Sexta-feira, 26 de Junho de 2009

Guanxi, um elemento essencial nos negócios chineses

A cultura chinesa distingue-se da ocidental em muitas maneiras, e a forma como os negócios são conduzidos não é excepção.  Se queremos perceber quem manda na China, hoje em dia, temos que entender o significado da palavra guanxi. Traduzida literalmente, significa contactos. Mas é muito mais do que ter frequentado a mesma escola. Na Europa ou na América quem se conhece pode ajudar a arranjar um emprego, ou fazer entrar um filho numa boa escola. Na China, com quem se tenha guanxi pode significar a diferença entre liberdade ou cadeia, justiça ou discriminação, fortuna ou pobreza.

O termo chinês guanxi, traduzido, significa relacionamento e serve para qualquer tipo de relação. Mas no mundo empresarial chinês é entendido como a rede de contactos e conhecimentos entre várias partes que cooperam juntas e se apoiam umas às outras.

Guanxi é uma expressão fundamental e designa a complexa rede de relações indispensáveis ao funcionamento social, político e organizacional na China. Guanxi descreve a dinâmica básica na natureza complexa das redes de contactos influentes e relações sociais e o seu conceito central na sociedade chinesa. A mentalidade do empresário chinês é muito do género “Toma lá, dá cá”. Em suma, isto resume-se na troca de favores, que são esperados regular e voluntariamente.

Na sua forma mais básica, guanxi descreve uma ligação pessoal entre duas pessoas em que uma poderá realizar um favor ou serviço à outra. Guanxi também pode ser usado para descrever uma rede de contactos, com a qual um indivíduo pode contar quando algo precisa de ser feito, e através da qual ele pode exercer influência em benefício de outrem. O termo não é geralmente usado para descrever relações familiares, embora as obrigações guanxi possam ser descritas em termos duma família extensa. Também não é usado para descrever relações que possam encaixar noutro tipo de relações sociais já bem definido (patrão-empregado; estudante-professor; amizade). Os relacionamentos formados através do guanxi são pessoais e não transmissíveis.

Portanto, é um conceito importante para se aprender e entender se alguém quer funcionar correctamente e fazer negócios na sociedade chinesa. Considerando o crescimento da China, esta é, provavelmente, uma boa ideia. 

A importância do guanxi

Independentemente da experiência de negócios no seu país natal, na China é o guanxi certo que faz toda a diferença para assegurar que o negócio vai ter sucesso. Ao ter o guanxi certo, a organização minimiza os riscos, frustrações e desilusões ao ter negócios na china.

Frequentemente, é adquirindo o guanxi certo com as autoridades relevantes que se vai determinar o posicionamento competitivo de uma organização a longo prazo na China. Além disso, os riscos inevitáveis, as barreiras e armadilhas que se vão encontrar na China, serão minimizados quando se tem a rede de guanxi certa a trabalhar para nós. É por isso que o guanxi certo é tão vital para qualquer estratégia de negócio de sucesso na China.

Embora desenvolver e manter o guanxi na China seja muito exigente a nível de tempo e recursos, esse tempo e dinheiro necessários para estabelecer uma rede forte de contactos vale bem o investimento. O que o negócio pode obter em retorno através dos favores para os seus parceiros é, muitas vezes, muito mais valioso, especialmente a longo prazo, ou se se está em apuros. Até negócios familiares, na China, estabelecem vastas redes com os seus fornecedores, retalhistas, bancos e oficiais do governo local. É muito comum que indivíduos de uma organização visitem as casas dos seus conhecidos de outras organizações, trazendo presentes (como vinho, cigarros, etc). Apesar deste hábito poder parecer intrusivo, à medida que vamos aprendendo a cultura chinesa, torna-se mais fácil de entender e fazer parte deste costume que é tão central para o sucesso duma actividade comercial chinesa. 

Os chineses preferem lidar com pessoas que conhecem e confiam quando se trata de fazer negócios. Apesar de parecer não ser muito diferente de fazer negócios no mundo ocidental, esta confiança imensa nos relacionamentos significa que as companhias ocidentais têm que se dar a conhecer aos chineses, antes que qualquer negócio possa ter lugar. Além disso, esta relação não é simplesmente entre empresas mas também entre indivíduos, a um nível pessoal. A empresa tem de manter esta relação se quiser fazer mais negócios com os chineses.

Em primeiro lugar, o guanxi não tem de ser baseado em dinheiro. Tratar alguém com decência, quando outros o tratam injustamente, pode resultar numa boa relação. Segundo, começa com, e é construído, através da fidedignidade do indivíduo ou da empresa. Em terceiro lugar, ser confiável e fidedigno definitivamente vai reforçar a relação. É como serem amigos, e os amigos podem contar um com o outro nos bons e maus momentos. Quarto, contactos frequentes entre eles fomentam o entendimento e os laços emocionais e os chineses frequentemente sentem-se obrigados a fazer negócios com os amigos primeiro.

No contexto chinês, o guanxi assume um carácter muito semelhante ao contrato no caso da empresa ocidental, em geral representado por pessoas ou entidades. Quando alguém faz um pedido a um detentor de recursos (quaisquer que eles sejam), este, ao invés de se debruçar sobre um papel, considera o tipo de guanxi existente entre ambos, para depois adoptar comportamento de acordo com regras específicas de interacção social. Se não se conhecer o detentor de recursos, pode ser solicitada a intervenção de um intermediário, de preferência de posição elevada.

O guanxi é usado como uma fonte de conhecimentos e especializações, para encontrar parceiros de negócios e fornecedores. Outras razões são arranjar melhores relações de maneira a criar novos negócios e gerar novos clientes. Através de referências, as oportunidades surgem e apoiam o negócio. Guanxi é também usado para cooperar, estar informado, e manter clientes existentes. Consultoras também usam guanxi para ajudar, fazer acordos negociais, explorar compradores potenciais e como uma ferramenta de marketing.

O guanxi é completamente legal na cultura chinesa e não considerado como suborno de qualquer forma. Por isso, não há necessidade nenhuma de nos sentirmos desconfortáveis em relação a isso. Mas, por vezes, as obrigações guanxi têm precedência sobre deveres civis, levando ao nepotismo e amiguismo. Quando uma rede guanxi quebra regras burocráticas, pode levar a corrupção.

E há também riscos neste sistema. Quando alguma coisa corre mal, as relações são desafiadas, e as amizades rapidamente desaparecem. Guanxi pode também ser muito unilateral. Quando está envolvido guanxi, existe o risco de obter uma factura com o dobro do valor pelo qual se negociou.

Curiosidade: A resposta mais comum para aceitação de uma desculpa em Mandarin é  méi(yǒu) guānxi , que literalmente traduzido significa “não tem guanxi” (implicações).

O desenrascanço à portuguesa

A propósito de características culturais, e como nota final, refiro-me agora a uma grande tendência portuguesa, que muito jeito nos dá (e falo por experiência própria) quando decidimos embarcar em aventuras na China.

Um site norte-americano fez uma lista das 10 palavras estrangeiras que mais falta fazem à língua inglesa. A palavra portuguesa "desenrascanço" é a que lidera (ilustrada com o protagonista da série MacGyver).

“Desenrascanço: a arte de encontrar a solução para um problema no último minuto, sem planeamento e sem meios. O que é interessante sobre o desenrascanço - a palavra portuguesa para estas soluções de último minuto - é o que ela revela sobre essa cultura. Enquanto a maioria de nós crescemos sob o lema dos escuteiros 'sempre preparados', os portugueses fazem exactamente o contrário. Conseguir uma improvisação de última hora que, não se sabe bem como, mas funciona, é o que eles consideram como uma das aptidões mais valiosas: até a ensinam na universidade e nas forças armadas. Eles acreditam que esta capacidade tem sido a chave da sua sobrevivência durante séculos. E não se ria: a uma dada altura eles conseguiram construir um império que se estendeu do Brasil às Filipinas. Que se lixe a preparação. Eles têm desenrascanço".

E não é que temos mesmo? 

 

Maria João Bacelar | C13

Shaoxing Lorenz Bell

Shaoxing | China

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Segunda-feira, 1 de Junho de 2009

Pequenos homens com grandes ideias

Pedro Leite |  C13

 
  Global Wines
 
  China
 

Tudo começa com o friozinho na barriga quando se ouve China, no último dia do campus em Lisboa.

Então, depois de tantos dias de dúvida, vou para o outro lado do mundo? A Resposta era China.

A curiosidade era tal, que só pensava nas palavras da minha mãe: Não me importo que vás para qualquer parte do mundo….menos a China! Acertou em cheio!

 

Das palpitações sentidas na partida até ao entusiasmo da chegada ao Continente Chinês foi um passo.

Os medos tornaram-se desafios e Macau transformou-se na minha casa.

Descobri, pouco a pouco, que a China é o País mais seguro onde já estive e sem dúvida o mais bonito e misterioso.

Descobri que o livro de instruções “Bem-vindos à China” não ajuda.

Descobri que o tempo passa rapidamente e é preciso mais do que um tempo para apreciar toda a cultura que nos invade diariamente.

A sua beleza é tal, que viver deste lado assegura-nos dias de perplexidade constante, a cada momento, dando-nos a sensação de que vivemos numa película de um qualquer realizador chinês.

Na China, a cultura e o respeito são valores que se superiorizam a todos os outros.

 

Quando falamos em 1.3 biliões de chineses e de potenciais consumidores, falamos inevitavelmente das suas relações e da sua cultura.

Os chineses são um povo que gostam do exercício, da natureza e do culto da saúde.

Adoram passear e fazer compras nas feiras das cidades onde vivem. Regatear preços é uma forma de convívio e não deve ser encarado com forma de enganar os Ocidentais. É apenas mais um jogo de equilíbrio.

Desde o nascer do sol até o anoitecer, todo o mundo parece concentrado aqui, é a hora dos chineses, é a hora das compras, é a hora de produzir. E como se pode viver em crise, quando se produz para o mundo?

 

Olhando com atenção percebemos que as ruas aqui têm apenas um sentido. O sentido do trabalho árduo e da vontade de vencer. É o desejo que cada chinês, vencer através do Just business, numa filosofia tão própria que só é entendível para quem aqui permanece.

Aqui encontra-se de tudo. As fábricas tudo produzem e os mercados tudo vendem e, geralmente, é regra dos chineses, quando mais fresco, melhor!

As relações entre chineses são estranhas, o tacto está proibido e os beijos excluídos. Apenas o aperto de mão é aceite como forma de apresentação formal.

As conversas são de circunstância, até com os melhores amigos. Fica a sensação que estamos sempre no elevador a perguntar como está o tempo.

A família é assunto tabu. Respeitam a distância e as perguntas incómodas.

 

Talvez o mais importante que aprendi, é que eles marcam o ritmo. Não vale a pena forçar os chineses quando o objectivo é estabelecer relações e criar negócios. Pois eles têm o seu próprio cronograma.

Os chineses são muito reservados, cortam nas conversas, mas deixam sempre uma porta aberta. São tímidos mas saem à rua de pijama (sinal de abastança e de que se dorme em camas confortáveis).

