Por Élia M. J. Rodrigues (*)
Neste 2° semestre de 2007 duas figuras portuguesas estarão na mira das atenções de todos os europeus: José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia e José Sócrates, Presidente da União Europeia.
Sob o lema «Uma União Mais Forte por um Mundo Melhor», Portugal ocupa a presidência da União Europeia por um período de 6 meses, pela terceira vez desde que entrou para o clube da Europa desenvolvida.
Por esta altura já se conhecem amplamente as três linhas de força da Presidência Portuguesa da UE: o reforço da integração económica da Europa, uma agenda externa activa e o fortalecimento da reforma política.
Durante este período vão ser tratadas áreas muito importantes: a revisão do mercado único, a preparação do segundo ciclo da “Estratégia de Lisboa”, a estratégia do desenvolvimento sustentável, as iniciativas para as Pequenas e Médias Empresas, o Modelo Social Europeu, a Política Marítima Integrada, uma aproximação global às áreas da Justiça, Liberdades e Segurança e, mais importante, finalizar o Tratado.
Não sendo uma especialista da agenda da Presidência, não irei debruçar-me sobre todos estes aspectos, antes limitar-me, por deformação profissional, às áreas das relações externas, económicas e comercias.
Um objectivo apontado como fundamental é o reforço dos laços entre a União Europeia e África e a criação de um diálogo activo, aberto e equilibrado entre os dois continentes, objectivo este que engloba todos os aspectos das relações Europa-África: política, comércio, ajuda e desenvolvimento.
Portugal já declarou que é necessário implementar a paz e a estabilidade no Sudão e noutros países africanos a fim de tornar possível o desenvolvimento económico.
Na realidade, durante este período, Portugal vai mudar o foco das atenções da política externa da Europa, do Leste para o Sul, iniciativa apoiada por Nicholas Sarkozy, o presidente francês recém-eleito, que já declarou pretender criar uma União Mediterrânica.
Assim, a Presidência deverá ocupar-se em fortalecer os laços políticos e económicos entre a Europa e a África, ao mesmo tempo que prossegue o processo de paz e de cooperação nos Balcãs.
Está já agendada para 8 e 9 de Dezembro em Lisboa a cimeira EU-África.
De notar que é normal um país aproveitar uma presidência para dirigir a actividade desse período para temas do seu interesse estratégico; a Finlândia também o fez recentemente ao escolher como foco de interesse a dimensão nórdica da Europa.
Assim, além da África, haverá também um especial interesse no Brasil, uma economia em rápido desenvolvimento, com a qual Portugal tem laços culturais e económicos muito fortes, estando já agendada a cimeira UE-Brasil, em Lisboa a 4 de Julho.
Além do Brasil, anunciam-se também cimeiras com a China, a Índia, a Rússia e a Ucrânia, novas economias emergentes.
Quanto às questões comerciais, a Presidência Portuguesa marcará um ano desde o lançamento do quadro global europeu da política comercial da UE. A Europa Global torna a política comercial da Europa uma parte integrante de uma política mais vasta de aproximação para a competitividade e para as reformas económicas, pois uma economia mais forte em casa tornará a economia da UE mais competitiva no estrangeiro. Precisamos de abrir mercados e criar novas oportunidades para o comércio a fim de assegurar que as empresas europeias sejam capazes de competir nesses mercados em condições justas.
Assim, a primeira prioridade em termos comerciais, para a Presidência Portuguesa, será a conclusão com êxito do Doha Round das conversações da OMC, situação que apresenta potenciais ganhos económicos para a Europa.
Incluo aqui uma referência às questões vinícolas, por ser um sector muito importante para Portugal e ao qual esta Delegação tem dedicado muito trabalho e esforço de promoção, com muito bons resultados. Também porque este sector na Europa, é líder mundial tanto na produção como no consumo. Representa mais de três milhões de produtores, e muitos postos de trabalho, além de contribuir de forma muito positiva para a promoção do turismo, ao mesmo tempo que é uma actividade amiga do ambiente, contribuindo para a manutenção da paisagem rural.
