Frederico Gomes - AICEP, Buenos Aires, Argentina.
Frederico Gomes- Há quanto tempo trabalhas na Delegação da AICEP de Buenos Aires?
Mathias Oporto- Há quatro anos.
F G- Com quantos Delegados já trabalhaste?
M O- Com dois.
F G- Reconheces algum traço em comum nos portugueses com quem trabalhaste/ lidaste (delegados, colegas de trabalho, funcionários do Consulado/ Embaixada)?
M O- O trabalho numa Delegação da AICEP é muito diferente do trabalho num Consulado ou numa Embaixada. Os funcionários possuem diferentes atitudes em relação ao seu trabalho e existem grandes diferenças entre os trabalhadores da Delegação e os do Consulado/ Embaixada. Algumas semelhanças são:
a) Pouca capacidade de reacção imediata face a condições adversas;
b) Boa predisposição para o trabalho;
c) Falta de capacidade de decisão;
d) Boa adaptação à mudança cultural.
F G- Na relação de trabalho que tipo de obstáculos culturais encontraste ao lidares com portugueses?
M O- O principal obstáculo que se manifesta quase de imediato tem que ver com as expressões idiomáticas. Existem formas e modos de comunicação por parte dos portugueses que para um argentino carecem de sensibilidade e que até parecem conter, à luz da cultura argentina, uma certa agressividade, e vice-versa.
Outro obstáculo em relação à língua diz respeito às palavras que são escritas e que se pronunciam da mesma maneira em ambos os países mas que têm um significado diferente, originando problemas na comunicação. Esta situação é, contudo, rapidamente detectável e solucionável.
F G- Como classificarias o tipo de relacionamento na delegação: formal, hierarquizado, informal?
M O- A Delegação encontra-se actualmente composta por um Delegado e dois funcionários (ocasionalmente contamos com a presença de um estagiário do programa INOV Contacto). Devido ao facto de ser uma Delegação pequena, o tipo de relacionamento entre as três pessoas possui características dos três tipos mencionados. A título de exemplo pode-se dizer que a cooperação necessária para cumprir as várias actividades torna o ambiente mais informal sem que isso se reflicta na hierarquia normal existente nem na formalidade utilizada no dia-a-dia.
F G- De que forma é que, na tua perspectiva, a tua postura influenciou a cultura organizacional da Delegação?
M O- A minha postura trouxe dinamismo a várias áreas de trabalho da Delegação e colaborei em diversas tarefas onde era importante esta postura.
F G- Na tua opinião achas que a cultura organizacional da Delegação é permeável aos inputs dos funcionários?
M O- Pelo facto de ser uma Delegação pequena está sempre permeável a receber inputs dos funcionários. Não é, no entanto, razão suficiente para alterações na cultura organizacional já estabelecida. Os funcionários trazem algumas influências próprias que induzem alterações no modelo de organização.
F G- Em relação aos empresários portugueses que conheceste quais são, na tua opinião, as suas principais vantagens ao entrarem no mercado argentino?
M O- Os empresários portugueses têm a vantagem de encontrarem um mercado com grandes semelhanças culturais. Outra vantagem tem que ver com a excelente imagem que os produtos portugueses têm no que toca à qualidade. Os empresários portugueses têm também uma boa capacidade de negociação sendo a sua forma de negociar muito bem vista por parte dos empresários argentinos.
F G- E aspectos que deveriam acautelar?
M O- Os aspectos que deverão ter em conta são semelhantes aos das negociações com empresários de outros países. Isto é, utilizar os mesmos mecanismos e recursos utilizados normalmente e só depois de haver realizado vários negócios com uma mesma empresa e de ter ganho uma relação de confiança é que se poderão flexibilizar as formas de negociação.
F G- Três ideias/ conselhos a empresários portugueses que queiram exportar/ investir na Argentina.
M O- Investigar as possibilidades do mercado para o produto
Realizar visitas ao mercado, participar em feiras, realizar actividades de promoção, etc., com maior frequência de forma a obter uma presença mais destacada são tarefas indispensáveis.
