Quarta-feira, 3 de Outubro de 2007

Entrevista com o técnico da Delegação da AICEP de Buenos Aires, Mathias Oporto

   Frederico Gomes - AICEP, Buenos Aires, Argentina.

Frederico Gomes- Há quanto tempo trabalhas na Delegação da AICEP de Buenos Aires?

Mathias Oporto- Há quatro anos.

 

F G- Com quantos Delegados já trabalhaste?

M O- Com dois.

 

F G- Reconheces algum traço em comum nos portugueses com quem trabalhaste/ lidaste (delegados, colegas de trabalho, funcionários do Consulado/ Embaixada)?

M O- O trabalho numa Delegação da AICEP é muito diferente do trabalho num Consulado ou numa Embaixada. Os funcionários possuem diferentes atitudes em relação ao seu trabalho e existem grandes diferenças entre os trabalhadores da Delegação e os do Consulado/ Embaixada. Algumas semelhanças são:

   a) Pouca capacidade de reacção imediata face a condições adversas;

   b) Boa predisposição para o trabalho;

   c) Falta de capacidade de decisão;

   d) Boa adaptação à mudança cultural.

  

F G- Na relação de trabalho que tipo de obstáculos culturais encontraste ao lidares com portugueses?

M O- O principal obstáculo que se manifesta quase de imediato tem que ver com as expressões idiomáticas. Existem formas e modos de comunicação por parte dos portugueses que para um argentino carecem de sensibilidade e que até parecem conter, à luz da cultura argentina, uma certa agressividade, e vice-versa.

   Outro obstáculo em relação à língua diz respeito às palavras que são escritas e que se pronunciam da mesma maneira em ambos os países mas que têm um significado diferente, originando problemas na comunicação. Esta situação é, contudo, rapidamente detectável e solucionável.

 

F G- Como classificarias o tipo de relacionamento na delegação: formal, hierarquizado, informal?

M O- A Delegação encontra-se actualmente composta por um Delegado e dois funcionários (ocasionalmente contamos com a presença de um estagiário do programa INOV Contacto). Devido ao facto de ser uma Delegação pequena, o tipo de relacionamento entre as três pessoas possui características dos três tipos mencionados. A título de exemplo pode-se dizer que a cooperação necessária para cumprir as várias actividades torna o ambiente mais informal sem que isso se reflicta na hierarquia normal existente nem na formalidade utilizada no dia-a-dia.

 

F G- De que forma é que, na tua perspectiva, a tua postura influenciou a cultura organizacional da Delegação?

M O- A minha postura trouxe dinamismo a várias áreas de trabalho da Delegação e colaborei em diversas tarefas onde era importante esta postura.

 

F G- Na tua opinião achas que a cultura organizacional da Delegação é permeável aos inputs dos funcionários?

M O- Pelo facto de ser uma Delegação pequena está sempre permeável a receber inputs dos funcionários. Não é, no entanto, razão suficiente para alterações na cultura organizacional já estabelecida. Os funcionários trazem algumas influências próprias que induzem alterações no modelo de organização.

 

F G- Em relação aos empresários portugueses que conheceste quais são, na tua opinião, as suas principais vantagens ao entrarem no mercado argentino?

M O- Os empresários portugueses têm a vantagem de encontrarem um mercado com grandes semelhanças culturais. Outra vantagem tem que ver com a excelente imagem que os produtos portugueses têm no que toca à qualidade. Os empresários portugueses têm também uma boa capacidade de negociação sendo a sua forma de negociar muito bem vista por parte dos empresários argentinos.   

 

F G- E aspectos que deveriam acautelar?

M O- Os aspectos que deverão ter em conta são semelhantes aos das negociações com empresários de outros países. Isto é, utilizar os mesmos mecanismos e recursos utilizados normalmente e só depois de haver realizado vários negócios com uma mesma empresa e de ter ganho uma relação de confiança é que se poderão flexibilizar as formas de negociação.

 

F G- Três ideias/ conselhos a empresários portugueses que queiram exportar/ investir na Argentina.