Assim também durante a Presidência Portuguesa serão debatidas grandes reformas e projectos de desenvolvimento com influência chave no desenvolvimento sustentável deste sector.
A comissária Fisher Boel irá apresentar propostas para a reforma da Organização do Mercado Comum do Vinho, a fim de se caminhar para uma situação que permita a competitividade dos vinhos europeus no mercado mundial, pois o objectivo é o de manter a posição de líderes mundiais, e orientar a actividade viti-vinícola em função do mercado mundial.
Ao mesmo tempo, o comissário Kyprianou lançará um European Alcohol and Health Forum a fim de apoiar os Estados Membros a reduzir a ingestão de álcool.
E já que falamos em vinho, brindemos com vinho português à Presidência Portuguesa desejando que seja um sucesso e que se consiga chegar a consenso em todos os assuntos.
Para
Alem disso, no Parlamento Europeu vamos abrir a Presidência com uma semana gastronómica, para a qual convidámos um chefe português.
Durante todo o período da Presidência, haverá muitas acções de promoção de Portugal, em Bruxelas e noutras cidades da Bélgica: cultura, exposições, música, turismo e provas de produtos.
(*) Delegada - Bélgica e Luxemburgo.
Luís Diogo, Delegação, Emiratos Árabes Unidos, Dubai.
A União Europeia atravessa um período de indefinição na sua história, com a assinatura do novo Tratado da UE, quem vem substituir a malograda Constituição Europeia. Para quem vive na União Europeia, é ainda muito difícil ver uma Europa a 27, homogénea e a navegar na mesma direcção. Como é evidente, não existe um alinhamento dos objectivos a adoptar para esta Europa, resultante dos diferentes estádios de desenvolvimento, dimensão e idiossincrasias culturais dos vários estados.
Certas decisões, como por exemplo Free Trade Agreements, como o que se está presentemente a negociar com os Emiratos Árabes Unidos, têm um intrínseco trade-off para estados, como Portugal, que vêem grande parte da sua já delapidada indústria ser invadida por produtos provenientes de outros mercados a preços mais competitivos. Na mesma medida em que se abre as portas para exportações portuguesas para um novo mercado, permite-se, no entanto, acesso dos agentes dessa região ao mercado europeu, limitando a margem negocial do estado português aquando da captação de investimento directo estrangeiro. Esta situação, torna países como Portugal menos atractivos, pois a deslocalização para Portugal, era uma forma dos agentes de poderem “exportar” para o mercado europeu ultrapassando as taxas aduaneiras e aproveitando também a competitiva mão-de-obra nacional.
Num inevitável cenário de liberalização dos mercados globais, fala-se muito de competitividade. Portugal necessita de se tornar competitivo, necessita de se qualificar e de ser eficiente porque estruturalmente esta é a variável que dá sustentabilidade a todo o processo de internacionalização da economia. No entanto, paralela e complementarmente neste mesmo conceito de globalização, surgem aspectos como a imagem que o país transmite aquém e além fronteiras e é sobre esta temática que irei tecer alguns comentários.
Fala-se muito da imagem europeia, do conceito de europeu, mas curiosamente (ou não), apenas a senti realmente nos Emiratos Árabes Unidos. Europa é uma óptima marca nesta região, sinónimo de “consciência” do mundo, de responsabilidade perante os países do terceiro mundo, em contraposição com os Estados Unidos auto intitulados “polícias” do mundo, com uma visão economicista, em papéis que deveriam coincidir, mas que são claramente divergentes.
No ponto de vista económico, a marca goza de um vasto prestígio e notoriedade, sendo sinónimo de qualidade, fiabilidade e confiança, e mesmo apesar de alguns países terem um evidente ascendente (Reino Unido ou Alemanha). É óptimo para nós, portugueses, sermos vistos como europeus, pois temos produtos que não comprometem os padrões de qualidade da União Europeia, com a vantagem de para o segmento médio alto possuirmos preços mais competitivos, que a generalidade dos concorrentes europeus.
