Eu vim parar a Bordéus, França. Bem vistas as coisas, são apenas 1160 km de distância para chegar a Lisboa, será que podemos esperar ter mudanças culturais radicais num espaço tão curto? Pessoalmente, depois de três meses e meio de estágio, e apenas com mais um mês e meio até ao fim, penso que a aculturação aqui não é nenhum dilema, aliás ela passa quase despercebida, reflectindo-se mais em pequenos apontamentos do dia-a-dia, do que propriamente em grandes modificações na forma de estar e de viver.
Talvez tenha uma visão que possa parecer excessivamente simplista mas, depois de ter passado quase três anos numa África do Sul recentemente saída do apartheid, ainda muito conflituosa na sua procura de uma identidade cultural una, toda a Europa me passou a parecer estranhamente próxima. Talvez não nos devamos realmente esquecer que toda a história da Europa se faz em torno de cruzamentos, misturas e conflitos. Basta, até, olharmos para o nosso próprio exemplo. O pai do nosso primeiro rei, D. Henrique, era um duque da região francesa de Borgonha. De certa forma, devemos a nossa existência à perseverança de um descendente francês.
Esta capacidade de luta e de reivindicação social francesa vêm de longe, quase que me atrevo a dizer que a Revolução Francesa é apenas a marca mais visível. E também não podemos esquecer o Maio de 68, emblema muito em voga nestes últimos meses de retorno à luta estudantil. Uma grande parte das universidades parou, chegando mesmo a haver ocupações dos Campus. Ainda ontem, na Universidade de Toulouse Le Mirail, a polícia foi chamada a intervir para desbloquear as instalações. Por comparação, eu diria que nós, portugueses, somos um pouco adormecidos.
Mas não se pense que só há coisas boas a dizer, até porque, por outro lado, a consciência que os franceses tem da sua própria capacidade reivindicativa como povo, torna-os também excessivamente orgulhosos e até mesmo narcisistas, criando o efeito de barriga ao sol. Quando atingem determinado objectivo, não continuam, não tentam superar-se a si mesmos, acham imediatamente que já não existe para lá de. Dou um exemplo dentro da área em que me encontro a trabalhar: foi a França que descobriu a tecnologia dos lamelados colados, mas a falta de empenho na continuação do estudo sobre a tecnologia e as suas formas de produção, fez com fosse completamente ultrapassada por países como a Bélgica e a Alemanha. Ou seja, a França ficou com o orgulho da invenção, mas não com os lucros da sua implementação.
Esta é uma marca que se sente nas tais pequenas coisas do dia-a-dia, aquelas pequenas adaptações que temos de fazer para nos sentirmos mais integrados. Por exemplo, um francês quando aprecia qualquer coisa nunca diz que está bem ou que gosta, vai sempre dizer “c'est pas mal” - não está mal. Achei que conseguia contornar a situação e que conseguiria sobreviver dizendo “c'est bien” - está bem, mas era apenas uma doce ilusão, porque no fim de contas, também não raramente, o “ não está mal” é utilizado em Portugal. Realmente, se calhar, são mais os pontos em comum do que os que nos distanciam. Talvez, também por isso, a França tenha sido país de eleição para a emigração portuguesa.
Mas se tivesse que escolher uma característica incontornável, que tenho alguma dificuldade em perceber, seria a questão das pastelarias. Aqui só vendem mesmo os bolos, se quisermos uma bebida a acompanhar temos de ir para o café ao lado... pedimos a bebida, sentamos, e não, ninguém se vai importar que estejamos a comer um bolo ali do lado, já experimentei fazer, e mesmo se me fez um pouco de confusão, foi só a mim, porque mais ninguém se importou! Descontracção à francesa...é o je ne sais quoi que dá vontade de continuar por cá.