Embora se afirme que os sorrisos chineses são donos de uma falsidade acrescida, no meu entender, os chineses com quem tive o prazer de lidar, adoram sorrir e brincar, demonstrado prazer e alegria.

 

Outra nota importante é não levar a mal quando nos empurram do elevador para fora, entendi sempre isto como um sinal de cordialidade. Pois eles não fazem ideia da força que usam para ceder a passagem.

 

A importância da mesa e da gastronomia nacional nas diferentes regiões é mais importante na China do que em qualquer outro lugar.

Comer arroz ou vegetais é motivo de orgulho! E regionalismos não se aplicam quando a hora é de sentar à mesa.

Os chineses gostam de jantar em conjunto e, quantos mais, melhor. Para ocasiões especiais alugam salas privadas, pois não gostam de pedir pratos caros ou beber o melhor vinho do restaurante na presença de estranhos, com medo de serem contestados (isto prova a teoria de timidez e preocupação social).

Uma coisa muito importante na China é o respeito pelos mais velhos. Estes devem ser tratados com o devido respeito, fruto da idade e do saber conquistado.

É imperativo baixar sempre o copo quando brindamos com pessoas mais velhas ou mais experientes, colocar o copo numa altura superior da pessoa com quem brindamos é sinal de desrespeito.

 

Cada vez mais, o processo de aculturação para um Ocidental tende a aligeirar-se devido à rápida abertura da China ao mundo. Novos hábitos, novas ideias e novas formas de convívio são cada vez mais bem-vindas.

E, embora me pareça que estamos perante um povo ainda pouco moldado, os chineses têm uma força que assusta.

 

A China que, outrora foi exportadora, obtendo um rápido crescimento económico vendendo para os EUA, assume hoje uma realidade bem diferente.

Estando esta ânsia compradora americana mais calma, a China já investe 45% da riqueza produzida, sobretudo em Infra-estruturas.

As taxas de crescimento de dois dígitos para uns possíveis 8%, não assustam. É imperativo assegurar a saúde, o trabalho, a segurança social e a distribuição da riqueza/oportunidades a todos, relançando o consumo interno. Mas o campeonato do crescimento parece mais direccionado para uma presença ainda mais forte do estado na economia.

 

Em suma, devemos perceber que estamos perante uma terra de pequenos homens com grandes ideias e que a China é uma terra de cerimónias e propriedades. E quem respeita as boas maneiras são os mais capazes e os detentores de um coração puro e bondoso.

 

É assim deste lado, centenas de contradições num local que aspira a ser o pulmão económico do mundo onde vivemos.

 

China is the spring when the world is in the winter...

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Domingo, 5 de Abril de 2009

Mecanismos de Formalização de empresas na China

Liliana António | C13

Aicep

Pequim | China

 

No cenário actual da crise económico-financeira, a China é um dos países mais atractivos para o investimento externo. Com efeito, nos últimos anos, a China tem tido um crescimento económico acentuado, sendo que os efeitos da crise económico-financeira mundial se resumem ao crescimento do PIB de “apenas” 9% em 2008. Para os próximos anos prevê-se abrandamento significativo mas, ainda assim, com fortes taxas de crescimento, em nada semelhantes às recessões projectadas para EUA, UE e Japão.

Contudo, a acentuada burocracia e a constante alteração do enquadramento legal são factores que complicam o processo de entrada no mercado chinês. Acresce que o sistema legal Chinês apresenta algumas carências no que diz respeito à implementação e aplicação efectiva das leis e regulamentações, factor a que devemos adicionar as especificidades das normas estabelecidas a nível regional e local.

A entrada no mercado chinês pode ser efectuada de uma das seguintes formas: escritório de representação, joint-venture e wholly-owned foreign enterprise (WOFE). Não é possível identificar uma entidade legal perfeita, sendo que cada um dos modelos tem vantagens e desvantagens, consoante o âmbito de negócio, bem como uma moldura legal diferente.

O Escritório de Representação é a entidade legal mais simples, funcionando como elo de ligação entre a “empresa mãe” e o mercado chinês. Não é necessário um capital mínimo de investimento, contudo apenas poderá realizar estudos de mercado e desenvolver parcerias. Todas as transacções terão de ser oficialmente geridas e facturadas pela “empresa mãe”. Refira-se que os Escritórios de Representação não podem contratar colaboradores locais directamente, tendo, para o efeito, de recorrer aos serviços de agências de emprego autorizadas pelo governo. O Escritório de Representação é a opção mais indicada para empresas com reduzida experiência e conhecimentos sobre o mercado.

As Joint Venture são empresas de capital misto (estrangeiro e chinês), sendo que, em algumas áreas de actividade é exigido que a maioria do capital seja chinês. As Joint Ventures têm responsabilidade limitada e prevêem a necessidade de acordo de todos os parceiros em caso de transferência de quotas. A distribuição de lucros e mais-valias provenientes da alienação de bens, bem como a representatividade no Conselho de Administração e a responsabilidade de cada um dos sócios dependem do tipo de Joint Venture (Equity Joint-Venture – considerando o montante investido por cada uma das partes  ou Contractual Joint Venture – em que os direitos e obrigações são estabelecidos mediante acordo no momento da constituição da sociedade). Esta opção poderá ser  vantajosa no caso de o know-how e condições de acesso ao mercado proporcionadas pelo parceiro local serem determinantes para o desenvolvimento do negócio. Em todo o caso, os empresários deverão prestar particular atenção ao acordo de parceria no processo de registo.

As Wholly-Owned Foreign Enterprises são empresas cujo capital social é detido na totalidade por uma entidade estrangeira e cuja responsabilidade está limitada ao Capital Social registado. As WOFE podem realizar estudos de mercado, desenvolver parcerias, estabelecer trocas comerciais e recrutar colaboradores locais. Apenas é possível constituir WOFE em determinadas áreas de negócios. Contudo, o estado chinês tem vindo a permitir a constituição de WOFE em novos sectores de actividade em conformidade com os compromissos assumidos com a OMC. Em resultado, a preponderância das Joint Ventures, face às WOFE, tem vindo a decrescer ao longo dos últimos anos.

Numa primeira abordagem ao mercado chinês, é necessário estabelecer uma estrutura básica de operações que possa conduzir todo o trabalho de pesquisa e preparação antes de estabelecer uma estrutura operacional autónoma na China. Em regra, o processo de estabelecimento de uma entidade legal na China é moroso e complexo, sendo altamente aconselhável que todo o processo seja conduzido com acompanhamento profissional de empresas especializadas.

 

Legislação relevante: Company Law; Contract Law; Copyright Law Arbitration Law; Trademark Law Intellectual Property Law; Labor Law The Provisional Regulations on Value-Added Tax- The Provisional Regulations on Consumption Tax;The Provisional Regulations on Business Tax, and, other related laws and regulations; Insurance Law; Law of Chinese-Foreign Equity Joint Ventures and its implementation regulations; Law of Chinese-Foreign Contractual Joint Ventures and its implementation regulations; Law of Wholly-Owned Foreign Enterprise and its implementation regulations; Law of Foreign-invested enterprises, the income tax and its implementation regulation

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Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2009

Todos sabem que existe mas nunca ninguém o viu

Alfredo Morgado Russo | C12
Lorenz Bell

Shaoxing | China

 

Na atribuição de estágios, que destinou a nossa sorte, fui colocado na China. Perfeito! Era um dos países que ambicionava. Dentro da China a cidade que me acolheu foi Shaoxing, uma pequena cidade de 4 milhões de habitantes, trespassada por canais e que hoje vive sobretudo de têxteis. Claro que nem tudo são fabrics nem garments, no passado foi a morada de Lu Xun, o Shakespeare chinês, e hoje existem muitas outras fábricas (e de dimensão respeitável) de vidro, aço, electrónica e, claro, etiquetas de papel.

Foi à fábrica de etiquetas que vim parar, a Lorenz Bell. Eu, que apesar de ter vivido 4/5 da minha vida numa cidade com fortes tradições de papel, apenas sabia que o papel se vendia em resmas (500 folhas) e que poderia ter tamanhos e gramagens diferentes. Tudo o resto era um mundo paralelo que eu desconhecia e que, aqui para nós não fazia a mínima intenção de conhecer. Rapidamente descobri que os tamanhos das folhas dependem do sheeter, e os formatos das etiquetas do cutter – pode ser em cilindro fixo ou em cilindro magnético – que Glassine e Kraft não são tipos de música nem marcas de sapatos, mas sim tipos de papel de suporte utilizados em conjunto com o papel autocolante. Mas nem tudo foi assim tão fácil como a aprendizagem sobre etiquetas.

 

A chegada à China, em particular a Shaoxing foi um choque, que vai tendo pequenas réplicas, embora ligeiras. As diferenças entre culturas são algo de extremamente profundo, quer a nível social, quer a nível profissional. A minha formação base é gestão de empresas, mas, depois, fui-me especializando na área financeira. Apesar de ter marcado corporate finance como azimute, por motivos pessoais e profissionais estive intimamente ligado à gestão de empresas, nomeadamente empresas fabris. Logo, a proposta que me foi feita não parecia hercúlea. Supervisionar a empresa na China, coordenando todas as áreas operacionais e fazer os reports à empresa-mãe em Portugal. Apenas chegado apercebi-me do quão enganado estava. A língua, obviamente, é um grande problema, principalmente quando além de termos línguas diferentes, temos dentro da mesma língua dialectos diferentes. Uma coisa é a brincadeira entre “alfacinhas” e “tripeiros” com sotaques, outra é, dentro do mesmo país, da mesma província, não se entenderem. Claro, que para quem está a tentar aprender uma língua torna-se impossível. A solução encontrada foi ter aulas de mandarim. Como o essencial é a comunicação oral, atalhei os caracteres e comecei pelo pinyin. Claro que ainda hoje o meu chinês é muito reduzido, mas ajuda em algumas situações na empresa. Outros problemas surgiram sempre em torno da eficácia e da eficiência. Eu, à semelhança de tantos outros, pensava que o povo chinês era na sua grande maioria eficaz e eficiente. Bastava ver as cópias fiéis que produzem e as quantidades e variedades que exportam. Concluí que esses chineses que eu pensava existirem, são como o lince da Malcata, todos sabem que existe mas nunca ninguém o viu. Claro que outra dificuldade que sempre surgiu foi a burocracia e dualidade de critérios. Tudo necessita de pedidos em triplicado, para Governments diferentes, sempre acompanhados pelos carimbos, impressos e licenças. A dualidade de critérios entre empresas chinesas e WFOE (Wholly Foreign Owned Enterprise), é ainda hoje chocante. Por exemplo, em empréstimos bancários. Embora as directivas da SAFE (State Administration of Foreign Exchange) sejam muito claras, e preenchamos todos os requisitos, os bancos não permitem o crédito, aliás, não permitem que façamos o pedido de crédito. Assim se passam tardes inteiras nos bancos, a ouvir desculpas variadas, nunca fundamentadas. Aos poucos, as dificuldades vão-se ultrapassando, claro que surgem novas, mas vamos aprendendo com situações passadas.