Num momento em que 75% das nossas exportações ainda são direccionadas para a União Europeia, o efeito substituição por parte dos países do alargamento a leste já se faz sentir e Portugal tem de optar por mercados alternativos. A abordagem tem que ser feita não apenas pela promoção da imagem do país, mas sim de a contextualizar e a relacionar com a marca forte que é a Europa. E que melhor altura para o fazer? Neste momento o Presidente da Comissão Europeia é português e Portugal vai presidir à União Europeia, com toda a projecção que as assinaturas do Tratado Europeu e de possíveis Acordos Bilaterais vão garantir. Que melhor oportunidade para passarmos a mensagem e sermos encarados como “decision makers” e peças influentes no xadrez europeu? Demos enfoque aos grandes projectos que se fazem em Portugal, informemos das oportunidades que o país pode oferecer, ponhamos para segundo plano a nossa realidade comezinha e voltemo-nos para o mundo. A imagem vende, que o diga o Dubai. O futuro começa hoje.
Inês Lopes
C9 – Delegação Portuguesa junto da OCDE - Paris
A Presidência Portuguesa da União Europeia, que agora se inicia, será marcada pelas questões institucionais. Depois de ter sido aberto o caminho no último Conselho Europeu, Portugal herda a importante tarefa de elaborar o Tratado que deverá ser aprovado na cimeira a ter lugar em Lisboa de chefes de Estado e de Governo da União (motivo pelo qual já está a ser apelidado, talvez de uma forma precipitada, de “Tratado de Lisboa”).
Apesar de relevante, esta não é a única prioridade da nossa Presidência. A implementação da Estratégia de Lisboa revista, que constitui um elemento fundamental para fortalecer a criação de emprego, a competitividade e o crescimento das economias europeias, é um outro ponto basilar. As discussões sobre uma redefinição do Modelo Social Europeu (que deverá ser entendido como uma mais valia para a sociedade e não como um fardo para as empresas) tal como sobre uma nova Estratégia de Emprego deverão também ter um lugar de destaque.
No que diz respeito à “Agenda Externa” foi sublinhado no último Conselho a relevância da Cimeira UE-África que terá lugar em Dezembro. Mas existe um outro encontro de especial proeminência, a Cimeira UE-Brasil, que marca o início das “relações privilegiadas” com o nosso “país irmão”.
Com mais de 185 milhões de habitantes e o 9° PIB mundial, o Brasil tem um enorme potencial de crescimento que não tem sido aproveitado, em consequência de problemas estruturais. Apesar da estabilidade do quadro macroeconómico, segundo Fabio Giambiagi (economista e antigo Conselheiro do Ministro do Planeamento) “não têm sido feitas alterações fundamentais no código fiscal, lei do trabalho e sistema de pensões” durante a actual administração. Encontros como este, tal como o reforço da cooperação com organizações internacionais como a OCDE, podem pressionar o “gigante” da América Latina a adoptar políticas que levem à consolidação seu desenvolvimento, tal como a uma maior abertura do seu mercado.
A realização deste encontro durante a Presidência Portuguesa também representa o consolidar das relações entre os dois países. Apesar de nós sermos o “parceiro natural”, a nossa posição não é inquestionável e o interesse do Brasil depende da nossa projecção tal como da nossa actuação nos diversos tabuleiros da política internacional. A nossa relevância internacional também resulta, em parte, do nosso papel de facilitador de comunicação com os países de língua oficial portuguesa.
Com eventos como este gera-se um círculo virtuoso.
Cristina Brasileiro, Delegação, Paris, França
O cenário Europeu tem sido palco de diversas e interessantes mudanças.
Após a rejeição da malograda Constituição Europeia, na primavera de
Perante o chumbo do projecto da Constituição Europeia, pelos franceses e holandeses, e na tentativa de salvar o mesmo projecto, foram avançados alguns elementos que estariam na origem da discórdia. No entanto, na opinião de muitos o “não” manifestado nas urnas não se dirigia ao projecto de uma Constituição europeia nem ao seu conteúdo, mas representava um sinal de insatisfação face aos respectivos governos. Esta tem sido, aliás, a opinião consensual dos franceses que tenho conhecido durante a minha estadia em terras gaulesas e aos quais relanço a questão. Não posso, porém, daqui tirar grandes ilações devido à reduzida dimensão da amostra mas fica no ar a sensação de descontentamento face ao governo do ex-presidente Chirac e algum desconhecimento face ao texto da defunta Constituição Europeia.