A tempestade perfeita
A Tempestade Perfeita, título de um livro de Sebastian Junger (1997), retrata um conjunto de circunstâncias climatéricas que raramente ocorrem em conjunto mas que, quando conjugadas, provocam um efeito devastador. A actual crise económica tem todos os ingredientes de uma tempestade perfeita. Se, por um lado, temos uma tendência de sub consumo que se tem arrastado ao longo dos últimos anos, mas que se manteve imperceptível devido à dinâmica imprimida pelo sector financeiro através da concessão de crédito que permitiu o consumo, por outro lado temos a crise financeira que advém do facto de o sistema ter criado produtos altamente sofisticados, complexos e perigosos que funcionassem como resposta à tendência de sub consumo.
Para a tempestade ser perfeita temos ainda a crise tecnológica.
Nos ciclos de crescimento de Kondratieff, a fase ascendente costuma ser associada a grandes inovações tecnológicas que modificam os sistemas de produção e os estilos de consumo e, se a década dos anos 90 foi atravessada por grandes inovações na informática, biotecnologia e novos materiais, o fim da primeira década do século XXI está a ser marcado por uma estagnação tecnológica que está a levar ao declínio do actual modelo de crescimento económico. Daí ser necessário um novo paradigma tecnológico para a economia global entrar num novo ciclo de crescimento.
Green growth economy
O plano de relançamento da economia americana coloca as tecnologias limpas como prioridade, propondo-se criar entre 3 a 4 milhões de empregos. No ambicioso plano estão previstos: benefícios fiscais, investimentos em investigação, modernização das linhas de transmissão de energia, novos projectos em energias renováveis, aumento da eficiência energética, investimentos em transportes e combustíveis verdes, etc. Assim, o presidente Obama, relança a economia e garante a liderança dos EUA para a Conferência de Copenhaga sobre alterações climatéricas que se realizará em Dezembro de 2009.
No recente fórum National Clean Energy Project: Building the New Economy, realizado em Washington, personalidades como Bill Clinton, Al Gore e altos representantes da administração Obama debateram saídas para a crise da economia americana e criticaram os indicadores económicos, porque omitem os custos ambientais.
Estamos perto do momento em que inventários de carbono serão exigidos nos balanços das empresas e em que o fluxo de carbono determinará a remuneração dos accionistas e dos novos executivos, interessados em lucrar com as actividades ligadas à descarbonização.
Provavelmente o próprio sistema financeiro criará produtos em que a rendibilidade dos mesmos estará associada ao baixo nível de emissão de carbono, que será um indicador de competitividade!
Sinais dos tempos
A Google está a desenvolver um software que fornecerá aos consumidores formas mais inteligentes de gestão de energia.
Em Abu Dhabi está a ser construída a primeira cidade carbono neutro do mundo em pleno deserto, Masdar. Ocupando uma área de 6 km2, com 50 mil habitantes e 80% da água reciclada, não usará petróleo nem gás e o lixo será transformado em energia e adubo.
Podemos concluir que estamos a entrar numa nova fase da evolução humana, onde o lucro a curto prazo será substituído pela sustentabilidade económica, social e ambiental.
Débora Cruz | C13
Homelidays
França
Numa altura em que a palavra crise já se tornou parte do quotidiano, a França não é excepção e, nos dias que correm, já se faz um esforço para ver la vie en rose.
Os dados mais recentes revelam que a actividade económica em França caiu 1,2 % no último trimestre de 2008 e, em 2009, as previsões não são mais animadoras, estimando-se uma recessão de um ponto percentual.
À semelhança do que ocorre noutros países, a indústria é um dos sectores mais afectados, mas outros factores têm contribuído para este decréscimo da actividade, como a redução massiva de stocks por parte das empresas e a queda das exportações. Contudo, há quem diga que o pior já passou.
Na verdade, uma crise é sinónimo de mudança e as empresas francesas já se começam a adaptar aos novos desejos do mercado.
