Quinta-feira, 13 de Agosto de 2009

Descobrindo Leiden

 

Ana Gomes|C13


Rotacional
Noordwijk|Países Baixos

Leiden é uma pequena cidade, na província da Holanda do Sul. Desengane-se quem pense que estou a referir-me ao sul da Holanda, coisa que é completamente diferente! Passo a explicar, para muitos de vós que tenham a mesma dúvida, (eu também cometi o mesmo erro, quando cá cheguei): Holanda são apenas duas das doze províncias, Holanda do Norte e Holanda do Sul, dos Paises Baixos, sim este é o nome correcto!

Leiden é uma cidade histórica nos Países Baixos e isso é comprovado pela aquitectura das casas, tendo a casa mais antiga sido construida em 1375-1370, onde é actualmente o American Pilgrim Museum. Os museus em Leiden oferecem uma incrível gama de natureza, arte e cultura, com exposições, workshops e eventos excepcionais que dão vida às colecções.

É conhecida por ter a universidade mais antiga do país, datada de 1575. Foi nesta cidade, a 15 de Julho de 1606, que nasceu Rembrandt, considerado um dos maiores pintores da história da arte europeia. Período que os historiadores chamam: A Idade de Ouro holandesa, que corresponde aproximadamente ao século XVII.

Leiden está, convenientemente, localizado no coração do Randstad, parte ocidental dos Países Baixos, que inclui as quatro principais cidades Holandesas: Amesterdão, Roterdão, Haia (Den Haag, em holandês) e Utrecht. As praias ao longo da costa do mar do Norte são apenas a 10 km de distância e do Aeroporto Schiphol dista apenas 20 km.

  

 

 

The very best of….

 

A solução mais fácil, numa visita a qualquer cidade nos Países Baixos, é alugar uma bicicleta e percorrer a cidade, pois assim entra-se no espírito da verdadeira cultura holandesa e há a possibilidade de percorrer a cidade sentindo os seus encantos. Não há nada mais emocionante do que, num belo dia de Junho, percorrer a cidade, com um mapa com os sítios mais importantes.

Keukenhof é o parque mais visitado na Holanda e onde estão reunidas as mais belas e curiosas tulipas, entre outros variados tipos de flores. Fica a 15km de Leiden e pode ser visitado (2010) entre 18 de Março e 16 de Maio. Pode-se ir de bicicleta ou de autocarro (Autocarro 54 na Centraal Station Leiden)

As tascas a não perder são: Omonia, restaurante grego que fica situado na Haarlemmerstraat (rua das lojas), muito apreciado pelos locais, sendo o Sr. Demitri muito acolhedor. Logo ao lado há o International Pub Bad Habits, onde se pode ver jogos de futebol. Na mesma rua existe a tasca de um Turco, também muito agradável. A não perder na praça Besstenmarket junto à estação, possui dois restaurantes de panquecas, um junto ao Mc Donald’s e outro junto ao restaurante Asian Palace. Nessa mesma zona é agradável ir ao Café Pettersson, situado num Barco, óptimo para passar uma tarde a ler.

 

Os bares mais conhecidos são: Einstein (www.einstein.nu, quarta-feira dia de “International Student Network” www.isn-leiden.nl); Odessa (www.odessa.nl, segunda-feira noite de estudantes); City Hall (www.restaurantcityhall.nl, ideal para um sábado, fica no edifíco da Câmara Municipal); In Casa (www.danssalonincasa.nl, perto do “Valk Windmill”/Estação Central de Leiden, ideal no fim-de-semana); CCO (www.cocleiden.nl, é um bar para gays e lésbicas, onde também se organizam eventos anuais para esta comunidade).

Uma nota importante, todos os bares/discotecas fecham à 1:00h durante a semana e às 2:00h, na Sexta-feira e Sábado, no entanto pode-se ficar lá dentro, apenas quem sai não volta a entrar.

Hotéis em Leiden: Tulip Inn Leiden Centre; Kasteel Oud-Poelgeest; Hotel-Restaurant De Beukenhof; Holiday Inn Leiden; Golden Tulip Leiden Centre; Hotel de Doelen; Hotel Nieuw Minerva; Bastion Hotel Leiden/Voorschoten;  Hotel Leiden; Marienpoel Hotel.

Restaurantes em Leiden: El Gaucho, Asian Palace, Einstein, Buddha's e De Malle Jan, são bastante conhecidos no centro.

Sítios a visitar:

1-      Hortus botanicus Leiden (University Botanical Garden www.hortusleiden.nl)

2-      Rijksmuseum van Oudheden (Museum of Antiquities www.rmo.nl)

3-      Naturalis ( Museum of Natural History www.naturalis.nl)

4-      Museum Volkenkunbde (National Museum of Ethnology www.rmv.nl)

5-      Stedelijk Museum De Lakenhal (Golden Century Art www.lakenhal.nl)

6-      SieboldHouse (Japanese Art www.sieboldhuis.org)

7-      Boerhaave Museu (Science/Medicine www.museumboerhaave.nl)

8-      Valk Windmill (www.molenmuseumdevalk.nl)

9-      American Pilgrim Museum (ww.rootsweb.ancestry.com/~netlapm)

10-  De Burcht (www.deburchtleiden.nl)

11-  Pieterskerk (Oldest city church of Leiden www.pieterskerk.com)

12-  Keukenhof (www.keukenhof.nl)

A não perder o museum night in leiden www.museumnachtleiden.nl (Este ano a 4 de Julho,  desde as 20:00h até à 1:00h, podem visitar 7 museus por 10€)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A não perder:

 

- Mercado que se realiza todos os sábados. Encontra-se de tudo, peixe fresco, queijos típicos de Gouda (cidade próxima), as famosas bolachas holandesas (que, cá para mim são belgas) têm um sabor fantástico a mel e caramelo. Se quiserem uma experiência local a melhor hora é às 10:00h, e aproveitar para beber um coffee (latte macchiato) no café Van Engelen (fica em frente ao V&D, centro comercial) e passado 1h percorrer o mercado. É a não perder quando, pelas 11:00h, se vê holandeses a comer Haring (peixe crú) e Kibbeling peixe frito, bem como as batatas fritas com maionese. Tentem encontrar o Draaiorgel, instrumento musical tradicional holandês. Aqui neste espaço, encontra-se a Coornbrug ou Corn Bridge, primeira ponte do rio Rijin em Leiden. (Fica a 10m a pé, da Estação Central)

 

 

 

 

-Poemas de parede que podem ser encontrados nas fachadas das casas, para mais informações ver o site:

 

 

 

http://www.muurgedichten.nl/wallpoems.html “The Wall Poemas” que fornece todas as informações. (quem me dera ter encontrado este site antes, poupava muito trabalho na procura destes poemas, cansei-me na procura de um português e eis que encontrei só um, Álvaro de Campos (Vliet 46, Leiden NL), apesar de este site indicar três.

 

 

 

 

Espero, com este breve resumo, ter despertado o interesse dos que lêem, para uma visita a esta bela cidade holandesa.

publicado por visaocontacto às 08:57
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Sexta-feira, 26 de Junho de 2009

Guanxi, um elemento essencial nos negócios chineses

A cultura chinesa distingue-se da ocidental em muitas maneiras, e a forma como os negócios são conduzidos não é excepção.  Se queremos perceber quem manda na China, hoje em dia, temos que entender o significado da palavra guanxi. Traduzida literalmente, significa contactos. Mas é muito mais do que ter frequentado a mesma escola. Na Europa ou na América quem se conhece pode ajudar a arranjar um emprego, ou fazer entrar um filho numa boa escola. Na China, com quem se tenha guanxi pode significar a diferença entre liberdade ou cadeia, justiça ou discriminação, fortuna ou pobreza.

O termo chinês guanxi, traduzido, significa relacionamento e serve para qualquer tipo de relação. Mas no mundo empresarial chinês é entendido como a rede de contactos e conhecimentos entre várias partes que cooperam juntas e se apoiam umas às outras.

Guanxi é uma expressão fundamental e designa a complexa rede de relações indispensáveis ao funcionamento social, político e organizacional na China. Guanxi descreve a dinâmica básica na natureza complexa das redes de contactos influentes e relações sociais e o seu conceito central na sociedade chinesa. A mentalidade do empresário chinês é muito do género “Toma lá, dá cá”. Em suma, isto resume-se na troca de favores, que são esperados regular e voluntariamente.