M O- Investigar as possibilidades do mercado para o produto em causa. No caso de se exportar é importante ter uma representação local de forma a obter um follow-up das negociações. No caso de investimentos, é necessário encomendar um trabalho a uma consultora especializada de forma a obter informação mais detalhada sobre os passos a seguir.

Realizar visitas ao mercado, participar em feiras, realizar actividades de promoção, etc., com maior frequência de forma a obter uma presença mais destacada são tarefas indispensáveis.

publicado por visaocontacto às 11:18
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Segunda-feira, 1 de Outubro de 2007

As relações de trabalho em Portugal e no Mundo

   Samuel Janela, EFACEC - Cordoba, Argentina.

Sendo um recém-licenciado e não tendo, por isso, ainda, grande experiência de mercado de trabalho, quer em Portugal quer no estrangeiro, pude notar já algumas diferenças no que respeita a relações de trabalho em Portugal e na Argentina. Convém mencionar que, apesar de serem ambas empresas de um mesmo grupo, têm dimensões totalmente distintas e que, também por isso, as relações tendem a ter outra dimensão.

O grupo "EFACEC, maior Grupo Eléctrico Nacional de capitais portugueses" é um dos maiores players mundiais nos sectores de actividade, "tem cerca de 2000 colaboradores e factura aproximadamente 300 milhões de euros, estando presente em mais de meia centena de países e exportando cerca de metade da sua produção."

A casa mãe, em Portugal, conta já com algumas estruturas de apoio aos seus recursos humanos que, entre outras coisas, promovem a melhoria do ambiente e das relações de trabalho, através de actividades de " bonding", da melhoria constante das suas condições de trabalho, formação contínua, entre outras. Naturalmente, devido à grande dimensão da empresa, todas as relações, competências e responsabilidades estão muito bem definidas, não sendo por isso fácil que se desenvolvam relações tão abertas de amizade, havendo a tendência para o "cada um por si" ou o "eu faço o meu trabalho".

A congénere Argentina, com uma história bastante mais curta, iniciou as suas actividades no ano de 1983, como BAUEN, S.A., um "taller" (oficina) local de montagem e fabricação de equipamento electromecânico de baixa e média tensão. Desde 1997, vem sendo alvo de um investimento directo crescente, por parte da Efacec, tendo em vista a integração e dando assim seguimento à estratégia de internacionalização do grupo. A agora BAUEN EFACEC é, neste momento, uma sociedade de capitais mistos, portugueses e argentinos, detidos maioritariamente pelo grupo português e que tem como objectivo potenciar as diferentes áreas de negócio da EFACEC na América Latina e Central (contando já com exportações para o Chile, Costa Rica, Bolívia, Brasil, Peru, Porto Rico e Uruguai). Assistimos, neste momento, a um grande esforço financeiro do grupo, no sentido de uniformizar qualidade e condições de trabalho, do qual resultou a recente inauguração de uma nova fábrica (Junho de 2007 ), o respectivo "comedor" (Agosto de 2007) e ainda a implantação do sistema ERP BaaN, bem como um conjunto de ferramentas de gestão comuns a EFACEC AMT (previsto para Setembro de 2007).

Esta tentativa de uniformização tem passado, também, pela organização e todo um conjunto de comportamentos, práticas e hábitos. Se bem que a introdução de alguns costumes nossos, como o simples almoço (tornado obrigatório), tenha sido bem recebida, a tentativa de limitar, ou mesmo eliminar outros como a toma de Mate (bebida de infusão de ervas muito tradicional desta zona da América do sul – conhecido por Chimarrão no sul do Brasil ) gerou já um considerável mal estar entre os colaboradores, reforçado pelo facto de o mesmo ter sido imposto por estrangeiros. Estes factos, aliados a uma remuneração abaixo da média, tem levado a uma alta rotatividade de pessoal, exceptuando-se aqui os colaboradores mais antigos ou melhor posicionados, que se têm mantido mais ou menos estáveis.