Começa a verificar-se uma crescente procura por “pessoas diferentes”, fruto de uma necessidade cada vez maior de inovação, de novas ideias e de personalidades flexíveis, capazes de compreender o mundo e a sua complexidade. Os valores sociais também estão a mudar e aqueles que se preocupam apenas com números e com rentabilidade vêem o seu posto ameaçado após esta catástrofe financeira.
Vários são os sectores que aproveitam a crise como forma de reunir esforços e vencer.
As energias renováveis, os serviços electrónicos e as empresas low cost são disso exemplo em terras gaulesas.
Os consumidores franceses optam, cada vez mais, por produtos amigos do ambiente e o governo francês, assim como a Europa, reforçam esta tendência criando regulamentação adequada. Desde edifícios que visam reduzir o consumo de electricidade e calor, até à Informática, que promete computadores ecológicos, a era do verde está verdadeiramente en vogue!
A crise também não está presente no e-business. O comércio electrónico prospera, o e-marketing revoluciona a publicidade e várias são as empresas em França a desenvolver plataformas para criar o seu negócio on-line.
A crise contribui ainda para a emersão de um novo mercado. Depois das viagens e da alimentação, já bastante divulgadas, pode agora encontrar-se um vasto leque de produtos e serviços a baixo custo. A Banca, o sector automóvel, as telecomunicações e muitos outros sectores, já perceberam que o preço é, em tempos de crise, um dos factores de maior influência na escolha dos consumidores.
Toda esta conjuntura é, por isso, propícia ao crescimento e sucesso de casos como o da Homelidays, empresa francesa sedeada em Paris, pensada e desenvolvida para a mediação de negócios de arrendamento de casas de férias entre particulares, através da Internet. O conceito é bastante simples: um site onde as pessoas possam anunciar os seus próprios apartamentos e casa de férias, de maneira credível, sem grandes custos e que garanta, ao mesmo tempo, aos turistas que procuram um alojamento num lugar desconhecido, uma maior segurança. Partindo desta ideia, a empresa foi crescendo e é actualmente nº1 na Europa na sua área de negócio.
É curioso que uma empresa virada para as férias e para o lazer esteja a ter tão bons resultados numa altura de crise?
Só nos prova que, saber utilizar a criatividade, ter um espírito empreendedor e não temer desafios são sempre factores que nos levam ao sucesso, mesmo em tempos de crise...
No contexto da crise económico-financeira internacional, também a França está a ser fortemente atingida. Trata-se de uma crise com um enquadramento diferente das anteriores, tendo sido originada no interior do sistema financeiro (créditos sub-prime e outras operações próprias do sector, desenvolvidas em excesso) que se propagou à economia real. A necessidade de estabilizar o sistema financeiro é uma condição crucial no sentido de se restabelecer o normal funcionamento dos restantes sectores da economia e, daí, o peso significativo das medidas que têm sido tomadas pelos governos (num contexto de cooperação internacional), com o objectivo de restabelecer o funcionamento do sistema financeiro.
A actual crise afectou também as crenças ideológicas, pondo em causa o modelo neo-liberal e originando debates sobre o futuro do capitalismo. E a ganância e escândalos financeiros puseram em causa a confiança nas elites e nos valores tradicionais da sociedade.
Em França registou-se um abrandamento da economia e a Comissão Europeia admite a possibilidade de recessão económica. Espera-se, na melhor das hipóteses, um crescimento abaixo de 1% no ano de 2009, não havendo criação de novos empregos.