Outro factor em que pensamos quando falamos na China é o baixo custo de produção. Mas também o barato está a acabar. Não só pelos problemas relacionados com a eficácia e a eficiência acima referidos, mas também com a inflação e as novas leis laborais. São já muitas as empresas estrangeiras a deslocalizarem-se para países vizinhos, e muitas são as empresas nativas que cessam actividade, por deixarem de ser competitivas. Não pretendo de todo desencorajar o investimento na China, com esta visão gostaria de mostrar um lado da China que nem sempre transparece ao Ocidente.

Na generalidade apenas temos conhecimento dos milhões que exportam e da sua capacidade de cópia, o que nos leva a crer que é tudo fácil, simples e barato. Mas não é!!!

Deixo um livro como sugestão para que melhor compreendam estes problemas da China: Mr. China by Tim Clissold Nov 2004.

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Quinta-feira, 17 de Julho de 2008

Em Directo do Império do Meio

 

  Vera Penêda

 

  Agência Lusa  |  Pequim  |  China  |  C11

 

 

Fiquei com os olhos em bico.

 

O choque de transferir uma vida de Lisboa para Pequim tem a dimensão da ignorância.

 

Nos primeiros dias da estadia, enfrentei a poluição que esconde o sol, um trânsito inacreditavelmente caótico, a dificuldade de comunicar sem saber uma palavra da língua dos cinco tons, o buraco no chão a substituir a sanita e a aventura de provar noodles (realmente chineses) à mesa. Depois descobri que é difícil encontrar cereais no supermercado, que se pagam 10 renminbi (cerca de 90 cêntimos) pelo táxi, que os elevadores passam directamente do terceiro para o quinto piso porque o número 4 dá má sorte e ainda que ter no bolso a morada escrita em chinês é a única forma correcta para se chegar ao destino.

 

Entretanto os contrastes assaltaram-me a vista. Todos os meios de comunicação são controlados pelo estado, mas a versão alternativa do Harry Potter, que inclui sexo e violência, encontra-se à venda na rua. Não existem multas na estrada, mas existe a pena de morte. Os internautas chineses procuram formas alternativas de entrar na wikipédia e no blogspot, mas facilmente encontram on-line a versão integral de "Lust, Caution" ou “Lost in Beijing”, os últimos filmes proibidos pelas autoridades. Um menu MacDonald's custa 18 renminbi (cerca de 1,69) e é preciso trabalhar 20 anos para ter direito a 15 dias de férias por ano, e o HiPiHi, a versão chinesa do Second Life, está a chegar com restrições na utilização de palavras que prejudiquem os interesses da nação. Homens, mulheres e crianças cospem no chão no meio da rua, mas o governo chinês treinou 8000 voluntários para sorrirem aos visitantes que vêem para os Jogos Olímpicos - JO. Sorte a minha que, até o governo chinês tem que utilizar e-mail e Internet, aproveitando eu o "pecado tecnológico" para enviar estas e outras histórias para lá da China.

 

2008, está a ser, um ano cheio de China...intempéries, protestos, sismo e agora os JO. Pequim é o centro do mundo. É uma sorte, ser espectadora e observar como a capital chinesa saiu da casca e virou metrópole para receber os JO. É uma aventura ser estrangeira e sentir como uma cultura tão distinta anseia por se internacionalizar agarrada às suas tradições. É uma peripécia ser jornalista com acesso à informação privilegiada para afrontar a censura de um país. É uma experiência única ser participante nas mudanças de um gigante com poder para influenciar o mundo.

A sorte e a vontade fizeram-me aterrar no Oriente. A diferença e a novidade ensinaram-me que a China não se esgota. As pessoas que cruzam o meu caminho, fazem-me sentir que este mundo também pode ser a minha casa, e todos os dias ainda me revolto e me apaixono pela China.

 

Mas a culpa talvez seja quase toda da curiosidade, um vício que faz ficar por cá, para viver num Império tão distinto e desconhecido, onde todos os dias há surpresas que, para mim, também são notícias. Para já, vou continuar em directo...de Beijing.

 

 

 

 

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Sábado, 26 de Abril de 2008

Overcoming the great wall

José Pedro Rocha

CHINAMATE (Xian) Natural Products Co., Ltd.

Xi'an - China.

 

The People’s Republic of China (PRC) is seen by foreign investors as a country of opportunity. The annual double digit growth of the GDP registered in recent years as well as a demonstrated breaking away from the past, both in Chinese mentality and behaviour, have led to this conclusion on the part of investors.

These key factors are the result of the social and economic changes undertaken by the Communist Party of China (CPC) during the past few decades. This single-party state form of government has been able, while maintaining the essence of its communist framework, to enforce the Chinese presence within the global economy and to seamlessly modernize its society, both giving the country a global image and significant market share and making it accessible and more attractive to the investors. One country, two systems…!

Although many political, economical and juridical barriers have been abolished fomenting foreign investment in the country, there are still many issues to be taken into account by global investors when considering an investment in the PRC. Its unique business atmosphere, although desired by investors, raises a wall that is often impossible to overcome.

When planning an investment in China several factors must be considered in order to choose the structure, among the ones available, that best suits the needs and strategy of the investors. The most commonly used gateways for introducing foreign capital into China are the setting up of a Wholly Foreign Owned Enterprise (WFOE), the creation of a Joint-Venture with a local company and the Merging with or the Acquisition (M&A) of a Chinese company. Although these are widely used strategies for internationalization, the complexity of the choice resides on the multiplicity of different advantages and disadvantages associated with the implementation of any of them in the PRC.

Setting up a WFOE is like diving into an unknown sea. Although there is plenty of information regarding China and its business environment available on economic forums as well as in the media, what really matters is what the investor will find and feel and how they will perform on a business field full of players willing to win at any cost. Small and medium-sized foreign investors often face a tremendous challenge when adopting this market penetration strategy mostly because of the cultural roadblocks they will encounter.

A country founded on close personal relationships, the dubiousness of signed and stamped contracts, the complex web of bureaucratic processes, the multitude of white wine irrigated meetings that managers have to attend and a “step by step” mentality can make it more difficult for foreign investors to scale the wall by themselves, that is, without the cooperation of any Chinese public or private entity.

Additionally, the implemented CPC regulations to attract foreign investment have not yet achieved their intended effectiveness, resulting in a huge challenge to access all available information. Furthermore, since each provincial government has the right to customize some of the national regulations, the investors are regularly entangled in constantly reforming regulations which often hinder the establishment of foreign investment.

Succeeding as a WFOE in an exponentially growing economy such as the PRC may result in huge profits and leverage the investors’ global investment to a worldwide level. Although, it is important to be aware of the significance of relationships and communication skills and to be persistent in order to reach the intended goals.

A Joint-Venture allows the investor to overcome many of the problems linked to a WFOE such as the lack of knowledge in navigating the business field in the PRC and to benefit from a relationship network and a pre-established reputation cultivated over the years by the local partner. The investor must be prepared to share its know-how which can often be very risky when dealing with local businessmen. Cases of plagiarism, where a local partner starts-up a shadow business locally, are common in the PRC since the regulations are not as protective as would be desired.

The decades of direct governance by the CPC have infused Chinese citizens with a lack of initiative. If the foreign investor doesn’t want to steer the joint venture alone and to profit as much as possible from the local partner´s knowledge, a participative management strategy must be implemented.

If the foreign investor wishes a more agile entrance, a strategy of M&A may be the best option. The possibility to use the assets of the target company, such as market channels or business expansion strategy may be considered a very important goodwill when entering Chinese market.

However, such implementation techniques require a difficult approval process from several authorities and to avoid surprises it is essential to undertake legal and financial due diligence in order to clarify items such as real estate ownership. Those foreign investors who do not pay the necessary attention to the different stages of the negotiation and authorization processes may be easily discouraged.

Whether the investment is implemented as a WFOE, created by a Joint-Venture or performed as an M&A entrance strategy, no matter the investment origin or its industry, the PRC is indeed a country of opportunity. The pre-investment knowledge, the design of a consistent but flexible strategy, the prerequisite of cultural adaptation skills and the will and ability to participate in a highly competitive market where the rules are often settled by its players are the key steps to overcome the great wall.

 

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Quarta-feira, 23 de Abril de 2008

Hovione - Porquê Macau?

   Marta Órfão - Hovione, Macau - China.

 

 

Hovione, HOrty, VIllax and ONody, deriva do nome dos três cientistas húngaros que fundaram inicialmente esta empresa em Portugal, tendo sido o seu principal fundador o químico, Ivan Villax, que, já na altura, estava envolvido na investigação de antibióticos e corticosteróides anti-inflamatórios.

 

O meu estágio, como engenheira química, tem-se desenrolado no departamento de qualidade desta empresa. Esta área tem uma importância extrema para a Hovione, porque fabrica princípios activos que serão à posteriori usados como parte integrante de medicamentos destinados ao ser humano. A tal acresce o facto de uma grande parte dos produtos que fabrica serem destinados à indústria farmacêutica dos Estados Unidos da América, motivo pelo qual necessita de estar permanentemente acreditada pelo FDA (Federal Drug Administration - agência norte-americana que controla a produção de alimentos e de medicamentos e comummente conhecida pelo seu elevado rigor).

 

A empresa tem evoluído bastante ao longo dos tempos, tanto a nível da produção como da investigação e desenvolvimento na área dos API’s (Active Pharmaceutical Ingredients), tendo sentido a necessidade de se internacionalizar e expandir as suas actividades por outros continentes, tentando fazê-lo de uma forma estratégica.

 

 

 

Surge então o seu aparecimento em Macau. E porquê Macau? Porque apesar de ser uma empresa que exporta, hoje em dia, maioritariamente os seus produtos para o Mercado europeu e americano, o seu primeiro sucesso comercial surgiu na década de 60 e 70 com a venda de betametasona e derivados para o Japão.

 

Outro grande motivo para a escolha de Macau deveu-se ao facto de a maior parte dos seus fornecedores serem empresas asiáticas, o que levava a um aumento acrescido no preço das matérias-primas quando chegavam a Portugal. Mais um ponto a favor nesta escolha, deve-se a Macau ter uma lei e flexibilidade que beneficiam a produção nesta zona, permitindo alterações rápidas nos planos de produção, ao contrário do que acontece em Lisboa.

 

Quando fui “presenteada” com a notícia de que ficaria em Macau senti algum receio uma vez que não fazia qualquer ideia do tipo de pessoas que ia encontrar, especialmente no trabalho, e qual o nível de desenvolvimento e investigação que se apostava pelo “Oriente”. Confesso que inicialmente senti uma certa distância no relacionamento com os meus colegas de trabalho, não só pelas diferenças culturais, como também pela barreira linguística. A integração tornou-se mais fácil devido a alguns portugueses que já trabalhavam na empresa e a um grupo de pessoas com quem trabalho directamente, e que já estavam familiarizadas com os anteriores contacteantes que desempenharam funções semelhantes.

 

Ao fim de quase quatro meses posso afirmar que a experiência tem sido muito compensadora, uma vez que é notório, no dia-a-dia, a evolução no trabalho, quer no crescente aumento das funções que me são atribuídas com um maior grau de complexidade e de responsabilidade, quer no relacionamento com os colegas e superiores.