Mais relevante que tudo isto será a mudança de hábitos de organização e rigor, motivada pela adopção, à semelhança de outras empresas do grupo, de um sistema ERP BaaN que não permite, ou no mínimo limita muito, as inconsistências de todo o género que se vinham verificando e agravando há já bastante tempo.

A nível interpessoal, sendo uma empresa de dimensões mais reduzidas, goza naturalmente de um relacionamento marcadamente mais informal, acolhedor e até familiar. A extrema centralização das tarefas, devido em grande parte a um mais reduzido número de colaboradores, obriga a uma interacção/inter-ajuda mais forte, o que vem reforçar a união do grupo.

No que respeita ao departamento de relações humanas, este é ainda muito incipiente, limitando-se basicamente ao pagamento de salários, gestão de faltas/férias, organização de convívios esporádicos e ainda a gestão do recém inaugurado refeitório.

Apesar da enorme semelhança cultural, esta tentativa de importação taxativa do modelo Português para a Argentina, tem gerado alguns conflitos, que já seriam espectáveis.

publicado por visaocontacto às 18:01
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Segunda-feira, 11 de Junho de 2007

Os Vinhos no país do Tango.

   Ana Mesquita, Sogrape, Buenos Aires, Argentina.

 

 

 
“Pero siempre he sentido que hay algo en Buenos Aires que me gusta. Me gusta tanto que no me gusta que le guste a otras personas. Es un amor así, celoso”
Jorge Luis Borges
 
Como estagiária do ICEP na Argentina - Buenos Aires, seria impensável falar desta cidade e deste país sem enunciar o grande autor e poeta Jorge Luis Borges que tão bem retratou esta capital no século passado com o seu livro de Poemas “Fervor de Buenos Aires” (1923). E “fervor” será o adjectivo que persiste até hoje nesta cidade considerada a Paris da América Latina, que pela sua diversidade de culturas tem o encanto não só dos argentinos, mas também dos espanhóis, ingleses, franceses, italianos e até judeus que após a Segunda Guerra Mundial se refugiaram neste canto latino-americano. E assim é Buenos Aires, mergulhada num país marcado pela ditadura, pela instabilidade político-social e até recentemente por uma profunda crise financeira. Mas a Argentina é hoje uma roda em movimento a tentar reconquistar o seu equilíbrio e a sua posição na América Latina, estando esse esforço claramente presente num sector que tão bem representa este País: O Sector dos Vinhos.
As “Bodegas” (Caves) Argentinas têm vindo a apostar fortemente no seu posicionamento não só a nível nacional mas também no estrangeiro, sendo em alguns casos o principal mercado, o da exportação.
Considerados como “Vinhos do Novo Mundo”, os vinhos argentinos são sobretudo oriundos da região de Mendoza, localizada nos Andes, e que pela sua especificidade climatérica confere aos vinhos um aroma e sabor inigualáveis.
E será nesta qualidade e tipicidade que as Bodegas alavancam o seu potencial turístico. Com a entrada anual de 3,2 milhões de turistas em território argentino, e com 2% dos visitantes dedicados ao turismo enológico, não será surpreendente o facto de todas as bodegas contarem com um circuito turístico pelas vinhas, pela cave e por fim, com uma prova de vinhos. Mas há bodegas que vão mais longe. Actualmente quem se interessar pela arte do vinho, pode participar na dura jornada das vindimas, na poda das vinhas ou até num curso de vinhos, contando ainda com um restaurante típico da região onde se poderá usufruir dos pratos mais característicos acompanhados pelo vinho ideal para a ocasião. Mas as oportunidades de apreciar esta cultura que é a do vinho, não terminam aqui. Existem inclusivamente bodegas que já contam, entre os seus serviços, com um pequeno hotel, onde na cave, à temperatura e humidade exactas, descansam os melhores vinhos da região. Considerados como verdadeiros “Hotéis do Vinho”, este é já um serviço quase obrigatório para as mais prestigiadas bodegas argentinas, pois é uma excelente forma de, num ambiente cálido e acolhedor, o visitante provar e desfrutar dos melhores vinhos, proporcionando-lhe assim uma experiência única e inesquecível.
Perante todo este esforço de crescimento argentino, será que Portugal pode aprender com os seus exemplos desenvolvendo ainda mais a sua vertente de turismo enológico? Afinal, com a entrada anual de mais 12 milhões de turistas, e sendo o sector dos vinhos um dos mais característicos do nosso país, reúnem-se todas as condições para que sejamos um verdadeiro exemplo nesta área que é o Enoturismo.
publicado por visaocontacto às 17:07
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Buenos Aires é agora!