2. Medidas de Apoio do Governo Francês
Neste quadro desfavorável, para além das medidas específicas destinadas à estabilização do sistema financeiro francês, uma série de medidas bastante significativas foram anunciadas pelo Presidente Sarkozy (mediáticas e, algumas, polémicas), nomeadamente: a injecção de 26 mil milhões de euros com vista ao relançamento da economia francesa (11,5 mil milhões de euros suplementares em 2009), com prioridade para o sector da construção e para a indústria automóvel. A título de exemplo, está prevista a construção de 70.000 novas habitações sociais, a duplicação dos empréstimos de taxa nula para a compra de novas casas, tal como a criação de fundos de investimento para os grandes actores do sector automóvel, primeiro Renault e PSA, com a finalidade de reestruturar as empresas subcontratadas e fragilizadas nesta indústria. O emprego e a protecção social são também uma das grandes preocupações do Presidente Sarkozy, citando-se como por exemplo, o aumento do subsídio de desemprego e a isenção de encargos sociais para as empresas (com menos de 10 trabalhadores) que contratem novos colaboradores auferindo de um rendimento de 1,6 acima do salário mínimo. Ao nível das empresas, prevê-se a antecipação do pagamento das dívidas do Estado (às empresas), designadamente em termos de IVA, no montante de 11,5 mil milhões de euros.
O papel da CCIFP
A acompanhar estas iniciativas, estão os esforços da sociedade civil, de dimensão crescentemente europeia, como é o caso da Câmara do Comércio e da Indústria Franco Portuguesa em Paris, uma iniciativa tomada pelos portugueses residentes em França.
A CCIFP conta entre os seus membros com mais de 180 empresas em França e em Portugal, representando mais de 7000 empregados e totalizando cerca de 4 mil milhões de euros em volume de negócios. Actualmente, estima-se que existam cerca de 45 000 empresários de origem portuguesa em França.
Este projecto foi criado em 2006. Em Setembro de 2008 a CCIFP aposta na organização do Forum dos empreendedores e gestores Portugueses ou Luso-descendentes de França, (altura em que os efeitos da crise se sentem já fortemente), registando um enorme sucesso e mantendo elevadas expectativas para o desenvolvimento futuro a partir do último trimestre do ano.
A CCIFP ganha uma visibilidade na comunidade empresarial sem precedentes e regista um fluxo incessante de novos aderentes.
Neste contexto, a mais importante instituição de representação das empresas franco-portuguesas apresenta-se com novas responsabilidades em termos de missão e objectivos.
Para além de tudo isto, é o exemplo de como uma sociedade civil tenta recuperar alguns valores, como a solidariedade entre as empresas, fazendo jus ao lema: «juntos somos mais fortes». Trocam-se ideias, partilham-se projectos, fazem-se parcerias, criam-se novos clientes, ganha-se visibilidade e aumenta-se o volume de negócios.
Citando a ministra Cristhine Lagarde, “(…) os empresários franco portugueses representam uma grande corrente no âmbito da globalização (…)”
A título de exemplo, podemos observar a experiência da empresa Real Portas, especializada em todo o tipo de impressões, passando a citar algumas palavras do seu director: “A CCIFP representa um nova oportunidade de troca e de parceria entre os principais dirigentes das empresas. O facto de termos aderido como membro permitiu-nos ganhar novos mercados de impressão e de desenvolver toda a nossa rede de parcerias e contactos”. Em tempos de crise, é fundamental criar sinergias.
A actual crise é também, e sobretudo, uma crise de confiança. Existem duas perspectivas: olhar para a crise como uma ameaça, ou tomá-la como uma grande oportunidade. Oportunidade sobretudo, para as empresas/associações que souberem ler a evolução da crise e adaptar-se às novas circunstâncias, alterando o que for necessário. Neste contexto, é fundamental a importância da CCIFP na articulação das empresas e no aproveitamento das sinergias empresariais, bem como a canalização dos apoios governamentais (francês/português) para o tecido industrial que a CCIFP serve.
Bruno Guerreiro - Altran - Paris, França.
Ao compor a palavra com as letras... “A.L.T.R.A.N”, para dizer a verdade, a primeira coisa que me veio à cabeça foi “empresa de elevadores”. Após uma simples pesquisa na Internet, percebi que esta suposta empresa de elevadores era na verdade uma empresa de consultadoria fundada em 1982 (Ora esta! Eu também fui "fundado" nesse ano). Um parceiro global para a inovação reunindo uma rede de empresas prestadoras de três serviços: Consultoria ao nível das Tecnologias e Inovação; Consultoria ao nível organizacional e de sistemas de informação; Consultoria em estratégias e gestão. Com morada em 25 países espalhados por esse mundo fora, a Altran é actualmente líder na Europa no sector das tecnologias. Está envolvida numa vasta gama de projectos num leque variado de áreas, desde a indústria automóvel e aeronáutica até à indústria farmacêutica, ferroviária, ambiente, serviços financeiros, serviços de construção, entre outras.