Na sua forma mais básica, guanxi descreve uma ligação pessoal entre duas pessoas em que uma poderá realizar um favor ou serviço à outra. Guanxi também pode ser usado para descrever uma rede de contactos, com a qual um indivíduo pode contar quando algo precisa de ser feito, e através da qual ele pode exercer influência em benefício de outrem. O termo não é geralmente usado para descrever relações familiares, embora as obrigações guanxi possam ser descritas em termos duma família extensa. Também não é usado para descrever relações que possam encaixar noutro tipo de relações sociais já bem definido (patrão-empregado; estudante-professor; amizade). Os relacionamentos formados através do guanxi são pessoais e não transmissíveis.

Portanto, é um conceito importante para se aprender e entender se alguém quer funcionar correctamente e fazer negócios na sociedade chinesa. Considerando o crescimento da China, esta é, provavelmente, uma boa ideia. 

A importância do guanxi

Independentemente da experiência de negócios no seu país natal, na China é o guanxi certo que faz toda a diferença para assegurar que o negócio vai ter sucesso. Ao ter o guanxi certo, a organização minimiza os riscos, frustrações e desilusões ao ter negócios na china.

Frequentemente, é adquirindo o guanxi certo com as autoridades relevantes que se vai determinar o posicionamento competitivo de uma organização a longo prazo na China. Além disso, os riscos inevitáveis, as barreiras e armadilhas que se vão encontrar na China, serão minimizados quando se tem a rede de guanxi certa a trabalhar para nós. É por isso que o guanxi certo é tão vital para qualquer estratégia de negócio de sucesso na China.

Embora desenvolver e manter o guanxi na China seja muito exigente a nível de tempo e recursos, esse tempo e dinheiro necessários para estabelecer uma rede forte de contactos vale bem o investimento. O que o negócio pode obter em retorno através dos favores para os seus parceiros é, muitas vezes, muito mais valioso, especialmente a longo prazo, ou se se está em apuros. Até negócios familiares, na China, estabelecem vastas redes com os seus fornecedores, retalhistas, bancos e oficiais do governo local. É muito comum que indivíduos de uma organização visitem as casas dos seus conhecidos de outras organizações, trazendo presentes (como vinho, cigarros, etc). Apesar deste hábito poder parecer intrusivo, à medida que vamos aprendendo a cultura chinesa, torna-se mais fácil de entender e fazer parte deste costume que é tão central para o sucesso duma actividade comercial chinesa. 

Os chineses preferem lidar com pessoas que conhecem e confiam quando se trata de fazer negócios. Apesar de parecer não ser muito diferente de fazer negócios no mundo ocidental, esta confiança imensa nos relacionamentos significa que as companhias ocidentais têm que se dar a conhecer aos chineses, antes que qualquer negócio possa ter lugar. Além disso, esta relação não é simplesmente entre empresas mas também entre indivíduos, a um nível pessoal. A empresa tem de manter esta relação se quiser fazer mais negócios com os chineses.

Em primeiro lugar, o guanxi não tem de ser baseado em dinheiro. Tratar alguém com decência, quando outros o tratam injustamente, pode resultar numa boa relação. Segundo, começa com, e é construído, através da fidedignidade do indivíduo ou da empresa. Em terceiro lugar, ser confiável e fidedigno definitivamente vai reforçar a relação. É como serem amigos, e os amigos podem contar um com o outro nos bons e maus momentos. Quarto, contactos frequentes entre eles fomentam o entendimento e os laços emocionais e os chineses frequentemente sentem-se obrigados a fazer negócios com os amigos primeiro.

No contexto chinês, o guanxi assume um carácter muito semelhante ao contrato no caso da empresa ocidental, em geral representado por pessoas ou entidades. Quando alguém faz um pedido a um detentor de recursos (quaisquer que eles sejam), este, ao invés de se debruçar sobre um papel, considera o tipo de guanxi existente entre ambos, para depois adoptar comportamento de acordo com regras específicas de interacção social. Se não se conhecer o detentor de recursos, pode ser solicitada a intervenção de um intermediário, de preferência de posição elevada.

O guanxi é usado como uma fonte de conhecimentos e especializações, para encontrar parceiros de negócios e fornecedores. Outras razões são arranjar melhores relações de maneira a criar novos negócios e gerar novos clientes. Através de referências, as oportunidades surgem e apoiam o negócio. Guanxi é também usado para cooperar, estar informado, e manter clientes existentes. Consultoras também usam guanxi para ajudar, fazer acordos negociais, explorar compradores potenciais e como uma ferramenta de marketing.

O guanxi é completamente legal na cultura chinesa e não considerado como suborno de qualquer forma. Por isso, não há necessidade nenhuma de nos sentirmos desconfortáveis em relação a isso. Mas, por vezes, as obrigações guanxi têm precedência sobre deveres civis, levando ao nepotismo e amiguismo. Quando uma rede guanxi quebra regras burocráticas, pode levar a corrupção.

E há também riscos neste sistema. Quando alguma coisa corre mal, as relações são desafiadas, e as amizades rapidamente desaparecem. Guanxi pode também ser muito unilateral. Quando está envolvido guanxi, existe o risco de obter uma factura com o dobro do valor pelo qual se negociou.

Curiosidade: A resposta mais comum para aceitação de uma desculpa em Mandarin é  méi(yǒu) guānxi , que literalmente traduzido significa “não tem guanxi” (implicações).

O desenrascanço à portuguesa

A propósito de características culturais, e como nota final, refiro-me agora a uma grande tendência portuguesa, que muito jeito nos dá (e falo por experiência própria) quando decidimos embarcar em aventuras na China.

Um site norte-americano fez uma lista das 10 palavras estrangeiras que mais falta fazem à língua inglesa. A palavra portuguesa "desenrascanço" é a que lidera (ilustrada com o protagonista da série MacGyver).

“Desenrascanço: a arte de encontrar a solução para um problema no último minuto, sem planeamento e sem meios. O que é interessante sobre o desenrascanço - a palavra portuguesa para estas soluções de último minuto - é o que ela revela sobre essa cultura. Enquanto a maioria de nós crescemos sob o lema dos escuteiros 'sempre preparados', os portugueses fazem exactamente o contrário. Conseguir uma improvisação de última hora que, não se sabe bem como, mas funciona, é o que eles consideram como uma das aptidões mais valiosas: até a ensinam na universidade e nas forças armadas. Eles acreditam que esta capacidade tem sido a chave da sua sobrevivência durante séculos. E não se ria: a uma dada altura eles conseguiram construir um império que se estendeu do Brasil às Filipinas. Que se lixe a preparação. Eles têm desenrascanço".

E não é que temos mesmo? 

 

Maria João Bacelar | C13

Shaoxing Lorenz Bell

Shaoxing | China

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Quinta-feira, 25 de Junho de 2009

Fare il portoghese

João Calapez | C13
 
Sonae Sierra
Milão | Itália
 
 

Ao saber que vinha morar para Itália, não previ grandes dificuldades relativas à aculturação, muito menos um choque de culturas. Passados quase cinco meses posso dizer que tinha razão. As diferenças culturais naturalmente existem e provocaram alterações no dia-a-dia, mas se é a isso que se chama processo de aculturação, então o meu correu da melhor forma possível.

 

Começando pela alimentação, a cozinha italiana é uma das mais difundidas a nível internacional, pelo que qualquer pessoa conhece minimamente a oferta disponível e não tem grandes surpresas quando vai a um café ou restaurante. Ainda assim, começar o dia com um cappuccino em vez de um galão e uma brioche (que na verdade é um croissant) em vez de uma torrada teve que passar a fazer parte da rotina. Uma acqua naturale não é aquela que não está fria, mas sim a que não tem gás. A pasta deixou de ser um acompanhamento e passou a ser um primo (um primeiro prato) e, supostamente, depois dele ainda viria o secondo (que seria um prato de carne ou peixe). Felizmente é aceitável comer apenas um deles. Mas caso se comam os dois, inverter a ordem dos pratos (comer primeiro o bife e só depois a massa) ou pedir que venham em simultâneo é visto com alguma estranheza. Se todas as refeições, em geral, são boas ocasiões para se conhecer pessoas, o aperitivo milanês é, por excelência o evento social mais apreciado da cidade. Na prática, é um motivo de encontro com os amigos ao final da tarde, onde a bebida é acompanhada por um buffet, e que acaba por substituir o jantar num restaurante (de forma bastante mais económica).