 

A Hovione Macau, mesmo sendo uma empresa mais pequena em tamanho que a empresa “mãe”, mantém o mesmo grau de exigência e o mesmo nível de qualidade dos seus serviços, estando continuamente a ser auditada não só pelas entidades internacionais que asseguram a qualidade como também pelos seus próprios clientes.

 

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Sexta-feira, 21 de Março de 2008

Às portas da China

    Pedro Campos   -   Hovione

Macau

China

A chegada de Portugal a Macau aconteceu, pela primeira vez no séc. XVI e desde logo, esta pequena península situada na costa sueste da República Popular da China (R.P.C.), a oeste do delta do rio das Pérolas, em pleno Oceano Pacífico, revelou-se de uma importância vital na estratégia comercial portuguesa. A sua localização geográfica favorável facilitava o comércio extremamente lucrativo entre a seda e o ouro da China pela prata do Japão. Assim, Macau funcionava simultaneamente como porta de entrada na China e elo de ligação entre esta e o Japão.

 

Actualmente, Macau desempenha também um papel essencial na estratégia comercial da Hovione Farmaciência, SA. Apesar de ser mais conhecido pelos casinos e pelo jogo do que propriamente pela indústria farmacêutica, a “Las Vegas” Chinesa foi o local escolhido pela empresa para situar a sua primeira fábrica fora de portas. Este pólo, construído em 1986, nasceu com a necessidade de evitar os altos impostos a que as matérias-primas usadas na produção de doxiciclina estavam sujeitas em Portugal. Além disso, o facto de na altura Macau ainda se encontrar sobre administração portuguesa aliado à vontade política em atrair investimento facilitou a aquisição do terreno onde se encontra a fábrica.

 

Esta cidade, continua a representar uma importante porta de entrada na R.P.C., sendo que, recentemente, a Hovione adquiriu 75% da Hisyn Pharmaceutical Co Limited, situada em Hisyn, na província de Zhejiang, com o objectivo de se tornar lider mundial na produção de agentes de contraste (injectáveis que permitem a visualização das veias, artérias e órgãos nos exames radiográficos), actualmente produzidos na fábrica de Loures.

 

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Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2008

Abertura

  

A Grande Firewall da China

Num país onde 84% da população não utiliza a internet, a China é desde dezembro de 2007, a par dos EUA, o país com maior número de internautas: 210 milhões.

 

Controlar algo como a internet com conteúdos tão diversificados e espalhado por tantos pontos do globo parece impossível. Mas na China, não é. Cerca de 35 mil net-polícias trabalham diariamente para garantir que conteúdos indesejáveis para o governo chinês sejam acedidos, utilizando um mecanismo extremamente eficaz de controlo que dá pelo nome de “A grande Firewall da China”.

 

Existem dois métodos principais para controlar o acesso à rede: um filtro que verifica se a página a que o utilizador está a tentar aceder se encontra na “lista negra” do governo e um outro que verifica os termos que estão a ser pesquisados. Uma pesquisa por Tianamen num servidor situado na China não retorna qualquer resultado. Se o servidor se situar fora de território chinês, os resultados aparecem mas não podem ser consultados!

Até o gigante norte-americano Google teve de ceder a pressões do governo chinês. Em 2001, a Google lançou-se no mercado chinês e, com uma versão integral com suporte para mandarim e beneficiando do seu prestígio a nível mundial, a empresa começou por alcançar bons resultados até que, no início de 2002 os seus sites tinham desaparecido.

 

Na China é normal que empresas nacionais apresentem queixas contra competidores directos com conteúdos ilícitos. O mercado dos motores de busca é completamente dominado pela Baidu, uma empresa fundada em 2001, originária de Pequim e com cerca de 50% de quota de mercado. A empresa capitalizou o interesse nacional por chats e inventou uma ferramenta que permitia aos utilizadores criarem grupos de discussão baseados nos termos mais pesquisados. Para além disso, os fundadores da empresa descobriram bastante cedo que os jovens utilizadores procuram maioritariamente por mp3 pirateados, tendo desenvolvido uma interface específica para esse propósito.

 

Até hoje, a Google ainda não conseguiu descobrir quais as razões que levaram ao corte. Certo é que, passadas duas semanas, o bloqueio foi levantado, tão misteriosamente quanto tinha começado. Mas os problemas continuavam. A firewall diminuia a velocidade de tráfego em cerca de 15% e passava agora a retaliar sempre que um termo proibído era acedido, enviando uma mensagem que dava a entender que o site tinha desaparecido. Para a Google estes atrasos e encerramentos eram um problema real, já que um motor de busca tem de apresentar resultados em milisegundos.

A única solução possível era atacar o mercado dentro da China. Com a criação do Google.cn e os servidores em solo chinês, a Google evitava a Firewall, os resultados continuavam censurados mas chegavam mais rapidamente. Por outro lado, a Google estava agora sujeita às leis chinesas. Uma pesquisa por um termo proibido indicava que, de acordo com as leis chinesas, a informação tinha sido removida. Isto valeu à Google um conjunto de manifestações e acusações. Os executivos da empresa foram inclusivamente chamados ao congresso americano e comparados a colaboradores nazis. As acções da empresa cairam e protestantes organizaram manifestações.

 

Aquando da criação da empresa, os fundadores descreveram a empresa como fiável e interessada no serviço público. Mas como pode uma empresa aclamá-lo, colaborando com um regime repressivo. A resposta é só uma: num mercado tão apetecível e lucrativo, era impensável para uma das maiores empresas mundias não marcar presença.

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Quarta-feira, 20 de Fevereiro de 2008

Políticas de trabalho

   Pedro Arêde Cristóvão - Tekever, Pequim, China

“Cada pessoa é livre de fazer aquilo que quiser e quando quiser, desde que o trabalho seja cumprido”, é este o lema da ROWE (Results-Only Work Environment), uma inovadora estratégia de ambiente de trabalho desenvolvida pela CultureRx e que tenta demolir o obsoleto dogma que iguala a presença física à produtividade.

 

Uma das vantagens da ROWE é permitir retirar força ao papel do trabalho na vida de cada pessoa. Claro que um emprego deve continuar a dar dinheiro, e deve permitir uma sensação de realização pessoal. Mas com esta estratégia as pessoas podem redescobrir aspectos acerca de si e das suas vidas dos quais se tinham esquecido por estarem demasiado envolvidas no trabalho.

 

Penso que a criatividade e a flexibilidade estão intrinsecamente relacionadas com sucesso. Investigação levada a cabo por uma equipa da Universidade do Minnesota, com o propósito de investigar políticas inovadoras nos locais de trabalho, sugere que maior flexibilidade horária é crítica quando se trata de aumentar a produtividade e, simultaneamente, melhorar o bem-estar dos trabalhadores e das suas famílias.

 

Com a estratégia que referi, a performance é medida em termos de output e não em termos de horas passadas no escritório ou em reuniões. A Best Buy, uma das maiores empresas mundiais, com cerca de 140.000 trabalhadores, especialista e líder na venda de material electrónico nos EUA e no Canadá, adoptou a ROWE. Em termos práticos, os trabalhadores da Best Buy podem sair a meio do dia para assistir a um jogo ou buscar os filhos. Chegar às 2 da tarde não é estar atrasado, nem deixar o trabalho a essa hora é considerado sair cedo. Não há horários nem reuniões obrigatórias. Em poucas palavras, “trabalho” já não é um sítio onde se vai, mas algo que se faz. Desde que apareça feito e bem, é aceitável fazer chamadas em conferência enquanto se caça, trabalhar a partir do café ou à noite, para aproveitar a tarde de outra forma qualquer. Desde a implementação deste programa que a produtividade na Best Buy aumentou em média 35% (conforme os departamentos), assim como a satisfação geral dos trabalhadores também aumentou.

 

Acima de tudo acredito que cada pessoa deve ser livre. E que não devemos viver para trabalhar, mas sim o contrário.

 

Pedro Cristovão

Tekever (http://www.tekever.com), Beijing, China

 

 

Links relacionados:

http://www.culturerx.com/rowe/

http://caliandjody.com

http://www.businessweek.com/magazine/content/06_50/b4013001.htm?chan=rss_topStories_ssi_5

http://www.flexiblework.umn.edu

http://www.culturerx.com

http://www.bestbuy.com

http://en.wikipedia.org/wiki/Best_Buy

http://www.jdblissblog.com/2006/12/best_buys_revol.html

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O que é Shanghai?

   Pedro Costa D'Aguiar - Alcatel, Shanghai, China

 

 

Tecnologia:

 

Ao chegar a Shanghai somos completamente atacados pela imensidão tecnológica. Esta viagem começa no caminho entre o aeroporto e o centro da cidade que é feito no Maglev, comboio magnético que atinge a velocidade máxima de 430 km\h, Espalhados por todos os cantos da cidade estão enormes prédios cheios de cores néon com ecrãs gigantes. Até nos táxis tenho direito a ver TV em pequenos ecrãs tácteis.

Para mim, que sou engenheiro e sempre adorei tecnologia, é um mundo para perder a cabeça. A cada esquina das grandes áreas comerciais encontram-se todo o tipo de aparelhos electrónicos à venda. Acabo o dia, sempre com alguma coisa nova, lá em casa.

 

Trabalho:

 

O meu estágio decorre na Alcatel-Lucent - empresa francesa, no escritório de Shanghai, capital económica da China.

O trabalho tem sido um dos factores mais importantes e interessantes deste destino. Mesmo com alguma experiencia laboral nunca poderia prever tal experiencia multi-cultural. Neste momento o meu trabalho passa por comunicar em pelo menos 3 idiomas (Inglês, Francês e umas palavras em Chinês) com os diversos colegas (Chineses, Franceses, Japoneses, Russos, Alemães… you name it). Todos projectos que me foram designados envolvem tecnologia de topo para telemóveis, tecnologia essa, proveniente de empresas de toda a Asia Pacific.

 

China:

 

O que é Shanghai na china? (www.smartshanghai.com) É difícil explicar. Ás vezes esqueço-me que estou na China. Esta cidade está de tal maneira ocidentalizada que não é possível comparar com nenhuma outra cidade na China. Muitos dizem que Shanghai é Nova York do oriente. Por cá encontra-se de tudo um pouco. Podemos dizer que é uma mistura de dois mundos: o perfeitamente ocidentalizado, as mesmo lojas/restaurantes/actividades que se encontra em qualquer outra grande capital, e o perfeitamente chinês, bairros chineses com tudo o que a china tem de melhor para oferecer. Lamentavelmente a única coisa que nos faz acordar desta realidade única e interessante é quando queremos tratar de alguma coisa importante e ninguém nos percebe, tornando um processo tão simples num bicho de 7 cabeças. Daí surgiu a ideia das exaustivas aulas de chinês.

 

Amigos:

 

Sempre quis utilizar a palavra entrosamento que neste caso explica o que se passou comigo C11 e com os ex-C10 (com dois dos quais partilho casa) e ex-C9 (amigos e companheiros da Bola todas as quintas-feiras). Devo dizer que foi graças a eles que a minha integração foi feita à velocidade da luz, num lugar com uma língua tão estranha os conhecimentos \ experiências de cada um dos ex-Cs foi fulcral para a minha inclusão na loucura chinesa. Como se diz tinha a papinha toda feita.