   Pedro Curral,

Câmara de Comércio, Buenos Aires, Argentina.

 

Se nunca visitaram Buenos Aires, então esta é a melhor altura para o fazerem. A súbita queda do peso em 2001 tornou uma das capitais mais caras do mundo numa das mais baratas, ao que se pode juntar toda uma energia própria de uma cidade e nação que tenta reerguer-se após uma das mais graves crises económicas da sua história.

 

Culturalmente, a cidade fervilha. Exposições de arte, produções teatrais, concertos de música, desfiles de moda e uma das mais activas indústrias cinematográficas do mundo são impulsionadas por uma força criativa que resulta da esperança que existe em cada argentino de melhorar o estado das coisas, e também do dinheiro que é investido dentro da Argentina.

O Tango, um dos grandes ícones da cultura argentina. Espectáculos pela cidade durante toda a semana. Nos bairros mais típicos, como San Telmo e La Boca, pode assistir-se ao tradicional e genuíno tango, em espectáculos de rua. Uma das danças mais sensuais e eróticas que já presenciei, impossível de descrever por palavras, e que para ser entendida precisa de ser vista e experimentada;

A crise económica de 2001 foi como uma bênção para os pintores em Buenos Aires. Os tempos difíceis tornaram ainda mais complicado ganhar a vida a pintar, mas, por outro lado, criaram entre a comunidade artística um espírito de entreajuda que originou um novo fluxo de ideias e projectos. Hoje em dia, podem encontrar-se galerias, exposições e eventos de arte nos lugares mais improváveis e que permitem aos turistas comprar obras de qualidade a preços de saldo.

Buenos Aires é o centro da emergente indústria cinematográfica argentina. Em 2006 realizaram-se 68 filmes que obtiveram um total de 117 prémios internacionais nos mais diversos festivais mundiais. Além disso, durante 2006, 15% das salas de cinema foram ocupadas por títulos argentinos. Também o festival de cinema independente de Buenos Aires mostra a força desta indústria, com os 120 mil espectadores em 2005 e os 234 mil a nível mundial em 2006. 

 

Em termos meramente turísticos não se pode afirmar que Buenos Aires esteja recheada de atracções dessa índole. No entanto, são dignos de realce: os maravilhosos edifícios antigos de estilo europeu do Microcentro; a feira de antiguidades aos Domingos em San Telmo; o El Caminito, a rua mais famosa da La Boca, que se encontra repleto de coloridas e pitorescas casas; o extenso Cemitério da Recoleta, de arquitectura gótica; os imensos jardins e as monumentais estátuas do bairro de Palermo; ou ainda o sub-bairro Palermo Viejo, lugar dos restaurantes e lojas mais in da cidade.

 

Contudo, o verdadeiro fascínio de Buenos Aires não reside nos seus locais mais turísticos ou na sua beleza arquitectónica mas sim no modo como a cidade vive e isso é, sem dúvida, o melhor que Buenos Aires tem para nos transmitir. E os grandes responsáveis por isso são, como não podia deixar de ser, os porteños (designação dada aos habitantes de Buenos Aires). Seja segunda-feira ou sábado, esteja frio ou calor, a partir das 7 da tarde e muitas vezes pela noite dentro, cafés, restaurantes, cinemas, teatros, bares ou discotecas por toda a cidade enchem-se de pessoas que conversam, discutem, riem, choram, abraçam-se, dançam, beijam-se, convivem! E é isso que se pode levar de Buenos Aires. Por isso, venham buscá-lo!

publicado por visaocontacto às 15:21
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