 

A par dos aperitivos, jogar calcetto (futebol de cinco) à segunda-feira à noite com os colegas de trabalho foi para mim um dos mais importantes factores de integração. Entre interistas, milanistas, romanistas ou juventinos, falar de futebol será uma das formas mais fáceis de socializar com um italiano. Na verdade, o calcio, mais do que o desporto preferido, é uma das paixões deste povo, um tema de conversa recorrente de manhã nos cafés, durante as pausas do trabalho, ou fora delas, e até às refeições. Ao dizer que sou português, recebo automaticamente um de dois comentários, sempre ligados a este tema: ou adoram o José Mourinho (os interistas) ou detestam-no (os restantes). E muita gente pensa até que todos os portugueses têm o feitio especial do nosso notável compatriota. Se acontecer estar em casa e não ter ninguém com quem falar de calcio, basta ligar a televisão e assistir a um dos muitos programas (pelo menos um por dia) exclusivamente dedicados a este desporto.

 

A televisão é de facto outro dos aspectos característicos deste país. Para além da já referida omnipresença dos programas sobre futebol, há outros elementos que se encontram facilmente em qualquer programa, desde os talkshows aos concursos, nomeadamente a bela apresentadora (ou bailarina ou até a simples assistente que lê os e-mails dos espectadores) que usa sempre um vestido que realça os seus dotes corporais e em torno dos quais gira toda a emissão. Todos os filmes e séries estrangeiros são dobrados. Por último, e associado ao temperamento dos italianos, é também frequente assistir-se a acesas discussões sobre temas que vão desde o Grande Fratello à política nacional.

 

Estes são alguns dos aspectos que resolvi realçar, mas obviamente há mais, como por exemplo a obsessão pela imagem e pela moda (levada ao extremo aqui em Milão), ou a facilidade com que nos podemos de transportes públicos (desde a bicicleta até ao comboio). Em suma, pondo tudo numa balança, o resultado é uma adaptação extremamente simples, facilitada pelo espírito receptivo dos italianos e tornada mais interessante pelas suas peculiaridades.

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Domingo, 21 de Junho de 2009

Pas de problème

Cristina Mendes   |   C13
 
Arcofina Holding - Hotel Hilton Alger
Argel | Argelia
 

A semana passada o meu chefe, à hora de saída, diz-me o seguinte :

 

- Christinaaa, vous êtes entrain de devenir algérienne! Ahaha.

Ao que respondi:

- Quoi ? Moi ? Porquoi?

Não me quis responder, disse que ficaria para o final do estágio.

 

Fiquei a pensar no assunto, tentando descobrir o que o levou a fazer semelhante observação.

Acabei por perceber que, realmente, há coisas que executo inconscientemente e que são reflexo inato das influencias culturais a que estou inevitavelmente submetida.

 

Estou a viver em Argel há quase 4 meses e a bijutaria que uso é berbere, a música do meu mp3 é o Raï (musica popular folclórica oriunda de Oran – Argélia ocidental) e dou por mim frequentemente a empregar palavras francesas em pleno discurso português.

 

Noto, também, que estou mais descontraída em relação a certas exigências a que estava habituada sobretudo no que respeita a comida, condições de higiene e até de conforto. Tive de me habituar às casas de banho turcas e copos e talheres menos higienizados, pas de problème, o que se perde em exigência e rigor, ganha-se em imunidade e capacidade de improviso.

 

O mesmo se passa com a minha tolerância para com irregularidades na estrada. Rotundas contornadas em sentido inverso e ultrapassagens pela berma da auto-estrada, pas de problème, assim evita-se o trânsito infernal muito mais facilmente.

 

Também estou a habituar-me um pouco ao ritmo do povo argelino, que deixa tudo para o último segundo. As situações são tratadas à custa de sucessivos pas de problème até haver mesmo um problème pois não foram resolvidas a tempo. Talvez por causa da religião, que influencia todos os momentos da suas vidas.  Segundo o Al Corão, o percurso de um ser humano é pré-definido e "não é dado ao fiel, nem à fiel, agir conforme seu arbítrio, quando Deus e Seu Mensageiro é que decidem o assunto." (Surata 33, versículo 36). Para além disso, a verdadeira vida é aquela que se vive após a morte; não sendo a vida que vivemos real, mas um mero sonho e por isso não devêmos levá-la muito a sério.

 

Não me consigo adaptar com facilidade no que toca a relação desproporcional entre homem e mulher em termos de relevância na sociedade. Aqui, o homem é um ser superior, e nem vale a pena questionar porquê; está escrito no livro sagrado. Há bastantes mulheres emancipadas, especialmente na área de negócios, mas em posições de liderança prevalecem sempre os homens, e as próprias mulheres preferem ser lideradas por uma figura masculina, pois , segundo consta, têm mais capacidades. O simples facto de andar sozinha na rua em pleno dia é uma aventura, é preciso coragem para enfrentar os comentários menos elegantes e comportamentos que visam unicamente reprimir a liberdade feminina.

 

Contudo, não posso deixar de sublinhar a hospitalidade e prestabilidade dos argelinos, que é absolutamente inacreditável para um povo que sofreu tanto na historia (de realçar que não foi há mais de 10 anos que havia recolhimento obrigatório e massacres terroristas em doses diárias).

 

E lembro aquela frase do meu chefe. Provavelmente por ser morena e com traços mediterrânicos sinto-me parecida com a tipologia da mulher argelina. Nesta cidade de contrastes e mística, com o mar para onde se estendem os olhares, de qualquer ponto que nos situemos, encontro, de certo modo, algumas afinidades com Lisboa, e talvez por isso me sinta bem integrada no cenário de Argel.

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Sábado, 20 de Junho de 2009

Entre o Mediterrâneo e o Sahara

Pedro Caprichoso | C13

SECIL

Gabès  | Tunísia

 

Quando penso em “aculturação”, penso imediatamente na Língua, na Alimentação e – claro está – nas Pessoas. Comecemos pelas últimas:

 

As pessoas

 BRUSCAS VARIAÇÕES DE HUMOR. Esta é a característica que mais demarca os Tunisinos a nível pessoal. Tão depressa estão no fundo do poço – deveras deprimidos – como no topo da montanha – felicíssimos da vida. Exemplo disso foi o episódio que testemunhei pouco depois de chegar à Tunísia. Certo dia apareceu-nos à porta do gabinete um velhote com o ar mais simpático do mundo. Como apenas se conseguia expressar em árabe, um colega português conduziu-o, então, a um gabinete contíguo para, com ajuda, sabermos ao que vinha. Eis senão quando o velhote desata a gritar a plenos pulmões. Eu não os acompanhei, pelo que somente perscrutei os gritos. E deixem-me que vos diga que perscrutar gritos em Árabe é, seguramente, uma das coisas mais assustadoras que já

Uma mistura enjoativa de catinga, perfume roscofe e fruta
experimentei nesta vida. O motivo da altercação não é para aqui chamado. Importa apenas dizer que senti uma pena terrível do homem. Se os gritos deste velho tiveram este efeito em mim, nem quero imaginar o que será assistir, por exemplo, em Gaza, à histeria dos nossos irmãos Palestinianos quando os vemos na televisão a carregar os seus mortos. As pessoas são assim mas é assim que eu gosto delas. São mais verdadeiras.

 

FORMAIS. Esta é a característica que mais define os Tunisinos a nível profissional. São muito formais – capazes de perder meia-hora a formatar um rodapé – mas depois têm alguma dificuldade quando chega a hora de arregaçar as mangas e passar à prática. Os portugueses, pelo contrário, são conhecidos pelo desenrasca e por fazer as coisas em cima do joelho. Conseguem ver a distância que nos separa? E a que nos une? O trabalhador português vê uma fuga de óleo e é capaz, ele próprio, de tentar resolver o problema, acaso sozinho, acaso sem conhecimento do seu superior, e acaso privado do necessário equipamento de protecção, habilitando-se assim a entrar para a estatística como mais uma vítima de acidente de trabalho. Quanto ao Tunisino, este apercebe-se da fuga, ignora-a – pois está quase na hora do almoço e a fome aperta – e só depois, só lá mais para o fim da tarde, se se lembrar, é que informa o seu superior da ocorrência. Sinceramente não sei o que é o melhor: se um Tunisino indolente se um Português chico-esperto. Sei apenas isto: somos tão diferentes (e no fundo tão iguais). Somos irmãos.

 

A Língua

 VERBO ÊTRE. Verbo que tanto designa “ser” como “estar”. E é justamente nesta dupla função que está o busílis da questão para um tipo como eu, que fala traduzindo literalmente do português para o francês. Chegará o dia, oxalá, em que tal não será necessário e o meu francês equiparar-se-á ao do Barroso em Bruxelas, saltando deste para o Inglês e do Inglês para este com a mesma facilidade com que o mesmo saltou de Primeiro-Ministro de Portugal para a Presidência da Comissão Europeia. Mas por enquanto é assim, na base do desenrasca, que me tenho safado.