Samuel Janela, EFACEC - Cordoba, Argentina.
Sendo um recém-licenciado e não tendo, por isso, ainda, grande experiência de mercado de trabalho, quer em Portugal quer no estrangeiro, pude notar já algumas diferenças no que respeita a relações de trabalho em Portugal e na Argentina. Convém mencionar que, apesar de serem ambas empresas de um mesmo grupo, têm dimensões totalmente distintas e que, também por isso, as relações tendem a ter outra dimensão.
O grupo "EFACEC, maior Grupo Eléctrico Nacional de capitais portugueses" é um dos maiores players mundiais nos sectores de actividade, "tem cerca de 2000 colaboradores e factura aproximadamente 300 milhões de euros, estando presente em mais de meia centena de países e exportando cerca de metade da sua produção."
A casa mãe, em Portugal, conta já com algumas estruturas de apoio aos seus recursos humanos que, entre outras coisas, promovem a melhoria do ambiente e das relações de trabalho, através de actividades de " bonding", da melhoria constante das suas condições de trabalho, formação contínua, entre outras. Naturalmente, devido à grande dimensão da empresa, todas as relações, competências e responsabilidades estão muito bem definidas, não sendo por isso fácil que se desenvolvam relações tão abertas de amizade, havendo a tendência para o "cada um por si" ou o "eu faço o meu trabalho".
A congénere Argentina, com uma história bastante mais curta, iniciou as suas actividades no ano de 1983, como BAUEN, S.A., um "taller" (oficina) local de montagem e fabricação de equipamento electromecânico de baixa e média tensão. Desde 1997, vem sendo alvo de um investimento directo crescente, por parte da Efacec, tendo em vista a integração e dando assim seguimento à estratégia de internacionalização do grupo. A agora BAUEN EFACEC é, neste momento, uma sociedade de capitais mistos, portugueses e argentinos, detidos maioritariamente pelo grupo português e que tem como objectivo potenciar as diferentes áreas de negócio da EFACEC na América Latina e Central (contando já com exportações para o Chile, Costa Rica, Bolívia, Brasil, Peru, Porto Rico e Uruguai). Assistimos, neste momento, a um grande esforço financeiro do grupo, no sentido de uniformizar qualidade e condições de trabalho, do qual resultou a recente inauguração de uma nova fábrica (Junho de 2007 ), o respectivo "comedor" (Agosto de 2007) e ainda a implantação do sistema ERP BaaN, bem como um conjunto de ferramentas de gestão comuns a EFACEC AMT (previsto para Setembro de 2007).
Esta tentativa de uniformização tem passado, também, pela organização e todo um conjunto de comportamentos, práticas e hábitos. Se bem que a introdução de alguns costumes nossos, como o simples almoço (tornado obrigatório), tenha sido bem recebida, a tentativa de limitar, ou mesmo eliminar outros como a toma de Mate (bebida de infusão de ervas muito tradicional desta zona da América do sul – conhecido por Chimarrão no sul do Brasil ) gerou já um considerável mal estar entre os colaboradores, reforçado pelo facto de o mesmo ter sido imposto por estrangeiros. Estes factos, aliados a uma remuneração abaixo da média, tem levado a uma alta rotatividade de pessoal, exceptuando-se aqui os colaboradores mais antigos ou melhor posicionados, que se têm mantido mais ou menos estáveis.
Mais relevante que tudo isto será a mudança de hábitos de organização e rigor, motivada pela adopção, à semelhança de outras empresas do grupo, de um sistema ERP BaaN que não permite, ou no mínimo limita muito, as inconsistências de todo o género que se vinham verificando e agravando há já bastante tempo.
A nível interpessoal, sendo uma empresa de dimensões mais reduzidas, goza naturalmente de um relacionamento marcadamente mais informal, acolhedor e até familiar. A extrema centralização das tarefas, devido em grande parte a um mais reduzido número de colaboradores, obriga a uma interacção/inter-ajuda mais forte, o que vem reforçar a união do grupo.