Não obstante as várias interpretações possíveis, foi consensual a dificuldade em ratificar um texto desta importância atendendo às diversas constituições e processos políticos dos estados membros. Em resposta ao marasmo, surgiram algumas vozes defendendo um tratado simplificado como resposta ao problema constitucional. Uma delas, possivelmente a mais energética, foi a do presidente francês Nicolas Sarkozy que se desdobrou em encontros e iniciativas com vista a um acordo entre os 27 membros da União Europeia, intensamente noticiadas nos meios de comunicação nacionais. De facto, o mais recente ocupante do palácio do Eliseu está decidido a marcar o regresso da França ao centro político da Europa, pretensão suportada pelo desejo generalizado dos franceses que, de certa forma, lho exigem.
Durante o último Conselho Europeu (21 e 22 Junho) a União Europeia conseguiu chegar a um acordo sobre a substância do vindouro “Tratado Simplificado” que põe termo à introspecção e às batalhas institucionais dos últimos anos. Abre-se, desta forma, caminho a um mandato preciso e claro para Portugal que assume a presidência da EU a 1 de Julho e da qual se espera a redacção do novo tratado no quadro de uma Conferência Intergovernamental. As expectativas em relação à presidência portuguesa são elevadas. A possibilidade de uma rápida e fácil negociação que porá termo à indefinição na Europa corresponde ao melhor cenário possível para a UE e para Portugal que gostaria de ver materializado o Tratado de Lisboa.
Na minha opinião, a Europa precisava de uma constituição que defendesse um conjunto base de direitos e que garanta o Modelo Social Europeu, adaptado ao contexto da globalização. Não se aproveitou o período de reflexão para avançar com reformas mais amplas. O futuro tratado surge como um second-best de aprovação facilitada, quase decalcado da dita Constituição mas desprovido de todos os elementos que lhe conferiam essa característica. Enquanto a Constituição pretendia substituir e concentrar num só texto todos os tratados actuais, o seu substituto limitar-se-á a modificá-los. A meu ver, o processo de integração foi diferido, mas talvez não fosse o momento ideal para dar tal passo.
De qualquer forma, ultrapassou-se o imbróglio institucional e foram dados passos importantes para que o resto da agenda europeia possa correr bem. O estado de graça do europeísta Sarkozy e o entendimento, presente, da nova geração de líderes europeus determinados em pôr em prática a sua visão da Europa, podem estar na origem do crescente optimismo europeu que se faz sentir (pelo menos, em França) entre políticos e cidadãos comuns. Polémicas à parte, as dificuldades foram ultrapassadas e chegou-se a um acordo que desbloqueou a situação e do qual se espera uma configuração com bases sólidas, de modo a suportar as reformas futuras necessárias na Europa.
Tiago Relvão, Delegação, Varsóvia, Polónia
A Polónia, país onde me encontro a estagiar, é um dos casos de sucesso económico da União Europeia. A dimensão do seu mercado interno (38 milhões de habitantes), a sua mão de obra qualificada e salarialmente competitiva, assim como a sua localização geográfica central, servindo como ponte para outros mercados, são as razões normalmente apontadas para explicar o elevado ritmo de crescimento económico, que no ano de 2006 situou-se nos 6,1%.
Porém, esta mesmo prosperidade económica tem vindo a esconder um mal maior de que este país padece, que é a falta de um governo forte, orientado para desenvolver as necessárias reformas estruturais de forma a que o desenvolvimento da economia polaca se possa processar duma forma estruturada e sustentável. Protegido por esta evolução mais que favorável dos principais indicadores económicos o governo de coligação liderado por Jaroslaw Kaczynski, abdicando de reestruturar os seus sistemas educativo, de saúde e segurança social, carentes de reformas urgentes, tem focado as suas políticas populistas em cruzadas contra a liberdade de orientação sexual, contra a interrupção voluntária da gravidez e numa caça às bruxas decretada contra os antigos colaboradores do regime comunista de há 17 anos!