 

Estar com fome conta como atenuante, mas não explica tudo. Expliquemos pois: pouco passaria da uma da tarde quando eu estava no gabinete do G. e este me pergunta: “Vamos almoçar?”. Ao que respondi: “Oui, parce que je suis «faime». “Como é que é?”, inquiriu G. de pronto. Após o que desatou às gargalhadas, como se vitimado por um ataque de cócegas. Se – comecei eu a pensar com os meus botões – je quer dizer “eu”, se suis quer dizer “estar” e se faim quer dizer “fome”, então Je suis faim quer dizer: “Eu estou com fome”. Certo? Errado. Em primeiro lugar, porque em francês apenas se utiliza o verbo Avoir (Ter) em conjugação com a palavra faim (fome). Em português, pelo contrário, tanto se utiliza o Ter como o Ser: tanto posso ter fome como estar com fome. E depois, como já devem ter reparado, porque aqui o taralhoco pronunciou mal a palavra faim: em vez de faim saiu “faime”. A última sílaba (me) é claramente uma reminiscência da palavra em português (fome). "Faime" não existe mas assemelha-se bastante à palavra femme, que em francês significa “mulher”. Ou seja, no fim de contas, o que eu disse foi: “Sim, porque sou mulher”. Frase que G. depois fez o favor de espalhar aos sete ventos, desde logo a começar pela cantina, onde almoçámos. Hoje, dois meses após o incidente, ainda há quem passe por mim e me pergunte: “Então, ainda tens fome?”

 

A Alimentação

CONDIMENTOS. Passadas duas semanas após a minha chegada à Tunísia, comecei a detectar um cheiro esquisito. Para onde quer que fosse, lá estava o mesmo cheiro: em casa, no carro, no trabalho… Uma mistura enjoativa de catinga, perfume roscofe e fruta em avançado estado de decomposição. Mas donde vem este pivete? Fiquei com esta pergunta na cabeça durante mais de um mês, pergunta para a qual apenas encontrei resposta na semana passada. Resposta: de mim próprio. É um facto científico que a alimentação determina o nosso cheiro. Já havia lido qualquer coisa sobre o assunto, pelo que bastaria somar 2 + 2: a alimentação determina o nosso cheiro + mudança de hábitos alimentares = mudança de cheiro. Aparentemente, a alimentação assaz condimentada faz-me cheirar a uma mistura enjoativa de catinga, perfume roscofe e fruta em avançado estado de decomposição. O cheiro é mau mas a comida é óptima.

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Quinta-feira, 18 de Junho de 2009

Aculturação

Cristina Fernandes | C13
 
Consulgal Hungaria
Budapeste | Hungria
 

Escrever sobre o meu processo de Aculturação neste Estágio, faz-me pensar que embora esta não seja a primeira vez que vivo fora do país onde nasci e cresci, nem a primeira experiência de trabalho fora dele, é sem dúvida, a primeira vez que me encontro a viver num sítio onde a Língua me surge como algo tão distante e de tão difícil apreensão.

 

A sensação de não pertença instala-se, ou instalou-se em mim, disfarçadamente, sem que me fosse dando conta. Por esta altura, mais de 4 meses passados, habituei-me com naturalidade a não compreender os avisos sonoros do tram, do metro, do bus, os recados deixados na entrada do edifício, os jornais na rua e um sem fim de contactos ocasionais no dia-a-dia.

 

O processo vivido até agora foi variando ao longo do tempo. Pela minha experiência, não creio que se possa definir de forma clara, estados distintos de encontro ou desencontro com a nova cultura a que estamos expostos. No entanto, concordo que há uma série de etapas que provavelmente serão comuns à maior parte de nós.

 

foi uma vontade e uma opção viver no estrangeiro

Parece-me que, inicialmente, a chegada a um país novo, a necessidade de ter de lidar com uma série de aspectos práticos, nomeadamente: habitação,    contas, transportes, emprego, ruas e percursos, nos obriga a uma dinâmica que elimina espaço para dúvidas ou longas meditações. Acrescida a estas necessidades práticas vem a curiosidade e vontade de conhecer o nosso novo ambiente. Porque, para mim, ao interesse e talvez até à necessidade de me deparar com situações novas que me forcem a redefinir, que me tragam a sensação de que de repente nada é familiar, vem associada uma tendência para criar novas rotinas. Encontrar o café da vizinhança, a mercearia que está aberta ao fim de semana, o cinema onde os filmes não são dobrados em húngaro, os sítios para estacionar a bicicleta, tudo isto acaba por ocupar os tempos fora do trabalho e eliminar a sensação de desenquadramento. A vontade de viajar e de conhecer o país é também, no meu entender, um factor fundamental nesta primeira descoberta das novas fronteiras.

 

No entanto, à  medida que o tempo passa e que a cidade começa a tornar-se mais confortável, deixam de existir descobertas constantes e passam a ser simplesmente rotinas, mais ou menos agradáveis, consoante o que se foi encontrando pelo caminho.

 

Talvez por isso, porque são tão facilmente fabricadas, não é nas rotinas que sinto as grandes diferenças, é no confronto com as pessoas, aliás, com a diferença de valores e de formas de estar. De maneira alguma pretendo dizer que os meus, ou os do meu país são melhores ou piores, mas serão sem dúvida diferentes, e não sinto que seja imediata a proximidade com os Húngaros. Sinto que, no contacto diário, as pessoas são afáveis e, se solicitadas, tentam ajudar, mas são também algo fechadas e tímidas. Por outro lado, num ambiente mais descontraído serão até ávidos de comunicação, por vezes muito fugaz e que nem sempre se consolida. Parece-me que este é, sem dúvida, um país de extremos, de muito frio e muito calor. 

 

O que por outro lado se instalou rapidamente, foi a valorização do espaço exterior de uma forma bastante mais consciente. Porque o Inverno pesa e é longo, aproveitar um dia de sol, um bocado de relva, um passeio de bicicleta, a possibilidade de estar fora de casa, é algo que não deixo de fazer hoje em dia.

 

Posso dizer que, para mim, foi uma vontade e uma opção viver no estrangeiro. Não me surge a dúvida de querer continuar ou não a viver num país que não o primeiro em que vivi, no entanto, nesta altura começo a sentir falta do que me é familiar, que me define e me faz perceber as minhas fronteiras. E julgo que essa ausência prolongada não seja benéfica para as decisões a tomar neste período final do estágio, onde questões como continuar ou mudar se instalam.

 

Não sei se me apercebo, neste momento, de tudo o que trouxe, que levarei ou que me transformou. Mas sei que continuo a acreditar cada vez mais, que viajar nos enriquece, que o confronto com a diferença é benéfico, ainda que nem sempre agradável, e que estarei sem dúvida diferente. Não sei se nas vontades, mas na capacidade de aceitação, de dinamismo, de confronto com a solidão, com o desajuste, com a necessidade de me alterar, adaptar ao que me rodeia, e também com a decisão de rejeitar aquilo que não quero, de afastar mudanças e formas de estar com as quais não me identifico, nem pretendo abarcar.

 

Creio que a Aculturação se trata disto mesmo, do confronto de duas culturas, da forma como se absorve e se rejeita aspectos de ambas, e a identidade que surge como produto de tudo isto.

Talvez nada disto seja claro, nem sei se alguma vez o será. Mas se há algo que quero deixar da minha experiência até hoje é que: Vale a pena.

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Quarta-feira, 17 de Junho de 2009

Fronteiras que se esbatem...

Carolina Batista | C13
 
Carmo Estruturas - Carmo France
Bordéus | França
 

Eu vim parar a Bordéus, França. Bem vistas as coisas, são apenas 1160 km de distância para chegar a Lisboa, será que podemos esperar ter mudanças culturais radicais num espaço tão curto? Pessoalmente, depois de três meses e meio de estágio, e apenas com mais um mês e meio até ao fim, penso que a aculturação aqui não é nenhum dilema, aliás ela passa quase despercebida, reflectindo-se mais em pequenos apontamentos do dia-a-dia, do que propriamente em grandes modificações na forma de estar e de viver.

Talvez tenha uma visão que possa parecer excessivamente simplista mas, depois de ter passado quase três anos numa África do Sul recentemente saída do apartheid, ainda muito conflituosa na sua procura de uma identidade cultural una, toda a Europa me passou a parecer estranhamente próxima. Talvez não nos devamos realmente esquecer que toda a história da Europa se faz em torno de cruzamentos, misturas e conflitos. Basta, até, olharmos para o nosso próprio exemplo. O pai do nosso primeiro rei, D. Henrique, era um duque da região francesa de Borgonha. De certa forma, devemos a nossa existência à perseverança de um descendente francês.