No que respeita ao departamento de relações humanas, este é ainda muito incipiente, limitando-se basicamente ao pagamento de salários, gestão de faltas/férias, organização de convívios esporádicos e ainda a gestão do recém inaugurado refeitório.
Apesar da enorme semelhança cultural, esta tentativa de importação taxativa do modelo Português para a Argentina, tem gerado alguns conflitos, que já seriam espectáveis.
Ana Mesquita, Sogrape, Buenos Aires, Argentina.
Pedro Curral,
Câmara de Comércio, Buenos Aires, Argentina.
Se nunca visitaram Buenos Aires, então esta é a melhor altura para o fazerem. A súbita queda do peso em 2001 tornou uma das capitais mais caras do mundo numa das mais baratas, ao que se pode juntar toda uma energia própria de uma cidade e nação que tenta reerguer-se após uma das mais graves crises económicas da sua história.
Culturalmente, a cidade fervilha. Exposições de arte, produções teatrais, concertos de música, desfiles de moda e uma das mais activas indústrias cinematográficas do mundo são impulsionadas por uma força criativa que resulta da esperança que existe em cada argentino de melhorar o estado das coisas, e também do dinheiro que é investido dentro da Argentina.
O Tango, um dos grandes ícones da cultura argentina. Espectáculos pela cidade durante toda a semana. Nos bairros mais típicos, como San Telmo e La Boca, pode assistir-se ao tradicional e genuíno tango, em espectáculos de rua. Uma das danças mais sensuais e eróticas que já presenciei, impossível de descrever por palavras, e que para ser entendida precisa de ser vista e experimentada;
A crise económica de 2001 foi como uma bênção para os pintores em Buenos Aires. Os tempos difíceis tornaram ainda mais complicado ganhar a vida a pintar, mas, por outro lado, criaram entre a comunidade artística um espírito de entreajuda que originou um novo fluxo de ideias e projectos. Hoje em dia, podem encontrar-se galerias, exposições e eventos de arte nos lugares mais improváveis e que permitem aos turistas comprar obras de qualidade a preços de saldo.
Buenos Aires é o centro da emergente indústria cinematográfica argentina. Em 2006 realizaram-se 68 filmes que obtiveram um total de 117 prémios internacionais nos mais diversos festivais mundiais. Além disso, durante 2006, 15% das salas de cinema foram ocupadas por títulos argentinos. Também o festival de cinema independente de Buenos Aires mostra a força desta indústria, com os 120 mil espectadores em 2005 e os 234 mil a nível mundial em 2006.
Em termos meramente turísticos não se pode afirmar que Buenos Aires esteja recheada de atracções dessa índole. No entanto, são dignos de realce: os maravilhosos edifícios antigos de estilo europeu do Microcentro; a feira de antiguidades aos Domingos em San Telmo; o El Caminito, a rua mais famosa da La Boca, que se encontra repleto de coloridas e pitorescas casas; o extenso Cemitério da Recoleta, de arquitectura gótica; os imensos jardins e as monumentais estátuas do bairro de Palermo; ou ainda o sub-bairro Palermo Viejo, lugar dos restaurantes e lojas mais in da cidade.
Contudo, o verdadeiro fascínio de Buenos Aires não reside nos seus locais mais turísticos ou na sua beleza arquitectónica mas sim no modo como a cidade vive e isso é, sem dúvida, o melhor que Buenos Aires tem para nos transmitir. E os grandes responsáveis por isso são, como não podia deixar de ser, os porteños (designação dada aos habitantes de Buenos Aires). Seja segunda-feira ou sábado, esteja frio ou calor, a partir das 7 da tarde e muitas vezes pela noite dentro, cafés, restaurantes, cinemas, teatros, bares ou discotecas por toda a cidade enchem-se de pessoas que conversam, discutem, riem, choram, abraçam-se, dançam, beijam-se, convivem! E é isso que se pode levar de Buenos Aires. Por isso, venham buscá-lo!
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