Assim, foi com pouco espanto e alguma apreensão que segui os recentes acontecimentos em Bruxelas, onde se decidiram os termos do futuro Tratado Europeu, receando as orientações mais nacionalistas e pouco flexíveis da Polónia no que diz respeito aos processos de decisão no seio da União Europeia.
A delegação polaca liderada pelo presidente da Republica, Lech Kaczynski, irmão gémeo do primeiro-ministro (o que não deixa de ser caricato…), adoptou uma posição euro céptica e intransigente, opondo-se ao mecanismo proposto da dupla maioria, que se baseia na aprovação de leis no caso de apoio de 55% dos países, desde que representativos de 65% da população, evocando que os países mais populosos, particularmente a Alemanha, sairiam beneficiados.
Temeu-se um desfecho idêntico às negociações para o tratado comercial entre a U.E. e a Rússia, onde a Polónia, evocando o embargo à carne polaca por parte da Rússia, inviabilizou todo o acordo. Durante as negociações ainda houve tempo para o controverso comentário do primeiro ministro polaco em Varsóvia afirmando que sem a Segunda Guerra Mundial e os crimes nazis, a Polónia teria agora 66 milhões de habitantes, em vez dos actuais 38, e poderia ter quase o mesmo poder de decisão que a Alemanha.
Após ameaças de exclusão da Polónia das negociações e de reduções de ajudas europeias, foi eventualmente atingido um acordo, em que a posição polaca acabou por sair beneficiada, já que assegurou um mecanismo denominado de compromisso de loannina, que permite a um grupo de países, bloquear uma decisão e possa efectivamente levar a que esta seja reexaminada. A Polónia conseguiu ainda que o novo mecanismo de decisão só entre em vigor em 2014, com um período de transição até 2017.
Todo este episódio leva-me a interrogar-me acerca do futuro da União Europeia, que tem vindo a efectuar reformas profundas nas suas instituições e mecanismos de decisões de forma a acomodar o crescente número de países membros. Até que ponto não se deverá reconsiderar novos processos de alargamento nos tempos vindouros? Até que ponto a União Europeia está preparada para lidar com governos euro cépticos e nacionalistas como o Polaco? Até que ponto se deve alargar a influência das políticas de Bruxelas a outras áreas das políticas nacionais, quando as presentes já afectam diversas susceptibilidades?
É neste panorama de incerteza que Portugal chega à presidência da União Europeia. Estou confiante que durante o seu mandato conseguirá levar a bom porto o processo de elaboração do Tratado Europeu e da sua posterior ratificação, dando assim um contributo decisivo para um futuro europeu mais risonho...
Beatriz Cardoso, Delegação, Estocolmo, Suécia
Lúcia Marques (colaboradora com o Instituto Camões no âmbito da Presidência Portuguesa)
O diálogo intercultural é, sem dúvida, fulcral nos tempos que correm. É preciso observar e conseguir aproveitar os bons exemplos, sem perder a identidade, sem perder as raízes, mas crescendo e apreendendo aquilo com que de melhor nos vamos deparando.
Mais do que um choque cultural, é precisamente pelo intercultural que nos devemos desenvolver, e neste aspecto muita bagagem tenho para levar aqui da Suécia!
A Suécia apresenta nos dias de hoje óptimos níveis de desenvolvimento e tudo fruto de horários de trabalho que não excedem as 8 horas - até porque se pagam horas extraordinárias a partir das 19h - onde dão sempre a tarde de véspera de um feriado, independentemente de qual este seja; onde os casais têm direito a um ano de licença de parto, que pode e deve ser partilhado pelos dois, e muitos mais exemplos que poderiam ser aqui mencionados. Tudo isto para realçar que a Suécia é um país onde não existe stress, onde as pessoas não se “matam” a trabalhar, mas onde tudo funciona, onde tudo é respeitado, onde há qualidade de vida e dá prazer viver, aprender e consumir com os olhos.