Esta capacidade de luta e de reivindicação social francesa vêm de longe, quase que me atrevo a dizer que a Revolução Francesa é apenas a marca mais visível. E também não podemos esquecer o Maio de 68, emblema muito em voga nestes últimos meses de retorno à luta estudantil. Uma grande parte das universidades parou, chegando mesmo a haver ocupações dos Campus. Ainda ontem, na Universidade de Toulouse Le Mirail, a polícia foi chamada a intervir para desbloquear as instalações. Por comparação, eu diria que nós, portugueses, somos um pouco adormecidos.

Mas não se pense que só há coisas boas a dizer, até porque, por outro lado, a consciência que os franceses tem da sua própria capacidade reivindicativa como povo, torna-os também excessivamente orgulhosos e até mesmo narcisistas, criando o efeito de barriga ao sol. Quando atingem determinado objectivo, não continuam, não tentam superar-se a si mesmos, acham imediatamente que já não existe para lá de. Dou um exemplo dentro da área em que me encontro a trabalhar: foi a França que descobriu a tecnologia dos lamelados colados, mas a falta de empenho na continuação do estudo sobre a tecnologia e as suas formas de produção, fez com fosse completamente ultrapassada por países como a Bélgica e a Alemanha. Ou seja, a França ficou com o orgulho da invenção, mas não com os lucros da sua implementação.

Esta é uma marca que se sente nas tais pequenas coisas do dia-a-dia, aquelas pequenas adaptações que temos de fazer para nos sentirmos mais integrados. Por exemplo, um francês quando aprecia qualquer coisa nunca diz que está bem ou que gosta, vai sempre dizer “c'est pas mal” - não está mal. Achei que conseguia contornar a situação e que conseguiria sobreviver dizendo “c'est bien” - está bem, mas era apenas uma doce ilusão, porque no fim de contas, também não raramente, o “ não está mal” é utilizado em Portugal. Realmente, se calhar, são mais os pontos em comum do que os que nos distanciam. Talvez, também por isso, a França tenha sido país de eleição para a emigração portuguesa.

Mas se tivesse que escolher uma característica incontornável, que tenho alguma dificuldade em perceber, seria a questão das pastelarias.  Aqui só vendem mesmo os bolos, se quisermos uma bebida a acompanhar temos de ir para o café ao lado... pedimos a bebida, sentamos, e não, ninguém se vai importar que estejamos a comer um bolo ali do lado, já experimentei fazer, e mesmo se me fez um pouco de confusão, foi só a mim, porque mais ninguém se importou! Descontracção à francesa...é o je ne sais quoi que dá vontade de continuar por cá.

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Segunda-feira, 15 de Junho de 2009

O Istmo de Cabo a Rabo

António Vieira | C13
 
Bial
 
Cidade do Panamá, Panamá
 

Queridos amigos, caros colegas, estimados conhecidos, pessoas em comum, ir do Atlântico ao Pacífico significa para a maioria de nós ir de um lado ao outro do Mundo. Pois bem, tenho a dizer que a AICEP me fez descobrir que, para aproximadamente, 3 milhões de pessoas, fazer tal coisa significa pegar no carro e conduzir ao longo de pouco mais de 80km de estrada.

 

o Panamá  parece-me  um país marcado pela diferença que, sem ter a necessidade de estar tipificado, corre constantemente atrás de uma identidade própria.

 

Isto pode não parecer grande coisa mas, se repararmos bem, vamos ver que nesta terra entre as  duas Américas e dois Oceanos estão concentradas heranças e influências de todos os cantos do globo.

 

A esta coexistência pacífica de raças, costumes e culturas, eu resolvi chamar de Panameño way of life. Suponho que se estejam a interrogar porque razão é que decidi misturar dois idiomas numa expressão tão curta. A razão é simples:

o modo de vida desta gente lutadora e de coração na boca  é baseado na diversidade da sua cultura. Se, por um lado herdaram do colonialismo espanhol a língua, a alegria, a hospitalidade e a espiritualidade, por outro lado, herdaram das décadas de domínio económico norte-americano, o capitalismo, a comida, os carros, as casas, etc. Em poucas palavras: de Espanha veio a parte intangível do seu estilo de vida e dos Estados Unidos da América ficou a parte mundana do dia-a-dia.

Assim, não é de estranhar que a meio de uma conversa, apareça uma ou outra palavra da língua de Sua Majestade, com o propósito de sinónimo para um termo que seria demasiado corriqueiro na língua de Cervantes.

 

Aqui, o choque de estarmos num país diferente começa no momento em que se abre a porta do avião: o calor. Nos primeiros dias desesperante e asfixiante, nos restantes  banal e de importância relativa...tornando os 30ºC de temperatura ambiente um elemnto comum do dia-a-dia.  

 

Num país onde o relevo dificulta a comunicação terrestre e o excesso de precipitação a torna ainda mais difícil, é normal que se encontrem lugares tão remotos, cuja existência no nosso intelecto se devia, somente, ao cenário de uma produção cinematográfica baseada na história de um qualquer protagonista de aventuras.

Por outro lado, se da cidade a imagem que fica na nossa mente é a de um skyline que desafia a engenharia civil, onde as torres de betão e vidro parecem disputar  entre si o título de “a mais alta”; do norte fica a imagem de um verde vivo, com montanhas que se perpetuam no tempo. Já o sul, emana vento húmido da floresta tropical e a letargia derivada da possibilidade de poder passar o dia numa pequena ilha rodeada de um azul que começa por ser celeste, mas que o horizonte vai convertendo em safira.

 

E as gentes deste lugar? Bem, essas vêm de todo o lado...da China vieram aqueles que, carregados de um empreendedorismo singular, acabaram por dominar o pequeno comércio de rua. Do Caribe chegam diariamente os que possuindo somente a força dos braços, lutam de de sol-a-sol por uma vida melhor. Com o mesmo objectivo há aqueles que deixaram para trás o hemisfério sul.  Do norte, mais a norte que o México, chegam os que já contribuíram para o desenvolvimento do seu país e procuram o murmúrio de um mar de olhar quase langue ao entardecer. Outros ainda, recém-chegados, da Europa e da Ásia, são transportados por táxis e por detrás dos seus vidros fumados observam atentamente as oportunidades de negócio, como quem contempla uma jóia em bruto, por laminar. Finalmente, há ainda aqueles que apesar da diferente fisionomia têm em comum o facto de terem como Pátria a República do Panamá.

 

Deste modo, o Panamá  parece-me  um país marcado pela diferença que, sem ter a necessidade de estar tipificado, corre constantemente atrás de uma identidade própria. No entanto, quando chegamos ao final voltamos ao ínicio, pois essa identidade derivará de uma amálgama de pessoas, raças, costumes, crenças, culturas e hábitos.

 

É por todo isto e muito mais que eu recomendo o Panamá.

publicado por visaocontacto às 21:00
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Terça-feira, 26 de Maio de 2009

Espanha – Um olhar sobre La Crisis

André Silva | C13

 

         Centrocar

         Madrid | Espanha

 

Nuestros Hermanos, como carinhosamente os Portugueses se referem aos Espanhóis que a meu ver, só tem esse significado pela proximidade geográfica e por existir também alguma ligação cultural. Na medida em que, se deitarmos um olhar mais atento a este País, apercebemo-nos de enormes diferenças em cada virar da esquina, em cada rua - calle, no Idioma, nos hábitos sociais, formas de pensar, de trabalhar, de atitude para enfrentar as adversidades da vida, até na economia, tudo é diferente. Chego mesmo a concluir que aqui em Espanha a crise é distinta da que se vive, tanto em Portugal, como no resto do mundo.

 

Olhando um pouco para a história recente espanhola, vemos que até há bem pouco tempo, este país era o campeão do crescimento económico. Viveram-se tempos de grande euforia económica, em que tudo se vendia, tudo se comprava, a oferta de trabalho era abundante e variada, os salários eram considerados bons (muito acima dos praticados em Portugal), permitindo a aquisição de todo o tipo de bens, casa, carro e afins… quase toda a gente mostrava poder de compra, exteriorizava bem-estar e aparentava felicidade.