 

 

One life time experience:

 

Como primeira experiência de trabalho fora do nosso país, ter Shanghai como cidade destino foi sem dúvida the place to be.

Em termos pessoais e profissionais, tive a oportunidade de ter outra visão do mundo, abraçar tantas outras culturas quantas nacionalidades conheci aqui, desenvolvendo ao mesmo tempo as minhas capacidades linguísticas e atributos profissionais. Resta-me agradecer a toda a equipa do Contacto cá e lá pela óptima oportunidade!

 

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Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008

Não dizer Não.

  João Gago  -  EUCCC  -  Pequim, China

_____________________________________________________

Cheguei a Xangai, China, no dia 21 Janeiro de 2007. O impacto foi imediato. Imaginei chapéus em bico, campos de arroz e retratos do “Grande Lider” Mao expostos a cada esquina. Encontrei edifícios altos, modernos, espelhados, emaranhados entre casinhas cobertas por telhados chineses e rodeados de uma multidão de caras redondas e olhos em bico num caminhar apressado e incessante. Carros e motas apitam sem qualquer critério enquanto dezenas e dezenas de turistas de todos os cantos do mundo reagem de boca aberta e olhos esbugalhados de espanto para a imagem da nova China Moderna.

 

A comunicação é impensável nos primeiros dias na China: ninguém fala inglês e o mandarim é mesmo uma língua do outro lado do mundo. Só estas gentes poderiam utilizar um idioma com 56.000 caracteres. Passadas duas semanas já me orientava pelas ruas do centro da cidade mas também foi passadas duas semanas que me dei conta que os “Xangaineses”, diga-se os habitantes de Xangai, falavam nem mais nem menos do que Xangaines. Mao Tze Dong bem tentou unir o país através da língua. Note-se que conseguiu mas com a chegada de Deng Xiao Ping ao poder e com as novas reformas, o Xangaines voltou em força e para ficar nos ouvidos e nas palavras dos que vivem na capital económica da China.

 

Estas vincadas diferenças visuais e sensoriais traduzem unicamente as diferenças culturais existentes. Os Chineses são ambiciosos e lutadores. Querem ter uma vida melhor e, para isso, muitas vezes querem seguir as pisadas dos ídolos de sucesso. Cada dia sinto esta diferença. O normal não é ouvir as pessoas a queixarem-se do que está mal como acontece em tantos países, inclusive no nosso querido Portugal. O que vemos e ouvimos na China é “O que vou fazer é …”O meu sonho é …”, “Daqui a 10 anos serei dono (disto e daquilo)...”: a ambição está na ponta na língua de cada chinês.

 

Mas nem tudo são rosas. Várias experiências durante o meu estágio na European Union Chamber of Commerce in China (EUCCC) ensinaram-me com se pode lidar com os chineses em variadíssimos aspectos. Aprendi muito sobre a sua forma de actuar empresarialmente: os chineses têm atitudes que reflectem uma cultura marcada por um período de poder totalitário e pouca liberdade de expressão. Um sinal claro disso mesmo é a enorme dificuldade de um chinês dizer “NÃO”. A resposta a uma qualquer pergunta pode não ser um claro SIM mas jamais será um NÃO. Este comportamento dificulta variadíssimas vezes a relação comercial e arruína com muitas negociações que tiveram êxito a priori.

 

Por outro lado, na EUCCC organizei um evento de seu nome European Chamber Dinner & Gala Ball, onde após sistemáticas dificuldades operacionais, a noite do evento mostrou como as várias culturas europeias se conseguem integrar e também integrar-se na sociedade chinesa e como a nova sociedade chinesa consegue aglutinar influências de vários países europeus.

 

Outros eventos que organizei, como o Seminário de IPR – Propriedade Intelectual – mostraram a dificuldade da China em controlar a contrafacção e o roubo de propriedade intelectual externa e interna. O Seminário sobre “Mercado de Produtos de Luxo na China” mostrou que este é um Mercado em expansão exponencial nas grandes cidades, paralela ao número de novos milionários. Compartilho a opinião de vários colegas meus que me dizem que um chinês quando compra um qualquer artigo divide-o em dois tipos: aquele que não é visível aos outros e aquele que é visível aos outros. No primeiro caso o chinês vai comprar o produto mais económico possível de forma a poder ter capacidade financeira para poder adquirir um bem de qualidade superior ou de luxo  que sirva como demonstração de um estatuto social em ascensão.

 

Um dos melhores eventos que organizei - the European Chamber HR Conference 2007 - , serviu para as empresas europeias sedeadas na China conhecerem as melhores práticas para superar os desafios relacionados com Recursos Humanos para o próximo ano. A nova lei contratual dá novos direitos aos trabalhadores comuns chineses, como incentivar a retenção de trabalhadores de elevado potencial para evitar o alto turn-over que em algumas cidades chinesas chega a superar os 25% por ano.

 

Organizei e co-organizei mais de 70 eventos ao longo de 2007. Esta experiência ajudou-me a perceber o que é a China de hoje em dia e o que será o mundo de amanhã.

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Terça-feira, 4 de Dezembro de 2007

Grandes Diferenças que Influenciam Práticas de Gestão

   Nuno Pereira - CTTC Archway,  Pequim,   China.

É um facto, que no panorama actual a China é o grande mercado emergente do mundo e a força impulsionadora da economia mundial. Estima-se que até ao final do ano de 2007, a economia Chinesa, se tornará na 3ª maior economia do mundo ultrapassando a Alemanha. Muitos são os factores que explicam esta ascensão, a um ritmo extraordinariamente rápido, e afirmação de um país e cultura explicitados no crescimento da sua economia.

Muito se publica, muito se lê e muito se fala, mas afinal até que ponto existe um paralelismo nas práticas de gestão na China e na “nossa” Europa ou nos Estados Unidos da América? Devo, desde já, antecipar que excluindo o ponto de vista de gestão puramente financeiro, poucas semelhanças se podem encontrar.

Todos os processos envolvendo a gestão de capital humano na China são claramente distintas e particulares, face ao resto do mundo, e nesse aspecto é inegável a influência da cultura e História da China. Tudo nasce e deriva na educação de um Chinês. Desde muito novos todo o Chinês que frequente todo o circuito de ensino primário e secundário é treinado a obedecer ás ordens de um chefe/líder, muitas vezes sem o questionar sequer. A disciplina que lhes é incutida e a completa dependência de alguém que lhes indique o caminho a seguir e lhes transmita as ordens das tarefas a executar é inegável. O Chinês é, por norma, um “soldado” treinado durante os anos de ensino a executar as ordens dadas pelo superior, muitas vezes sem sequer perguntar o “porquê” ou verbalizar a sua opinião.

Facilmente se concluí que o Chinês é uma pessoa com dificuldades em desenvolver ideias/pensamentos “próprios”, estruturar ideias, fazer o planeamento do trabalho e do tempo pois, de acordo com aquilo que lhes foi ensinado, todas essas questões serão resolvidas e transmitidas pelo superior, o qual apenas comunicará ao colaborador que tarefas/funções deverá desempenhar.

Se por um lado podemos pensar que isto até pode ser uma qualidade, rapidamente nos ocorre que, com esta forma de pensar e agir, a estrutura hierárquica das empresas será muito mais demarcada e o fluxo de informação, naturalmente, terá mais falhas e perdas de informação. Ou seja, todo o poder de decisão, desde as maiores decisões aos pormenores, está concentrado na figura do chefe, sendo este o director-geral, o respectivo director ou o chefe de departamento. Naturalmente, a eficácia e rapidez de resposta perante clientes, colaboradores e administradores não é a melhor nem a mais adequada. Ora quando estamos perante uma organização deste género não é nada mais que uma “máquina” que cumpra as ordens do(s) seu(s) “dono(s)”.

A mudança, a criatividade, a inovação, o brainstorming, o empowerment, a avaliação sistemática de performance e outros são aspectos/práticas de gestão que ainda falham nas normais práticas de gestão nas organizações Chinesas. A cultura dominante, a Chinesa, constantemente envolvida em “pequenas” mudanças, ainda não encontrou espaço e tolerância para estes conceitos/práticas e só uma forte cultura organizacional que aglomere a aceitação da maioria dos colaboradores poderá permitir á organização tornar-se flexível, dinâmica, inovadora, eficaz e internacionalmente ainda mais competitiva.

Evidentemente que as situações descritas raramente acontecem todas dentro da mesma organização, no entanto não deixam de reflectir práticas de gestão que nós, Europeus, já ultrapassamos talvez há séculos atrás. Mas dado o ritmo de crescimento assustador da economia Chinesa e a sua consequente internacionalização, pessoalmente, confio que igualmente nas as práticas de gestão evoluirão.

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Quarta-feira, 3 de Outubro de 2007

Noticiar a China em português

   António Larguesa - Agência Lusa, Pequim, China.

 

 

A LUSA é a Agência de Notícias de Portugal e a maior agência noticiosa de língua português. Com um universo de cerca de um milhar de subscritores permanentes, a LUSA produz e distribui diariamente cerca de 800 notícias e 700 fotografias, que preenchem todas as áreas da actualidade noticiosa. Na delegação de Pequim, que abriu em 1978, trabalham neste momento o correspondente principal e um intérprete local, para além do estagiário INOV-Contacto, numa produção média de seis notícias por dia.

 

O processo de internacionalização da Lusa na China é precisamente a sua presença cá, com um escritório em Pequim, que não implica outros gastos para além dos estritamente necessários para assegurar a própria estrutura da empresa. Aqui, são implementadas as estratégias pensadas em Portugal, sendo a organização, os métodos de trabalho e a cultura organizacional definidos a partir de Lisboa.

 

Se a nível estrutural a Lusa em Pequim tem que actuar com base nos métodos aplicados pela sede em Portugal, a nível de trabalho e dos conteúdos produzidos a visão da delegação não poderia assentar noutra realidade que não a local. A actividade da agência na China é uma espécie de 'outsourcing' adaptado, pois vem inspirar-se no “mercado” chinês, produzir aqui para vender nos mercados português e lusófono.

 

Numa especificidade da área das indústrias culturais, nas quais se insere o jornalismo que a agência pratica, o produto – leia-se informação – acaba por não ter um valor monetário nem contribui para a balança comercial e para as estatísticas entusiasmantes apresentadas no final de cada exercício anual. Mas parece, não haver grandes dúvidas que, hoje em dia, ter um correspondente em Pequim é quase tão importante como ter um correspondente em Washington. E os meios de comunicação social portugueses continuam ausentes, alheados da fantástica transformação económica e social que ocorre deste lado do mundo, que irá alterar o rumo do pensamento e da história mundial.

 

No que respeita à “herança nacional” para uma empresa que opera no estrangeiro, para além do foco nas relações políticas históricas entre Portugal e a China, com destaque para a Região Administrativa Especial de Macau, que esteve sob administração portuguesa até 1999 (mas onde a Lusa tem também um jornalista), ela faz-se sentir, sobretudo, através da língua portuguesa. Uma vez que escrevemos notícias em português, pode dizer-se que a língua começa por ser um obstáculo. O país e a cultura de Portugal têm expressão relativa na Ásia, apesar da herança histórica, encontrando-se as maiores dificuldades no que toca à marcação da agenda mediática. Difundir uma reportagem em inglês, descodificada com facilidade em qualquer país do mundo, inclusive na China, tem um peso infinitamente maior do que fazê-lo em português, como assegura o noticiário da Lusa.