Outro aspecto merecedor de atenção é o facto de este ser um dos poucos países que está a cumprir o compromisso da ONU de dedicar 0,7% do PNB para a cooperação, com o fim de se cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: erradicar a pobreza extrema e a fome, alcançar a educação primária universal, promover a igualdade do género e capacitar as mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças, assegurar a sustentabilidade ambiental e desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento. Para além das suas fronteiras parece que a Suécia se preocupa e se sente também responsável por contribuir para o bem-estar da população desfavorecida do Hemisfério Sul.
Aproveitei o pretexto de ter que escrever para esta newsletter para questionar um amigo grego que fiz aqui em Estocolmo sobre as razões e motivações que o fizeram vir para cá tirar o Mestrado e, que depois, o fizeram permanecer cá a trabalhar. Aqui ficam as conclusões:
“A razão que me trouxe para a Suécia, em especial para Estocolmo, foi basicamente o programa de Mestrado. Existiam à partida dois pré-requisitos para a escolha do sítio. Em primeiro lugar, o curso teria de ser leccionado em inglês. As opções eram limitadas, consistindo no Reino Unido, Escandinávia e Holanda, uma vez que eu não considerava um país não europeu como candidato. Por outro lado, tinha de gostar das disciplinas leccionadas e como tinha uma visão bastante consolidada daquilo em que me queria especializar as opções no meu caso eram menos de 10. Finalmente a reputação e a qualidade da universidade foram também um importante factor. Contudo, apesar da parte educacional, o modo de vida foi um factor igualmente tido em conta, se não o mais significativo.
Depois de dois anos posso afirmar que a vida em Estocolmo tem sido melhor do que o que esperava. Encontro-me numa cidade amistosa, bonita, activa e num país extremamente organizado onde a qualidade de vida é elevada. Existem também imensas oportunidades interessantes de trabalho na minha área (Informática), onde as tecnologias de ponta são utilizadas. Sendo membro activo neste meio, ganho uma elevada experiência que irá sem dúvida projectar a minha carreira no futuro. As condições de trabalho são muito boas, o stress é quase inexistente fruto de um bom planeamento e gestão. Apesar das elevadas taxas de imposto sobre os rendimentos, os salários são bons atendendo ao custo de vida, e a pessoa tem noção de onde o dinheiro está a ser aplicado.”
Penso que por todas as razões que foram aqui evidenciadas, a existência do Programa Contacto permite exactamente este diálogo intercultural, esta busca incessante pelo que ainda não conhecemos e com o qual nos podemos desenvolver, como pessoas e como cidadãos de um mundo cada vez mais global.
José Dias, Delegação, Bucareste, Roménia.
A Roménia foi-se movendo, ao longo da última década, das margens da integração Europeia para a inclusão total na família da UE. Porém, a questão central, prende-se com a efectiva garantia de sucesso e desenvolvimento económico-social, uma vez que parece não ser 100% seguro que tal aconteça.
O percurso da integração foi árduo, contudo progressos importantes foram alcançados desde o início da década de 90, quando dúvidas permaneciam quanto a um real compromisso com os valores democráticos, do então novo regime. No entanto, persistem actualmente problemas sérios, como é o caso, por exemplo, da corrupção e da baixa produtividade da economia romena, pelo que será justo dizer que muito ainda terá que ser feito. Aliás, esta questão ficou bem explícita nas reservas que a Comissão Europeia colocou quanto ao processo de adesão à UE quer da Roménia, quer da Bulgária.
A adesão significa e implica um conjunto de reformas internas a nível político, social e económico, de forma a cumprir os critérios definidos pela UE. No entanto, existe um outro conjunto de dinâmicas exógenas, o que faz com que o processo de adesão não seja determinado somente pelo estado de desenvolvimento dos países candidatos. Há todo um conjunto de vertentes às quais é preciso dar particular e detalhada atenção.
No caso da Roménia, três aspectos gerais terão que ser levados em conta:
· Desde 1989, as relações que se estabeleceram entre a UE e os Estados da Europa Central e Oriental em termos genéricos;
· A posição da Roménia foi influenciada por acontecimentos externos, nos quais não teve poder de decisão ou controlo – facto, aliás, que lhe permitiu assegurar a inclusão na “rede” europeia;
· A sua posição relativamente ao país vizinho, a Bulgária - o que fez com que a UE tratasse os dois países como um “bloco”, razão pela qual a adesão de apenas um não fazia sentido.