 

Pesquisando o porquê desta euforia económica, somos conduzidos, inevitavelmente, a olhar para dois importantes sectores, considerados os pesos pesados no desenvolvimento de uma economia. O sector imobiliário/construção civil e o sector bancário. Claro que uma economia fluorescente normalmente atrai os olhares de toda a gente, especialmente os da comunidade de trabalhadores de países menos desenvolvidos, onde a precariedade de trabalho e condições de vida são uma constante do dia-a-dia.

 

Daí, a Espanha ter praticamente sido invadida por uma quantidade razoável de imigrantes, em busca do El Dorado. Esta invasão massiva teve como consequência imediata a procura de habitação e, dado que a procura excedia em larga escala a oferta, motivou a construção exponencial de imóveis, com reflexos imediatos na especulação imobiliária. O sector bancário aparece como agente financiador de todo este mercado emergente que parecia uma fonte inesgotável de proveitos. A procura e a atribuição de créditos bancários para aquisição de bens apontava para ganhos avultados, para os sectores que directamente originaram esta explosão. A Espanha estava para as empresas e negócios como o paraíso para o Homem.

 

Com o despoletar da crise financeira a nível mundial, a Espanha apresentou uma economia em grande parte sustentada pelos sectores imobiliário/construção e bancário, mostrando toda a fragilidade em que a mesma estava sustentada e ressentiu-se disso como nenhum outro país da Zona Euro.

 

Em cerca de um ano e meio, a taxa de desemprego aumentou mais de 50%, cifrando-se actualmente em cerca de 17 %, correspondendo a cerca de 4.000.000 de desempregados.

O sector imobiliário/construção estagnaram e, em efeito “bola de neve”, arrastaram consigo uma boa parte de outros sectores da economia deste País, tais como o do automóvel e das máquinas para a construção, etc., com registo de quebras nas vendas da ordem dos 65% a 80% respectivamente. A economia deste País, neste momento, avança e recua como um motor aos solavancos. Crescimento efectivo, só mesmo na taxa de desemprego e no crédito mal parado, este último com repercussões sociais, com a subsequente venda em hasta pública de imobiliário (habitações, lojas, naves) e de veículos.

 

Reconheço que numa conjuntura como esta, haverá sempre operações cirúrgicas de mercado, as quais resultarão no desaparecimento dos elos mais fracos, sejam eles empresas frágeis, com os consequentes despedimentos, especuladores inveterados ou investidores incautos. No entanto há um sector que tem sentido muito menos os efeitos adversos desta crise - o sector da Restauração.

Os estabelecimentos de restauração, incluindo os de diversão nocturna, (pese embora o facto de existir um decréscimo da procura da ordem dos 10% - 15%), têm reagido bem à situação, oferecendo  redução dos preços, procurando assim atrair mais clientes, que a par de uma cultura de “rua”, contribuem deste modo para que estes estabelecimentos se encontrem sempre cheios de gente pronta a consumir.  

A realidade é que, esta crise, tem provocado uma transformação progressiva da atitude desta sociedade e após o período da euforia económica com taxas de crescimento na casa dos dois dígitos, vivemos actualmente tempos de acalmia, de estagnação, diria mesmo de contracção da economia. A solução tem-me parecido simples e vem directamente da expressão “temos de encarar a realidade e enfrentá-la”.

 

Desta forma, as empresas têm vindo, mais do que nunca, a estudar e analisar as suas fraquezas e os seus pontos fortes, ensaiando métodos de contenção, cortando nas despesas, reestruturando-se, procurando outros mercados e espreitando novas oportunidades, de modo a fortalecerem-se, para assim resistirem à crise e, no futuro estarem mais fortes e mais bem preparadas.

 

É evidente que, analisando esta crise global sob o ponto de vista didáctico, verificamos que da pior forma houve um ganho de “know-how”, quer pela parte empresarial, quer pela parte individual e que, talvez de outra forma, essa aprendizagem fosse bem mais difícil de obter.

 

Olhando de novo para o passado, a história tem-nos mostrado que a Espanha já viveu crises complicadas; no final dos anos 70, após a morte do general Franco, com 2 dígitos de inflação, no fim dos anos 80 quando cerca de 50 bancos tiveram de ser intervencionados pelo Estado e no anos 90 com o desemprego na casa dos 24%. Em todas elas a via foi quase sempre a mesma. O segredo está à vista, um dos grandes recursos do País também tem sido a família, que se desdobra até ao parentesco mais longínquo, dando sempre um ombro para os mais carenciados, até estes encontrarem as condições mínimas de sobrevivência com dignidade.

É um pouco olhando para esse passado e, se a isso juntarmos que a Espanha tem um tecido social modernizado, um sistema de saúde socializado, onde toda a gente tem assistência médica, que tenho a convicção profunda que, embora nada mais seja como dantes, uma vez mais a Espanha encontrará o seu caminho, onde surgirá uma economia mais estável, mais estruturada, fortalecida pela poupança dos recursos monetários de cada família e pela poupança dos recursos energéticos, uma solidez institucional apoiada em valores sociais mais consentâneos com a globalidade em que vivemos, com maior uniformidade de critérios e uma maior defesa e valorização do indivíduo, dentro de uma sociedade, como factor essencial ao desenvolvimento e prosperidade de um País.   

publicado por visaocontacto às 17:50
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Quarta-feira, 3 de Outubro de 2007

Dinamarca - Uma cultura de sucesso.

   Teresa Rita - AICEP, Copenhaga, Dinamarca.

 

 

A Dinamarca é apontada como um dos países mais ricos do mundo, e de entre os vários factores que podem ser avançados como causa, o elevado nível de produtividade é, sem dúvida, um dos que encabeça a lista. Uma cultura muito positiva e auto--favorecedora que se expande às organizações, explica parte do fenómeno.

 

Com uma economia francamente saudável, crescendo anualmente quase sempre a um ritmo superior ao dos restantes países da União Europeia, este país tem um dos PIB per capita mais elevados, a contrastar com o cenário português.

Menos concreto, mas igualmente indicador de sucesso, é o 1º lugar que a Dinamarca ocupa no ranking de povos que se auto--classificam como os mais felizes do mundo, pelo que a cultura merece um foco especial, numa referência ao país.

 

A formar mais um contraste com as características lusas, desta feita cultural, os dinamarqueses, em traços gerais, são confiantes, não se prendem por convenções sociais, são fortes defensores do que constroem e dão primazia ao produto dinamarquês, vêm a vida pelo lado prático e sabem viver. Donos de uma mentalidade que os beneficia, os dinamarqueses no trabalho são, além de produtivos, muito rigorosos, altamente profissionais e sustentam uma fortíssima noção de gestão de pessoas. Um conceito que parece indispensável e absolutamente enraizado na Dinamarca está ainda na fase da teoria em Portugal, com grande défice de valorização e aplicação prática.

Na cultura organizacional típica dinamarquesa, gerir pessoas é sinónimo de desenvolver potenciais, com a perfeita consciência de que o profissional e o ser humano são indissociáveis. A componente da vida pessoal é, antes, altamente valorizada e entendida como mais um vector em estreita ligação com a produtividade. Todo o sistema coopera a favor do bem-estar no trabalho e fora dele, sendo o processo de responsabilização feito pela via da liberdade e confiança, o que é perfeitamente integrável num povo altamente focado no cumprimento de regras, respeitador, e com um forte sentido de honestidade.

Em benefício da qualidade de vida, o horário de saída na Dinamarca em média não vai além das 16h30, e não só é suposto, como é natural que seja respeitado. A carga de trabalho é adequada à carga horária que, por regra, ronda as 7 horas por dia, com cerca de meia hora de almoço, atingindo níveis de produtividade altamente satisfatórios.

O tempo é muito valorizado, e 5 minutos de atraso sem aviso prévio podem ser suficientes para o cancelamento de uma reunião neste país. O rigor não é descurado e está a favor de um profissionalismo levado à letra, sendo o conceito relativo do “mais ou menos”, ao jeito português, pouco tolerado na Dinamarca.

 

 

O conceito de motivação está, por arrasto, muito desenvolvido, e não passa apenas pela componente salarial. Boas condições de trabalho e a noção da necessidade de evolução, formação, e valorização permanente de cada membro, estão na base de níveis de desempenho altamente satisfatórios. A teoria dinamarquesa advoga que os recursos humanos só encontram condições de atingir o seu potencial e desenvolver-se positivamente quando bem geridos. Inserido está, ainda, o conceito absoluto de valorização pelo mérito, em que os bons resultados são estrategicamente enaltecidos, numa cultura pró-competência, informal e completamente anti-doutores.

Outros tantos elementos culturais, ao serviço do sucesso do país, poderiam ainda ser apresentados.