 

Todavia, esta herança é, ao mesmo tempo, uma janela de oportunidades que se abre, sobretudo, para o mundo lusófono. Nesta área temos a obrigação de “chegar primeiro”, por maior proximidade no contacto com as fontes, por focarmos aí o interesse, porque o trabalho para/sobre o mundo onde se fala português e onde as comunidades portuguesas estão espalhadas é uma vocação assumida desde sempre pela Lusa, que disponibiliza mesmo um serviço noticioso às Agências de notícias dos Países Africanos de língua oficial portuguesa (PALOP).

 

A crescente influência chinesa em África e as relações prioritárias que vem estabelecendo com os PALOP expressam a necessidade de uma maior visão e responsabilidade no que toca a este noticiário específico na delegação de Pequim, capital e centro político da China. Angola ultrapassou em 2006 a África do Sul como maior parceiro comercial da China no continente africano, e países como Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau aumentam todos os anos as exportações para a China e recebem importantes ajudas para o desenvolvimento por parte do governo comunista de Pequim. Este é um importante nicho de mercado que nos está destinado, onde quase não temos concorrência e com o qual conseguimos verdadeiro destaque apesar da mão-de-obra limitada (só a agência espanhola EFE tem quase uma dezena de jornalistas na capital chinesa).

 

São clientes da LUSA todos os jornais, rádios e canais de televisão de expansão nacional, assim como mais de uma centena de jornais e rádios regionais e locais, incluindo ainda 'sites', portais e edições online portugueses, brasileiros, europeus e africanos, a que se juntam empresas e instituições públicas e privadas e milhares de utilizadores individuais que consultam os serviços de acesso livre.

 

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O caso Chinês ou Pequeno-Almoço no Consulado Sueco?

   António Guerreiro - AICEP, Shanghai, China.

A realização do estágio numa delegação do ICEP, perdão, AICEP é normalmente menos rica em contrastes com a realidade portuguesa, no entanto se pensarmos numa delegação em Xangai, talvez não seja bem assim! A verdade é que os meus dois colegas chineses têm um conhecimento tal da cultura portuguesa, e falam e escrevem com um português perfeito, que por vezes me esqueço que estou no outro lado do mundo...mas depois toca o telefone e volto à realidade chinesa.

Assim, acredito que faz mais sentido não me centrar tanto na minha experiência, mas antes na forma como vejo os diferentes C10 e C9 e alguns portugueses a interagirem num mercado complexo, com inúmeras regras, costumes e “obrigações” pessoais que interferem directamente com as relações empresariais.

 

É sempre errado generalizar práticas e hábitos a todo um país, no entanto há algumas que geram menos controvérsia, razão pela qual escolhi focar numa prática ou forma de estar essencial neste mercado designada por Guanxi: Complexa rede de relações indispensáveis ao funcionamento social, político e organizacional na China. No fundo não se trata mais do que privilegiar as relações pessoais para fazer negócios. Ora, se é verdade que em Portugal tal também acontece, aqui esta forma de relação é incentivada e acarinhada.       

O caso da comunidade portuguesa não é excepção. É frequente passarem-se contactos de parceiros empresariais a colegas e apresentações formais para que no futuro também estes possam estabelecer negócios com parceiros fidedignos.

O mercado chinês é demasiado grande e “recente” para não se agir desta forma; existem inúmeras empresas ilícitas e oportunistas à espera de players menos preparados e foi provavelmente isso que levou ao nascimento do Guanxi, procurando dar à actividade comercial um toque pessoal e de honra.

A questão é como se entra na esfera de influência e se alarga o Guanxi? Para tal não faltam eventos onde se encontram empresários e pessoas à procura de parceiros de confiança.

Foi aqui que observei a maior adaptabilidade e absorção de uma característica da forma de fazer negócios na China que rapidamente foi adoptada pela comunidade e empresas portuguesas: munido de um punhado de cartões pessoais, sorrisos e “dois dedos” de conversa para desbloquear uma primeira aproximação e iniciar contactos pessoais\comerciais em eventos que podem ser desde seminários, exposições de arte, cocktails da Câmara de Comércio Australiana ou mesmo pequenos almoços organizados pelo Consulado Sueco que se realizam ao iniciar de mais um dia de trabalho. É impossível a qualquer empresa sobreviver sem marcar presença nestes eventos e os próprios portugueses (generalizando) que, em matéria de negócio, privilegiam o contacto à distância (e-mail, telefone, teleconferência, etc.) na China, aliando o tradicional “à vontade” e desenvoltura em iniciar uma conversa, tornam-se rapidamente experts na angariação de cartões pessoais e contactos para futuros negócios, assentes numa relação, a partir desse momento, também pessoal.

A grande diferença de mentalidades relativamente a Portugal é que o Guanxi não é mais do que a chamada “cunha”. Trata-se de conferir um cariz pessoal e de honra a todo e qualquer compromisso, seja ele de negócios, amizade ou pessoal.

Claro que aliado aoGuanxi”, de forma a assegurar uma leal e sólida rede de relações, existe o Mianzi(Não perder a face – imagem positiva de si próprio – nem fazer a outra pessoa perder). Mas o Mianzifica para o próximo artigo.

 

Exemplo de uma semana de Guanxi

http://shanghainn.com/what-039-s-on/index.php

 

 

Monday 27 August 7:10 pm Talent Discovery Bilingual Toastmasters Club

  • Currently 1.00/5

Tuesday 28 August 8:30 am New Export Rebate System

  • Currently 0.00/5

                6:00 pm CFEC Finance Salon

  • Currently 0.00/5

                 7:00 pm How can your IT protect intellectual property?

  • Currently 0.00/5

                 7:00 pm FC Club Media Night

  • Currently 2.00/5

                8:00 pm NextStep Tuesday (Entrepreneurs)

  • Currently 0.00/5

Wednesday 29 August 8:00 am PRC Labour Law

  • Currently 0.00/5

                10:00 am American Women's Summer Coffee Morning

  • Currently 0.00/5

                 11:30 am Moving from “Made in China” to “Made by China”: The Challenges & Opportunities of China’s Focus on Innovation

  • Currently 0.00/5

                6:30 pm AmCham Mixer

  • Currently 4.00/5

                7:00 pm Shanghai Entrepreneur Group

  • Currently 2.33/5

                9:00 pm Shanghai Expat Wednesday Night Mixer

  • Currently 2.40/5

  Thursday 30 August 8:30 am New Labour Contract Law (Mandarin)

  • Currently 0.00/5

                6:30 pm Environmental Committee Mixer

  • Currently 0.00/5

                7:00 pm M&A als Instrument zum Ausbau von Vertriebsstrukturen in China (German)

  • Currently 0.00/5

                7:00 pm Oriented Happy Hour

  • Currently 3.22/5

                7:00 pm BenCham Summer Bowling

  • Currently 0.00/5

Friday 31 August 11:30 am Marketing in an Olympic Year

  • Currently 0.00/5

                6:00 pm AustCham: Aussie Drinks

  • Currently 2.60/5

                7:30 pm Finnish Monthly Meet

  • Currently 3.25/5

Saturday 1 September 10:30 am Shanghai Expat Saturday Coffee Meeting

  • Currently 0.00/5

Sunday 2 September 12:00 pm Shanghai Expat Coffee Brunch

  • Currently 2.67/5

                2:45 pm Dynamic Mandarin Toastmasters

  • Currently 5.00/5
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Segunda-feira, 2 de Julho de 2007

A União Europeia em Macau e Hong Kong

 Raquel Fernandes, Delegação Macau, China.

 

Quando cheguei a Macau e iniciei o meu estágio na Delegação do ICEP, fui informada que a pasta da Presidência Portuguesa na União Europeia (UE) seria uma das minhas responsabilidades. Actividade desafiante para uma licenciada em Relações Internacionais, sem dúvida.

O meu primeiro contacto com as instituições europeias em Macau aconteceu numa sessão de discussão das possibilidades de projectos de cooperação entre a UE e Macau promovida pelo Escritório de Representação da Comissão Europeia para Hong Kong e Macau, presidido pelo Sr. Thomas Roe. Só aí é que fiquei informada da importância das Regiões Administrativas Especiais de Macau e de Hong Kong, que são encaradas como uma plataforma importante para o aprofundamento das relações de cooperação entre a UE e a República Popular da China (RPC), e onde a UE irá injectar fluxos significativos de capital em programas para o desenvolvimento e cooperação em vários sectores destas Regiões Administrativas Especiais. Há já vários meses que o meu contacto com a UE passa por reuniões periódicas, pelas celebrações dos 50 anos do Tratado de Roma, e até mesmo por uma ópera. As reuniões normalmente são mensais, com os restantes “Trade

Officers” dos países da UE, presididas pelos representantes da Alemanha, em Hong Kong ou em Macau.

 

Vários assuntos económicos e financeiros são aí debatidos, reflectindo as diferentes  preocupações dos diferentes países ou da própria Comissão Europeia. Grande  parte destas preocupações são resultantes de diferenças entre as politicas europeias e a chinesa.

Neste momento, para além das reuniões com os “Trade Officers”, temos de preparar a transferência da pasta já nos finais de Junho. A partir daí, estas reuniões serão presididas por nós, representando Portugal. Teremos de definir a agenda de cada reunião, e estar em permanente contacto com os restantes representantes dos outros países, promovendo o estreitamento de laços entre estes, e destes com o território de Macau e de Hong Kong.

Estamos já também a preparar a representação da UE na MIF 2007 (Feira Internacional de Macau, a realizar-se em Outubro), tendo tido uma boa aceitação por parte dos países que irão ter o seu próprio stand no pavilhão da UE, de modo a auto promover-se nas áreas que desejam, como o turismo, produtos típicos, indústria, a própria marca do país.

Durante a Presidência Portuguesa da UE, esta zona do globo irá ter bastante actividade, e eu, como estagiária da Delegação do ICEP em Macau, serei uma das pessoas a estar no centro deste movimento, estando envolvida em várias actividades como as já referidas reuniões de “Trade Officers”, conferências, debates e acções de promoção.

 

Visto que a RPC é considerada neste momento como o lugar onde investir e uma das economias do futuro, a UE sob a Presidência Portuguesa deseja estreitar laços com este país.

Devido à presença histórica de Portugal nesta zona do globo, que data de há menos de 500 anos, a Presidência Portuguesa da UE vai beneficiar em muito o estreitamento de laços de cooperação e económicos entre a RPC e a UE no território, fazendo uma ponte e ajudando à concretização do objectivos do uso destes territórios como plataforma de “entrada” da Europa para a mainland chinesa.

publicado por visaocontacto às 17:57
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Futuro da Europa – Ponto de vista Europeu na China!

 David Loução, EUCCC, Pequim, China

Futuro da Europa – Ponto de vista Europeu na China!