Após ter-se falado da marginalização e da inclusão, surge a questão do desenvolvimento da sociedade romena.
Se a relação que se estabelece entre as duas primeiras questões – marginalização e inclusão, é unicamente a da mudança de paradigma, já entre o segundo e terceiro – inclusão e desenvolvimento – pretende-se que esta relação seja de efectiva causa – efeito.
Ora é precisamente neste contexto que Portugal, durante a presidência da UE, no segundo semestre do corrente ano, pode assumir um papel relevante, vejamos como:
1) Primeira fase pós-adesão. Após os primeiros seis meses da Roménia como membro de pleno direito da UE (Marginalização vs Inclusão) é chegada a hora de consolidar a sua posição no seio desta família europeia (Inclusão vs Desenvolvimento) – afastados estarão os primeiros de meses de euforia (ou pessimismo, dependendo da franja da população romena a quem nos referirmos);
2) Experiência portuguesa. Após 21 anos da adesão de Portugal à UE (antes Comunidade Económica Europeia), é inevitável a acumulação de know-how. Desde modo, e enfrentando no presente desafios importantes e determinantes no processo de desenvolvimento sócio-económico, Portugal poderá (e deverá) servir de “exemplo” à Roménia, quer na implementação de políticas económicas e sociais adequadas, quer no evitar dos erros cometidos, não só pela classe governante, mas por todos os agentes económicos e sociais;
3) Similaridade do processo de adesão. Há muito de comum nos processos de adesão português e romeno, tais como, consolidação do regime democrático e da economia de mercado; perificidade dos dois países (Portugal na fronteira Ocidental da UE e Roménia na fronteira Oriental) e, ainda, entrada conjunta com um país vizinho (Portugal / Espanha - Roménia / Bulgária).
Com a perspectiva de continuação da construção Europeia e num momento em que se retoma a discussão do Tratado Constitucional Europeu, Portugal, ao assumir a presidência da UE, poderá marcar a História. Mas para tal, terá sobretudo que saber envolver e comprometer cada um dos parceiros Europeus nesta discussão do futuro comum. Sendo que, a partir de agora, mais dois países terão uma palavra a dizer.
No caso que aqui abordamos, o da Roménia, esperamos que esse comprometimento se inicie, primeira e eficazmente, no plano interno, a fim de que, a médio e longo prazo, este possa funcionar como alavanca para o desenvolvimento do país em diversas áreas...a 100%, porque, sem dúvidas e reconhecidamente, o potencial existe!
João Ramalheira, Delegação Seul, Coreia do Sul.
Com uma População de 49 milhões de habitantes, a Coreia do Sul é a 12ª maior economia do mundo (3ª maior da Ásia logo atrás da China e do Japão). Desde 1945, após a 2ª Guerra Mundial, a Península da Coreia ganhou a sua independência face ao Japão, ficando a parte Norte sob um regime comunista apoiado pela União Soviética, e a parte Sul apoiada pelo Estados Unidos da América. Isto resultou na Guerra da Coreia de 1950 a 1953. Nesse ano foi assinado um armistício, ficando a Coreia dividida em duas partes, considerando a linha imaginária do paralelo 38.
Depois de atingida alguma estabilização, a Coreia do Sul alcançou um rápido crescimento económico, atingindo a sua população um elevado nível de literacia, traduzido pela percentagem de 98%, e cujos utilizadores de Internet já ultrapassam os 35 milhões, dando bem uma ideia do potencial intelectual do país.
Com um sistema semi-presidencialista, e integrando o chamado clube dos Tigres Asiáticos, o forte crescimento económico sul coreano em muito se deveu à exportação de produtos manufacturados, contribuindo bastante para esse facto a normalização das relações com o Japão, um dos seus principais clientes, em 1965.