 

Seguindo o exemplo da Dinamarca, ou de outros, é indispensável a Portugal uma viragem cultural, que se arraste não só às organizações, como à mentalidade geral de um povo, ainda pouco consciente do seu papel em prol do país. É também nas novas gerações e muito nas que se aventuram por experiências além fronteiras, ganhando uma visão mais abrangente e mais completa do país, que está parte da matéria que pode fazer uma viragem de postura, de mentalidade e de cultura em Portugal.

 

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A Cultura de Trabalho na Holanda

   Fernando Pereira - AICEP, Haia, Holanda.

 

 

A Holanda é um país pequeno e apresenta uma densidade populacional elevada. Aliás, é um dos países mais densamente povoados do mundo. Este factor tornou os Holandeses extremamente ciosos do seu espaço privado e altamente individualistas a nível pessoal. No entanto, em termos organizacionais e de trabalho, eles são excepcionalmente colectivistas. Este facto pode ser explicado pela necessidade que sempre sentiram de unir esforços para combater o mar, os rios, a ameaça de invasão pela água em geral, juntamente com séculos de “controlo social” inspirado pela religião. Este forte sentido de comunidade é provavelmente o traço mais forte da sua cultura e está na base de muitos dos seus comportamentos, formas de relacionamento e normas.

Após a revolução industrial (por volta de 1890), o movimento social-democrata Holandês dedicou-se à criação de sindicatos que lutaram por melhores condições laborais e semanas de trabalho mais curtas, mas também por projectos de habitação colectiva e outros benefícios para os seus membros (tais como grupos de estudo, de lazer, etc.). O associativismo tomava forma e ganhava força na sociedade Holandesa.

Nas décadas que se seguiram à II Guerra Mundial, governos de coligação no poder, que não viam com bons olhos o liberalismo económico, garantiram a manutenção dos direitos dos trabalhadores e até o seu alargamento nos anos prósperos da década de 70. Contratos e condições laborais negociados colectivamente tornaram-se norma para praticamente todas as empresas, tal como os esquemas de pensões, períodos de férias e a participação dos trabalhadores na definição das políticas empresariais através dos seus representantes nos então recém-criados “Conselhos de Trabalhadores”.

Actualmente, a legislação laboral Holandesa é considerada uma das mais proteccionistas – dos trabalhadores - do mundo. Um conjunto alargado de normas e regulamentos, bem como vários contractos colectivos de trabalho, definem o salário mínimo nacional, o período mínimo de férias, subsídio de férias, período de trabalho, segurança e medicina no trabalho, etc. Os trabalhadores Holandeses não estão dispostos a ceder o que já foi conquistado e qualquer partido político que se proponha limitar os direitos adquiridos está condenado a perder os votos da vasta maioria. Além disso, o associativismo continua a imperar e os sindicatos de trabalho são “forças” a considerar.

O trabalho de equipa constitui um factor central da organização Holandesa. Os Holandeses não gostam de hierarquias e estatutos uma vez que isso se opõe à ideia de espírito de equipa e não condiz com uma sociedade onde todos são “iguais”. Os Holandeses são relativamente informais nas suas relações de trabalho (adoptam um tratamento informal relativamente depressa e é frequente almoçarem todos juntos, independentemente da posição que ocupam na hierarquia da empresa). Cooperação, negociação e acordo são elementos chave. Como consequência, competir com colegas de trabalho é considerado indesejável e revela “má fé”. Este parágrafo contém, porventura, os factores que provocam maiores choques culturais nas organizações com gestores estrangeiros que tentam impor um ambiente de trabalho que contraria o clima de igualdade tão importante para os Holandeses e/ ou um estilo de gestão autoritário que não concede ao trabalhador Holandês a consideração e o respeito que ele exige. Para o Holandês, um gestor deve ser acessível e modesto. Fatos caros e títulos pomposos não lhe merecerão tanto prestígio e apoio quanto uma argumentação racional e lógica. Apenas conseguirá que a equipa o siga se a conseguir convencer que as suas decisões são as correctas.

Muito do que acima foi dito pode ser considerado como negativo num contexto de crescente competitividade internacional e parecer influenciar negativamente a posição competitiva dos trabalhadores Holandeses. No entanto, aquilo que pode ser considerado negativo é contrabalançado por um forte envolvimento com o trabalho, conduzindo a um dos mais altos níveis de produtividade por hora trabalhada. Os gestores estrangeiros concordam que os Holandeses são trabalhadores extremamente dedicados e que têm sempre em mente os interesses da empresa; realizam o seu trabalho de forma organizada, bem pensada, bem planeada e bem monitorizada, permanecendo flexíveis (sempre) de forma a se poderem ajustar a mudanças nas condições.

Os Holandeses são frugais e árduos trabalhadores. São abertos e directos, fazem questão de cumprir com a palavra dada e esperam que os outros façam o mesmo (a pontualidade e o cumprimento de compromissos assumidos são regra). Têm uma elevada auto-estima e exprimem as suas opiniões com grande energia e determinação.

 

publicado por visaocontacto às 11:20
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Segunda-feira, 11 de Junho de 2007

Beijing é místico.

   Susana de Sousa, Group FLO, Beijing, China.

Quando cheguei... um frio imenso, olhares espantados e curiosos, expressões idiomáticas totalmente diferentes das que estava habituada, um trânsito caótico e construções totalmente espantosas fizeram-me cair na realidade: estou na China.

Com os problemas por que este país passou, desde o comunismo exagerado até ao rápido crescimento económico, penso que a China é cheia de contradições. Está tão internacionalizada e, ao mesmo tempo, fechada a certos ideais europeus. Caras marcadas pelo sofrimento, pela falta de condições humanas e não só.   O contraste entre os edifícios mais fantásticos e os Hutongs[i] mais pobres. Beijing é místico, uma cidade com uma cultura riquíssima.

A cultura empresarial é totalmente diferente da de Portugal. Adaptei a minha maneira de pensar e de agir à cultura chinesa. Aprendi a ser mais paciente no dia-a-dia profissional e a ter uma visão globalizada do mundo dos negócios. Apercebi-me também que, com um passado recente tão fechado, a China tornou-se numa super potência, que aproveita todas as oportunidade que surgem para crescer economicamente.

Aqui, a indústria do turismo continua a crescer exponencialmente, estando previsto que em 2020 seja um número record neste sector, de acordo com os dados da Organização Mundial do Turismo (OMT). O turismo chinês representa, aproximadamente, 6,1% do PIB e, segundo a Administração Nacional de Turismo da China, a indústria vai continuar a crescer, no mínimo em 10%, nos próximos 5 anos.

Segundo Zhifa Wang, vice-secretário geral da Administração Nacional do turismo da China, em 2006 a China resgistou 50 milhões de dormidas e recebeu cerca de 35 milhões de visitantes estrangeiros, enquanto o número de viagens de turistas domésticos foi de cerca de 1,4 mil milhões.

É de salientar que, em 2008, a China vai receber os Jogos Olímpicos e realizar, também, a Exposição Mundial China Shanghai, o que vai provocar um maior número de entrada de turistas, de receitas, havendo criação de valor para o país.

No caso dos Jogos Olímpicos, dos 2 milhões de bilhetes que estão disponíveis para venda (o total de bilhetes são 7 milhões), já foi vendido, aproximadamente, 1 milhão. Será que a China, mais especificamente Beijing, vai estar preparada para este acontecimento mundial? Com população que este país tem e a falta de condições básicas em muitos locais, será com certeza um desafio que a China vai ter de vencer.

(informações recolhidas da Publituris, Presstur, WTO, Lusa)



[i] Considerados pelos espcialistas como símbolo da cultura da cidade, os Hutongs são pequenos bairros de Beijing onde os habitantes conservam o modo de viver típico e tradicional da China.

publicado por visaocontacto às 15:33
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Segunda-feira, 5 de Março de 2007

Curiosidades da Cultura Alemã

Álvaro Silva

Oristeba

Alemanha, Darmstadt

 

Ao fim de pouco mais de 6 semanas em terras germânicas já tive oportunidade de constatar algumas diferenças culturais entre a Alemanha e Portugal, vou tentar neste texto retratar alguns aspectos que achei curiosos que encontrei na cultura Alemã.