 

Pela primeira vez na Ásia, “destacado” para “Beijing” (Capital do Norte) de Zhong guó (País central ou centro do Mundo), um país onde tudo gira de maneira diferente dos padrões Europeus aos quais nós estamos habituados, uma cidade que por vezes se esquece que o sol existe, envolta numa densa camada de poluição que equivale a um consumo diário de 40 cigarros.

 

As primeiras impressões, não são as melhores de um País que luta por sair aos poucos do profundo comunismo vivido ao longo dos anos, com costumes e hábitos, por vezes condenados pelos estrangeiros, que tendem a convergir com a cultura Europeia dado o enorme fanatismo deste povo a se igualar com os ocidentais, copiando os costumes e hábitos destes.

Trata-se, sem dúvida, de uma cultura muito longínqua da que todos nós conhecemos na dita civilização, pois nos primeiros dias em Pequim, a ideia que se apreendia era de uma autêntica “Selva Urbana” onde se sentia falta da “Civilização Europeia”, onde é enorme a diferença entre as grandes cidades desenvolvidas e repletas de Ocidentais e os inúmeros locais esquecidos onde um Ocidental é algo desconhecido. Este grande fosso existente entre a Europa e a China espelha-se não só no nosso dia-a-dia mas também no tecido empresarial Europeu, que fortemente Investiu no Mercado Chinês ao longo dos anos que se veio acentuar com a entrada da China na WTO (World Trade Organisation), onde apesar de serem imensas as barreiras há entrada, a balança pesa favorável ao Investimento neste país com cerca de 1.3 biliões de habitantes[1] e com um GDP growth de 10%1 ao ano, que ao se adicionar o factor de baixo custo de produção, é mais que suficiente para a deslocalização de inúmeras Empresas para esta região.

 

Com a tendência do desenvolvimento do sector terciário, serviços, onde o crescimento médio previsto do mercado Chinês neste sector 2010 é de 12%2 ao ano, e onde a Europa tem a vantagem mais significativa, ultrapassando qualquer outro sector (14% ao ano, atingindo em 2010 os 500 Biliões de Euros)[2], a China continua a ser uma grande oportunidade de negócio para empresas que queiram proliferar no mercado.

 

Actualmente, a China vive momentos de mudança, na sua cultura, hábitos e nos mercados também, com maior liberalização e luta à corrupção, o que gere outra visão para as empresas Europeias, que pensam em investir futuramente neste país e outro à vontade para aquelas que já cá estavam e passaram por momentos difíceis na implementação do seu negócio, consolidando a sua posição.



publicado por visaocontacto às 16:56
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Segunda-feira, 11 de Junho de 2007

Vinho portugês na China.

   Madalena Biancard Cruz,

Adega Cooperativa de Borba, Shanghai, China.

Os vinhos ocidentais são um produto relativamente novo na China, ainda considerados como um bem de consumo de luxo e sinal de status.

No entanto, e devido ao interesse do povo chinês pela cultura ocidental, o seu consumo tem vindo a aumentar. Embora ainda seja consumido de uma forma menos tradicional, na maioria das vezes o vinho tinto é servido gelado, enquanto o branco é servido com refrigerantes ou sumos de fruta, independentemente da qualidade e preço.

A importação de vinho estrangeiro desperta cada vez maior interesse por parte de empresas chinesas, devido ao valor elevado de crescimento anual (10%) quando comparado com o anual global (1%) da indústria em causa. No entanto, 95% dos vinhos consumidos são vinhos chineses, sendo os mais conhecidos Great Wall e Dragon Seal, vinhos adaptados ao mercado, com preços imbatíveis relativamente aos importados, mas com uma qualidade bastante inferior.

 

É nas grandes cidades, como Shanghai, Beijing e Guangzhou, que nos deparamos com uma maior oferta e diversidade de vinhos importados, e também é nestas cidades que se encontram sediadas as empresas importadoras mais credíveis, como por exemplo a ASC -Fine Wines (www.asc-wines.com), Torres China (www.torreschina.com.cn) e Montrose (www.montrosechina.com). No entanto, a presença de vinhos portugueses continua bastante escassa, mesmo tratando-se do famoso vinho do Porto. E porquê?

Após os 4 meses de estágio em Shanghai, coloquei variadas vezes essa questão; onde é que errámos como produtores, enólogos, vendedores e consumidores de vinho português para não conseguirmos criar uma imagem coerente e suficientemente forte a nível mundial, podendo depois ser facilmente reconhecida na China, como é o caso dos vinhos franceses, italianos e também os australianos, chilenos e argentinos?

Será mesmo só falta de marketing no sector em questão, conforme analisado pela Monitor Group de Michael Porter, no seu estudo realizado sobre o sector? - (disponível no site da ViniPortugal: www.viniportugal.pt).

Por outro lado, o esforço e empenho por parte das empresas vinícolas portuguesas para se estabelecerem no mercado chinês é uma luta constante, encontrando-se empresas que vão ganhando a sua quota de mercado a pouco e pouco, como é o caso da Adega Cooperativa de Borba e da Sogrape, e outras que, por falta de meios e pouco conhecimento do mercado, acabam por desistir. A ideia que a China é um mercado-alvo facilmente atingível, não passa de uma mera ilusão. Essencialmente, porque:

- O número de consumidores de vinhos importados, na China, é relativamente baixo, assim como, o número de importadores, devido aos custos iniciais na promoção e criação de canais de distribuição que estes vinhos implicam.

- O consumidor chinês, por não ser grande apreciador e por possuir poucos conhecimentos sobre vinho, tende a adquirir os vinhos mais conhecidos e promovidos. Por seu turno, as empresas importadoras, especialmente as mais recentes, exigem do produtor estrangeiro os recursos financeiros necessários para relativizar os gastos iniciais em promoção, de forma a reduzir o risco de mercado. Ora, na sua maioria, as empresas vinícolas portuguesas são de pequena dimensão e produção limitada, não tendo, muitas vezes, recursos financeiros suficientes para investir, na devida promoção, no vasto mercado chinês.

 

A China é um mercado de forte potencial, mas exige bastante trabalho, tempo e dinheiro para ter sucesso.

Como enóloga, o facto de lidar com importadores que pouco ou nada sabem sobre vinho, ajuda-me a relembrar e repensar sobre toda a cultura inerente ao mundo do vinho e encontrar semelhanças com culturas semelhantes, como por exemplo a do chá. Tem sido um desafio espectacular!

 

 

 

publicado por visaocontacto às 17:06
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Beijing é místico.

   Susana de Sousa, Group FLO, Beijing, China.

Quando cheguei... um frio imenso, olhares espantados e curiosos, expressões idiomáticas totalmente diferentes das que estava habituada, um trânsito caótico e construções totalmente espantosas fizeram-me cair na realidade: estou na China.

Com os problemas por que este país passou, desde o comunismo exagerado até ao rápido crescimento económico, penso que a China é cheia de contradições. Está tão internacionalizada e, ao mesmo tempo, fechada a certos ideais europeus. Caras marcadas pelo sofrimento, pela falta de condições humanas e não só.   O contraste entre os edifícios mais fantásticos e os Hutongs[i] mais pobres. Beijing é místico, uma cidade com uma cultura riquíssima.

A cultura empresarial é totalmente diferente da de Portugal. Adaptei a minha maneira de pensar e de agir à cultura chinesa. Aprendi a ser mais paciente no dia-a-dia profissional e a ter uma visão globalizada do mundo dos negócios. Apercebi-me também que, com um passado recente tão fechado, a China tornou-se numa super potência, que aproveita todas as oportunidade que surgem para crescer economicamente.

Aqui, a indústria do turismo continua a crescer exponencialmente, estando previsto que em 2020 seja um número record neste sector, de acordo com os dados da Organização Mundial do Turismo (OMT). O turismo chinês representa, aproximadamente, 6,1% do PIB e, segundo a Administração Nacional de Turismo da China, a indústria vai continuar a crescer, no mínimo em 10%, nos próximos 5 anos.

Segundo Zhifa Wang, vice-secretário geral da Administração Nacional do turismo da China, em 2006 a China resgistou 50 milhões de dormidas e recebeu cerca de 35 milhões de visitantes estrangeiros, enquanto o número de viagens de turistas domésticos foi de cerca de 1,4 mil milhões.

É de salientar que, em 2008, a China vai receber os Jogos Olímpicos e realizar, também, a Exposição Mundial China Shanghai, o que vai provocar um maior número de entrada de turistas, de receitas, havendo criação de valor para o país.

No caso dos Jogos Olímpicos, dos 2 milhões de bilhetes que estão disponíveis para venda (o total de bilhetes são 7 milhões), já foi vendido, aproximadamente, 1 milhão. Será que a China, mais especificamente Beijing, vai estar preparada para este acontecimento mundial? Com população que este país tem e a falta de condições básicas em muitos locais, será com certeza um desafio que a China vai ter de vencer.

(informações recolhidas da Publituris, Presstur, WTO, Lusa)



[i] Considerados pelos espcialistas como símbolo da cultura da cidade, os Hutongs são pequenos bairros de Beijing onde os habitantes conservam o modo de viver típico e tradicional da China.

publicado por visaocontacto às 15:33
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A minha cidade é Shanghai.

    Barbara Salgado, Deleg.Icep, Shanghai, China.
“Aconteceu tudo muito repentinamente. Ainda há poucos anos a China pairava, para a maioria de nós, como uma presença grande mas distante. Hoje afecta e influencia tudo. A competição pelos nossos empregos, as nossas economias, as coisas que compramos, o desaparecimento da selva amazónica, o preço do petróleo, o equilíbrio de poderes no mundo e tantas das outras tendências que estão a modificar o mundo têm, pelo menos em parte, o dedo da China.”, James Kynge, A China Abala o Mundo
 
A China, conhecida como o “Centro do Mundo”, e com uma cultura milenar, esteve adormecida durante décadas. No entanto, vinte anos após a implementação da política de reforma e abertura de Deng Xiaoping, permitindo a entrada de turistas, a China permanece ainda sob a aura de mistério e secretismo do século XIX. Todo este secretismo e mistério subjacentes ao maior país do mundo têm levado ao aumento exponencial do número de turistas que visitam a China. A Organização Mundial do Turismo prevê que em 2020 a China se torne no destino mais procurado do mundo. O crescimento económico foi rápido, tendo surgido hotéis de luxo, melhores transportes públicos e excelentes restaurantes. Os principais pólos de atracção são as grandes metrópoles e cidades mais desenvolvidas (Pequim, Xangai e Hong-Kong e Macau, apesar do seu estatuto singular de Regiões Administrativas Especiais), e aldeias históricas, como Suzhou, a veneza oriental, Hangzhou, a conhecida cidade dos lagos, entre outras, como Guilin e a província de Sichuan.
 
Conhecida como a “Paris do Oriente”, Shanghai é agora a minha cidade. Situada no delta do Yangze, é um porto extremamente activo, desde há alguns séculos celebrizando o Império do Meio. Os europeus, a partir de meados do séc. XIX, viram oportunidades de negócio, aí constituindo as chamadas concessões, francesa e internacional (englobando a inglesa e a americana).
Shanghai, uma cidade com 6 mil anos de história, preserva uma cultura ancestral e projecta-se num universo financeiro à escala mundial. Pudong, o maior centro económico da China, impressiona-nos pela velocidade com que se implantou e posicionou na geografia económica planetária. Tornou-se num dos principais pontos estratégicos do mundo. Nascido há uma dúzia de anos, ostenta a mais moderna arquitectura que existe no Mundo, abrigando as empresas em expansão, desde os grandes grupos financeiros nacionais às multinacionais. Estas últimas, ai se estabelecem atraídas pelas potencialidades de uma economia emergente que é a China (1.3 mil milhões de habitantes).
 