O modelo de encorajar o crescimento de grandes companhias a nível internacional através de financiamento fácil e de bons incentivos fiscais, levou à criação de grandes conglomerados familiares, também conhecidos como Chaebol, em que alguns se tornaram grandes potências internacionais, como é o caso de empresas como a Hyundai, Samsung, LG e Daewoo.
Em simultâneo, verificava-se a expansão não só da indústria pesada, mas também a da alta tecnologia, tornando o país fortemente competitivo em sectores como a electrónica, telecomunicações, indústria automóvel, indústria química, construção naval e indústria do aço.
Como um país 75% montanhoso, e cuja única fronteira terrestre, se situa a norte, precisamente com a Coreia do Norte, a Coreia do Sul foi obrigada a desenvolver uma forte indústria portuária, que faz com que este país possua um dos portos mais avançados e desenvolvidos do mundo, referindo como principais, Busan e Incheon. Em Incheon de resto, é onde também se localiza o aeroporto mais importante do país, e um dos mais modernos e movimentados do mundo.
Gozando de uma total democracia moderna, e ultrapassada a crise que enfrentou no final da década de 90, o cenário económico actual caracteriza-se por uma inflação moderada, baixo nível de desemprego e um saldo excedentário da balança comercial derivado das suas elevadas exportações.
Por tudo isto, a Coreia do Sul, é sem dúvida um mercado que não deve ser de todo descurado, como tem acontecido mais recentemente, em que todas as atenções se têm virado para a China. Os consumidores sul coreanos, possuem um apetite formidável para tudo o que é novidade e que alcançou sucesso no mundo ocidental. Habituados a terem o vizinho Japão sempre um passo mais à frente, no que respeita ao sector do luxo, a classe média-alta e classe alta coreanas não se inibe quando tem de comprar um produto luxuoso e que lhe permite atingir um estatuto social mais elevado.
Portugal tem vindo, ao longo dos últimos anos, a exportar produtos de bastante qualidade para a Coreia do Sul, seja no sector dos vinhos, calçado, têxtil, cortiça, tapeçaria, produtos alimentares, entre muitos outros, por vezes bem melhores do que os produtos dos nossos vizinhos e concorrentes europeus como Espanha, França, Itália ou Alemanha. O único grande problema em que Portugal perde para estes países é a nível do marketing. Estes países, através de exposições, eventos e acções de marketing bem conseguidas, conseguem aquilo que é factor capital para este mercado, a notoriedade.
Conseguir captar a atenção dos consumidores coreanos, é factor crucial para alcançar o sucesso porque, para os consumidores, um produto que é bem promovido, que goza de estatuto, e que tem sucesso nos mercados ocidentais, é um produto que eles vão querer por certo adquirir. Porém, um produto que até seja de melhor qualidade, mas que não seja promovido, nunca conseguirá atingir o sucesso pretendido.
Deste modo, o facto de Portugal assumir a presidência da União Europeia nos próximos 6 meses, é um factor que pode ser usado como um meio extraordinário de publicitar o nosso país, a nossa indústria e o nosso comércio, pelos inúmeros eventos nos quais Portugal vai participar e que se traduzirá em mais tempo de antena, sendo uma óptima oportunidade para proceder a uma série de eventos promocionais das marcas portuguesas.
Se nos meios políticos e económicos este facto é conhecido, a população em geral desconhece esse facto. Seja em grandes ou pequenas delegações, espalhadas por esse mundo fora, o importante é efectuar eventos promocionais e, neste caso particular da Coreia do Sul, ganhar entre os consumidores com grande apetite consumista, um pequena quota de mercado pela notoriedade da qualidade dos produtos portugueses, porque percepção da marca Portugal já eles têm, citando por exemplo, o futebol, factor esse que poderia também ser usado pelas marcas como forma de introdução ou de expansão de produtos no muito desenvolvido e próspero mercado sul coreano.
A Presidência Portuguesa é uma oportunidade para uma promoção em massa do país, porque, e usando um ditado popular, “quem não é lembrado, não é falado.”
É tudo uma questão de marketing!
Hugo de Carvalho, Deleg. Icep, Milão, Itália.
Cláudio Santos, Deleg. ICEP, Cidade do México, México.
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