 

Pontualidade Germânica, é quase possível acertar o relógio com a hora em que passam os autocarros, dificilmente se atrasam mais do que 1 minuto, já cheguei mesmo a perder o eléctrico durante 3 dias consecutivos até me aperceber que tinha o relógio atrasado um minuto, mas se por um lado é bom haver pontualidade por outro não, num destes fins de semana fui visitar com um grupo de amigos uma fortaleza medieval situada nas margens do Rio Reno, “Burg Rheinfels”, famosa pelas suas misteriosas catacumbas. Quando lá chegamos fomos avisados que a fortaleza iria fechar em 45 minutos, achamos que era mais do que suficiente para fazer toda a visita. Guiados por um mapa á luz das velas percorremos então as misteriosas catacumbas labirínticas de “Burg Rheinfels”, a percurso não foi tão fácil como esperávamos, com alguns tropeções pelo caminho acabamos por nos perder duas vezes, quando finalmente chegamos ao final das catacumbas esperava-nos uma enorme porta de madeira fechada!!! Pois é, como já tinham passado mais do que 45 minutos a fortaleza estava fechada, mais uma vez vi-me confrontado com a pontualidade Germânica, aqui á hora de fechar fecha-se mesmo. Se acham que assaltar uma Fortaleza é difícil, tentem sair dela.

Gastronomia, confesso que já tenho saudades de peixe fresco, aqui ainda só consegui encontrar peixe congelado com pouca variedade e não era nada especial. Ao fim de pouco tempo apercebi-me de que é possível alimentar um alemão durante um ano usando apenas Salsichas e Cerveja, aliás salsichas cervejas e pão, mas enganam-se se pensam que eles tem uma alimentação pouco variada, pois existem mais duzentas variedades de pão, 1500 tipos de salsichas e qualquer coisa como 5000 marcas de cerveja, ou seja, quando se vai a um bar e se quer beber uma cerveja, não basta pedir uma cerveja, há que ser mais especifico. Em média um Alemão bebe cerca de 121,50 litros de cerveja por ano. Curiosamente aqui se formos apanhados a andar de bicicleta bêbados podemos perder a carta de condução.

 

Na rua os peões nunca atravessam se o sinal não estiver verde, pode não haver um único carro num raio de um quilómetro que mesmo assim ninguém atravessa a estrada. Já vi gente a perder autocarros só por não atravessar a rua num sinal vermelho.  

 

publicado por visaocontacto às 10:52
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Quem espera sempre alcança

 

David Magboulé

Imbiosis

Madrid, Espanha


Já antes da partida para Madrid, tinha programa para o primeiro fim-de-semana: a visita do Pedro e do João que vinham de Londres.
 
Tinha tudo preparado, sítio onde ficar (em casa do meu amigo Manuel), alguns dias para procurar casa antes de arranjar trabalho e algumas pessoas com quem entrar em contacto para facilitar a adaptação. E há que dizer que correu tudo como previsto. Quase tudo.
 
Passei as minhas primeiras três semanas num profundo extremismo entre o bem-estar, a alegria e a curiosidade, sentimentos provocados pela descoberta de uma nova zona geográfica, de uma nova cultura e de uma nova população, mas também por uma programação de divertimento recheada, novos conhecimentos à mistura, e isto tudo aliado à nova experiência profissional que estava a viver... experiência deveras interessante e inovadora a meu ver.
O sentimento oposto deveu-se ao desconforto pelo qual estava a passar, que não me deixava começar a criar raízes e tão pouco sentir-me integrado, se bem que esse processo demora e é faseado.
De facto, dormi no chão da sala do Manuel, durante as primeiras semanas. Mas literalmente. Ele não tinha um clochão extra e o sofá, apesar de confortável, era pequeno e deitado ficaria com a cabeça e os pés de fora e virados para cima, imaginem a forma de um ‘v’!
Por isso criei o meu próprio colchão, ao juntar dois sacos-cama que ele tinha um em cima de um outro, o que me ‘elevava’ a 5 cm do chão! Nada mal.
 
Nunca pensei que procurar casa em Madrid fosse tão complicado. Apesar dos inúmeros avisos prévios, tinha esperança em encontrar algo na primeira semana. Afinal, só queria um estúdio de ao menos 30 m2 no centro da cidade por volta de 600 eur!.. Além disso, depois da minha experiência como agente imobiliário em Paris durante o ano passado, sabia que seria difícil encontrar proprietários tão exigentes e inflexíveis.
Enganei-me. Vi casas e casas e casas, e ainda mais casas mas depois cada vez menos porque comecei o estágio e por isso tinha menos tempo mas também porque já estava farto e a desesperar.
Para já, a descrição dos apartamentos nos anúncios nunca correspondia ao que se via in situ. Para pior claro. Os preços eram exageradamente caros para a qualidade do imóvel (de vez em quando ainda me vem ao de cima a gíria imobiliária). E os senhorios não se conformavam com o simples pagamento duma caução e da primeira renda! Não! Queriam 2 às vezes 3 meses de caução (que provávelmente nunca iriam devolver), mais o ‘aval bancário’ (são 12 meses de renda postos de parte numa conta bancária que é desbloqueada se o inquilino não pagar a renda), mais contrato de trabalho e além disso que alugássemos o apartamento por pelo menos um ano (o que no nosso caso, não seria o caso)!!
Só faltava mesmo pedirem que os nossos pais e todos os familiares assinassem o contrato de arrendamento e que incorporassem um chip no nosso corpo ligado ao GPS deles para não nos perderem de vista!!
 
No meio de toda esta frustração, ainda em casa do Manuel a dormir no chão, com a roupa sempre dentro da mala, já a trabalhar, já a aproveitar o de melhor que Madrid tem para oferecer (boémia, diga-se) e a sentir-me meio adoentado, decidi exprimir um grito de ajuda e de revolta.... ao Yahoo Groups!!
 
É verdade, existem tantos portugueses nesta cidade, especialmente ‘não-contacteantes’, que se criou um grupo nessa plataforma chamado ‘tugasmadrid’ e para o qual mandei um mail a perguntar se alguém tinha um apartamento com um quarto a mais ou se sabiam de algum estúdio disponível mas sem ter que passar por todas aquelas barreiras acima-referidas.
 
Tinha realmente desistido da ideia de viver sozinho, o que não me incomodava nada porque já o fazia praticamente desde os 18 anos e porque queria estar à vontade, sabendo também que iria ter muitas visitas de amigos nestes 9 meses. Mas ao mesmo tempo não queria viver numa casa com 3 ou mais pessoas, tipo numa républica universitária, onde mal se pode ter o seu próprio espaço e a empatia entre os co-habitantes é sempre sui generis.
 
Foi aí que surgiu o Tiago, a minha salvação. Recebi uma chamada no dia seguinte a ter mandado o mail de um homem do Norte, de 35 anos, que estava à procura de alguém para dividir o seu apartamento em Goya, Salamanca (bairro residencial no centro, onde a procura é muita e a oferta escassa), de 110 m2, 3 quartos (um para visitas), já todo equipado e mobilado, com vista de esquina, internet e canal plus!
 
Depois de uma entrevista com a presença da sua ex-namorada (psicóloga!) que por acaso até conhecia de Lisboa (Portugal é assim), mostrei-lhe que estava muito interessado e sinceramente já nem sei se não acabei por suplicar para ficar nessa casa. Era tanto o desespero, e agora via uma luz no fundo do túnel (que dramático!).
 
Uma semana depois, já tinha tido resposta! Houve pressão, muita comunicação, alguma angústia, mas um final feliz. A ‘entrevista’ tinha corrido bem, tinha deixado boa imagem, e fui aceite! Estava tão contente como se tivesse sido seleccionado entre milhares para o posto de Secretário-Geral da ONU! (Sim, é um sonho... Se tiverem contactos lá, agradeço.)
 
Peguei nos meus aposentos logo quando recebi a excelente notícia meti-me num táxi e instalei-me. E foi até com uma certa pena e nostalgia já que me despedi de casa do Manuel, que tinha sido impecável em receber-me e insistir que eu ficasse lá até encontrar um apartamento, um bom amigo. 
 
Desde então a vida tem-me corrido na melhor das feições. A casa é um espanto, um conforto inigualável. O meu ‘housemate’ e eu temo-nos dado muito bem mesmo, já tive inúmeras visitas (prolongadas e curtas) nestas 2 semanas, muitas jantaradas, muito convívio, muito divertimento. Sinto-me mais enraízado na cidade e na cultura espanhola, e já me sinto mais estável e até mais concentrado no trabalho.
 
Esta casa proporcionou-me o que realmente se quer da vida: uma base sólida, que leva à tranquilidade e que por sí leva ao desfruto total das experiências.
Nunca se deve perder a esperança, quem espera sempre alcança.
publicado por visaocontacto às 10:51
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