Enquanto há algumas décadas o “American Dream” preenchia o imaginário dos homens, a China nestes últimos anos tornou-se numa realidade alternativa. Shanghai oferece inúmeras oportunidades de negócio, seduzindo os Ocidentais pelo espaço existente no tecido empresarial, permitindo desenvolver um leque variado de produtos que vão ao encontro das necessidades dos chineses. Este facto, por si só, justifica o fluxo de turistas a Shanghai. A maioria dos turistas estrangeiros, fascinados pelos encantos da cidade, não fazem apenas turismo histórico, acabando por se integrar no tecido empresarial da cidade.
 
Em Pequim, antiga capital imperial e actual capital administrativa, as centenas de turistas que diariamente visitam a cidade são atraídos por razões histórico-artísticas, pelo que se pode designar de “turismo de visita”, em oposição ao “turismo de estabelecimento” que ocorre em Shanghai. O “turismo de visita” acolhe os estrangeiros que à China se deslocam por pura curiosidade intelectual enquanto que o “turismo de estabelecimento” tem como objectivo a fixação na própria cidade. Comum aos dois tipos de turismo, temos os elementos da tranquilidade e segurança que, em grande medida, contribuem para um aumento de turismo da China nos dias que correm. Para além disto, ainda que a barreira linguística dificulte a comunicação, os chineses são um povo acolhedor.
Estas características de segurança, tranquilidade e afabilidade aplicam-se igualmente a Portugal, pelo que, desde já, existem afinidades potenciadoras de relações turísticas e culturais. São estes elementos, comuns aos dois países, que podem aproximar os povos de modo a consolidar o seu relacionamento e a promover um verdadeiro turismo português e chinês.
A título de exemplo, os franceses têm vindo a procurar cada vez mais Shanghai pela segurança que a cidade oferece, longe da violência e distúrbios que têm ocorrido em Paris, e pelas potenciais oportunidades de estabelecimento de negócio.
Assiste-se, igualmente, a um despertar para um continente que esteve adormecido durante séculos e um crescente interesse por uma civilização milenar, enraizada na cultura do dia-a-dia, sobre a qual ainda se tem pouca informação. Hoje, a China começa a reabrir-se para o mundo e a emergir como uma potência e como maior país do mundo que faz temer com a sua dimensão e força. É interessante pensar na evolução de Shanghai – começa como uma vila piscatória e torna-se no pólo económico e industrial da China, presenciando uma saudável volatilidade diária e um dinamismo progressivo, razões pelas quais também atrai turistas. 
No entanto, o turismo chinês inclui uma componente igualmente importante de turismo interno. A China, sendo o maior país do mundo, tem um mercado interno de turistas de 1.3 mil milhões. O movimento “regresso a casa durante as férias” é de tal modo impressionante que se torna caótico viajar nessa altura. São magotes de chineses a viajar para as suas terras natal uma vez que o regime de férias, sob influência do comunismo, funciona de igual forma para todos, o que significa que os chineses têm todos férias na mesma altura e são obrigados a gozá-las todos ao mesmo tempo. É inegável a dimensão do mercado interno e das leis vigentes que limitam o turismo além fronteiras, não impedindo, contudo, em definitivo, o turismo internacional contribuindo para um aumento do fluxo de turistas na China.
publicado por visaocontacto às 15:10
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Domingo, 13 de Maio de 2007

O regresso a A Ma Gao

 Ângela Martinho, Hovione, Macau, China

 

 

Um par de telefonemas. Do outro lado um misto de surpresa, entusiasmo e hesitação. Tratava-se de um pedido para uma conversa acerca das suas vivências. João Travassos e João Magalhães têm vivido intermitentemente entre Portugal e Macau. Esta é uma realidade comum na comunidade portuguesa da sua geração que actualmente reside na RAEM. Não deixa, por isso, de ser bastante interessante.

João Travassos, 28 anos, Engenheiro Civil de formação nasceu em Portugal. Mudou-se para Macau aos 5 anos. Aos 18 anos volta a Portugal para estudar no Instituto Superior Técnico. Lá começou o percurso profissional. Mas motivado pela vontade de continuar uma carreira a nível internacional regressou há seis meses a Macau. E diz não ter hesitado quando o desafio surgiu. A mudança de uma empresa de construção para outra na área de projectos pareceu-lhe uma óptima oportunidade.

Seis meses passados, refere que o facto trabalhar com empresas estrangeiras (da China, Hong Kong, ou mesmo Austrália) lhe oferece o desenvolvimento de competências ao nível de ritmo de método de trabalho difícil de adquirir em Portugal. Como reverso da medalha, diz que os projectos em Macau são algo limitados em termos de diversidade: a maioria está ligada à indústria do jogo e do turismo. De facto, João Travassos reconhece, que, nesta altura, se assiste a um forte dinamismo na área da construção civil na RAEM, sendo os principais vectores impulsionadores o crescimento do investimento em casinos, hotéis e algumas infra-estruturas directamente relacionadas.

Neste regresso a Macau, após quase dez anos de ausência, o balanço que faz é francamente positivo. A nível profissional sente que está a crescer e evoluir. Pessoalmente, está feliz por ter reencontrado amigos de longa data, com quem diz ter um contacto assíduo proporcionado pela pequena dimensão do território.

Este longo período de distância faz com que note diferenças. Macau cresceu e se “em 1984 Macau era uma pequena aldeia a desabrochar para a modernidade, em 1999 era já uma cidade com tudo o que a vida moderna necessita, mas ao mesmo tempo pacata, o que permitia uma excelente qualidade de vida. Actualmente, o crescimento é enorme, pouco ordenado e totalmente focado na indústria do jogo e turismo, o que conduz à quebra dos níveis de qualidade de vida”.

João Magalhães, 31 anos, nascido em Lisboa e licenciado em Design de Comunicação tem uma experiência semelhante, no entanto com mais oscilações entre Portugal e Macau, onde chegou em 1979. Tinha na altura 3 anos. Acabou por crescer entre a metrópole e a antiga colónia portuguesa. Acabou por tirar o curso na Faculdade de Belas Artes em Lisboa.

Durante os anos de faculdade a ligação a Macau continuou. Afinal muitos dos colegas do antigo Liceu de Macau estavam em Lisboa e regularmente se encontravam, onde as terras do oriente eram um tema recorrente nas conversas. Depois de terminada a licenciatura continuou em Portugal onde exerceu a profissão como freelancer.

Voltou a Macau em 2002, após ter recebido um convite para trabalhar durante dois meses numa revista local. Decidiu aceitar. Pareceu-lhe interessante, sobretudo pelo facto de poder voltar ao local onde viveu grande parte da sua vida. Acabou por ficar, já lá vão 5 anos.

Ao contrário de Travassos, Magalhães refere que o trabalho em Portugal era mais desafiante e exigente. No entanto, em Macau, diz ter um conforto e qualidade de vida que Portugal não lhe consegui proporcionar: alem da estabilidade financeira, Macau oferece grandes facilidades para viajar e conhecer a Ásia.

Questionado se pensa numa carreira internacional em Macau, João Magalhães diz apenas com muitas certezas que quer continuar a trabalhar “no mundo”, e aponta Singapura como um mercado potencialmente interessante.

Na conversa agradável e descontraída que tivemos encontrei duas pessoas essencialmente felizes, com toda a ambiguidade que o termo possa sugerir, com a sua situação actual. No entanto, os seus objectivos não se esgotam pelo que alcançaram até agora. São jovens ambiciosos que querem continuar a deixar pegadas no mundo.

Mas como a vida é feita de pormenores, um regresso a Portugal parece inevitável. Afinal é a língua de Camões que lhes permite dizer que têm saudades. Saudades de passear os cães na praia, da animação nocturna do bairro alto ou de um pôr-do-sol em Lisboa.

 

publicado por visaocontacto às 16:49
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Segunda-feira, 5 de Março de 2007

Começou uma nova aventura...

 

 

Lara Curto

Siemen

China, Xangai

           

Após o curso de gestão internacional, vim para Xangai trabalhar para a Siemens. A empresa é internacionalmente conhecida, por isso não é preciso dizer grande coisa, só dizer que não frustrou as minhas expectativas. Os colegas de departamento são todos chineses e na sua grande maioria homens, só tenho duas colegas, mas são todos fantásticos e permitiram a minha rápida integração, principalmente a Ming que me foi buscar ao aeroporto. Tem sido uma companheira excepcional, escolhe-me o almoço, porque sabe que algumas coisas não são possíveis de digerir pelos nossos estômagos ocidentais, ajudou-me a arranjar casa e cada vez que é necessária uma tradutora ela lá está...

Impossível não falar num dia particularmente diferente, dia 1 de Fevereiro de 2007, fui jantar com Sua Excelência o Primeiro Ministro José Sócrates.

Mas para quem não acredita, aqui vai a prova, eu e o João Gago com o Sr. Primeiro Ministro:

 

 

Durante um passeio, ainda nos primeiros dias, deparei-me com uma curiosidade aos meus olhos de ocidental, reparei que em varias janelas de um bairro pobre e sujo, (o estranho de Shanghai é isso mesmo, arranha-céus riquíssimos ao lado de apartamentos com 3, 4 ou 5 pisos, muito pobres e de aspecto degradado) estava pendurado algo muito estranho. Repare-se na estranha forma de secar carne...

 

Outra curiosidade é o trânsito completamente caótico e os taxistas que são "um pouco" "artistas" a ludibriar os clientes...

Quanto ao novo ano, este do porco, não dá para imaginar os milhares de foguetes que os chineses lançam, uma coisa assustadora. Chegada a meia-noite desligam as luzes dos arranha-céus e é tudo ao mesmo tempo e é de notar que nada disto é pago pelo estado, tudo particular, condomínios com o seu próprio fogo de artifício. E eu que dizia que isto me ia passar ao lado, impossível, só o som é assustador, o cheiro, enfim, sem comentários e a luz fantástica...

    

 

 Já consegui ver um bairro típico chinês onde se vende de tudo. Uma arquitectura tipicamente chinesa, fez com que me sentisse realmente na China, ainda não tinha dado conta com tantos arranha-céus... Fica a foto da entrada.

 

 

 

 

          

 

 

 

Fui também ver o City God Temple e o parque Yu Yuan que ficam mesmo ao lado deste bairro.

           

 

 

(Tanto incenso!!!)

 

 

 

 

 

O parque é fantástico, os lagos, muitas árvores, pássaros.

 

           

 

 

 

 

 

Ainda vi o Bund e tive uma vista privilegiada para Pudong, com a Pérola Oriental em destaque:

 

           

 

 

 

 

Como ainda faltam 8 meses de estágio por terras chinesas, muitas vivências, sensações, cheiros e vistas estão por descobrir...

publicado por visaocontacto às 10:55
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