Delí - Índia

 

 

Pela primeira vez desde que se iniciou o Programa Contacto foram enviados estagiários para a Índia. Eu tive a sorte de ser um desses Vascos-da-Gama do séc. XXI.

Portugal descobriu o caminho marítimo para a Índia há mais de 500 anos, mas infelizmente não soube dar continuidade a essa descoberta no mundo dos negócios. Apenas em 2007 foram enviados estagiários do Contacto para a Índia. Apenas em 2007 um Primeiro-Ministro português visitou a Índia. Apenas em 2007 um Presidente da República português esteve na Índia. Apenas agora estão a ser dados os primeiros passos. Entretanto os restantes países ocidentais já se encontram na Índia há mais de 10 anos. Tudo isto num país que representa um sexto do mercado mundial e que pode ser considerada a verdadeira “Terra das Oportunidades”.

Quatro meses passaram desde a minha chegada a Nova Deli e, daquilo que me foi possível ver até ao momento, apesar de ser um mercado enorme, é um mercado extremamente difícil de entrar. A principal razão, são precisamente os próprios indianos. Várias são as razões que me levam a escrever isso. A principal delas prende-se com, aquilo a que chamamos em português, a “preguicite aguda”. É de facto impressionante a forma de trabalhar dos indianos. A preguiça aliada a constantes tentativas de escapar ao trabalho é uma arte que não está ao alcance de todos. Relacionada com esta arte de escapar ao trabalho estão as mentiras. Após dois dias de trabalho na Índia já tinha perdido a conta ao número de mentiras. Desculpas como “Não recebi o e-mail” (tendo-o obviamente recebido), ou “Tratarei da situação o mais rapidamente possível e entro em contacto consigo daqui a uma hora” (quando obviamente não o vai fazer e numa fase posterior ignora as chamadas telefónicas da mesma pessoa), ou ainda “Estou neste momento a sair do escritório” (quando apenas se planeia sair dali a duas horas) estão entre as mais frequentes.

Outra das dificuldades impostas pelos indianos consiste numa certa arrogância para com o estrangeiro ao nível do mundo empresarial (não só a esse nível, mas neste momento tento apenas focar-me nesse aspecto). Essa arrogância provém dos próprios indianos terem percebido o potencial do seu país e o quão atractivo este se tornou aos olhos do mundo ocidental.

Após viver quatro meses na Índia deparei-me com outra conclusão: para se triunfar aqui é necessário apostar muito mais no volume de vendas do que no valor. Tudo isto porque para os indianos (desde o pequeno comerciante que tem um quiosque na esquina até à maior empresa indiana) o que interessa é o preço e não a qualidade. Para triunfar na Índia é necessário baixar ao máximo os custos de produção. Para triunfar na Índia é necessário baixar ao máximo os preços. As consequências são óbvias: má qualidade dos produtos.

O melhor exemplo para descrever as dificuldades de penetração no mercado indiano é precisamente a empresa onde estou a estagiar: a Critical-Links. Há dois anos foi estabelecida uma parceria com um intermediário indiano (uma pequena empresa especializada em ajudar empresas estrangeiras de telecomunicações a entrar na India). Há seis meses foi finalmente assinado um acordo com uma grande empresa de software e hardware, a maior da Índia, responsável, entre outras, pela produção do nosso hardware. E apenas há dois meses foram vendidas as primeiras unidades do nosso produto: a edgeBOX.

Em jeito de conclusão, se um dia me perguntassem qual a característica mais importante que uma empresa estrangeira tem que ter para triunfar na Índia a resposta seria fácil: paciência!   

Toda esta experiência na Índia tem sido fabulosa tanto a nível profissional como a nível pessoal. Na Índia, e no exemplo concreto de Nova Deli, cada vez que se sai à rua encontra-se algo novo, algo diferente, algo... estranho!

 

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publicado por visaocontacto às 14:00
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