A visão...
A inovação é um factor de diferença cada vez mais decisivo para as empresas onde o sucesso depende muito da capacidade de mobilização dos melhores talentos, ou seja, de nós, membros da rede "Contacto", a nata da nata de Portugal. Na edição deste ano, tive a sorte de ser o feliz contemplado com a oportunidade de integrar esta empresa. Estou ciente que esta é uma grande oportunidade que certamente servirá de rampa de lançamento para uma carreira profissional no estrangeiro.
O ambiente...
Um ambiente super jovem, descontraido, inovador que deixa emanar sucesso e vontade de fazer mais e mais, onde reina uma boa disposição e um profissionalismo excepcional. A juntar a tudo isto vem a distância ao poder, quase nula visto que um dos lemas da "casa" é Não ao Você, Não ao Senhor e ao Doutor!! Na Altran, todos são tratados de igual forma. Há pouco mais de um mês que nos mudámos para um novo edifício que segue o tão popular conceito de “Open Space” e, assim, a boa disposição invade a totalidade do espaço. Com a boa disposição vêm as anedotas e os risos, as notícias correm mais depressa e o sentimento de entreajuda tomou outras proporções. Neste ambiente (DSI - Direction de Système d'Informations) trabalham diariamente cerca de 50 mas se considerar os outros departamentos, podemos facilmente contar com um milhar. Encontramos por aqui uma diversidade cultural impressionante que nos faz recordar o fenómeno do “Melting Pot”.
O trabalho…
Vim para cá substituir o Gonçalo Santos (C10) e continuar o seu “mandato”. Após 2 semanas de formação sobre o projecto em que ia trabalhar, chegou o dia em que tive que seguir sozinho pelo caminho da responsabilidade. Admito que os primeiros dias foram difíceis mas nada que nos impeça de crescer, não só como pessoas mas, principalmente, como profissionais. Há já 2 meses que sou gestor de projectos. Uma função completamente nova para mim mas bastante aliciante. Actualmente faço parte de um projecto que consiste numa aplicação que gere folhas de horas, ausências e outras funcionalidades semelhantes, direccionada a todos os funcionários da empresa. Este projecto envolve intervenientes de países como a França, Luxemburgo, Portugal, Holanda e até a Índia.
Diferenças Sociais e Culturais...
A língua é logo a primeira barreira. O sotaque Indiano é tão forte e está tão intrínseco que, mesmo falando Inglês, muitas vezes é mesmo muito difícil perceber o que dizem. Como resultado, surgem expressões como: “Sorry but I did not understand…”, "The line is not good", "Could you repeat please?”. Em último caso, surge algo como: "Could you please send me an e-mail with your request?". Impressionante é todos os indianos com que tive contacto mostrarem sempre uma grande atenção, disponibilidade total e a tão conhecida boa disposição.
Outra barreira é o fuso horário que com uma diferença horária de 4h30, o tempo útil de cooperação resume-se a umas meras 4 horas de trabalho. Em situações em que é necessária uma colaboração em conjunto e em tempo real, é necessário alterar os horários de trabalho de forma a estes coincidirem o mais possível e assim obter uma maior performance.
Balanço...
Até ao dia de hoje, o balanço é bastante positivo.
Obrigado AICEP ■
Filipa Duarte - ISA; Paris; França.
É corrente ouvirmos falar de internacionalização. Instintivamente, associamo-la a empresas para as quais, muitas vezes, o recurso a exportações não é já suficiente. O “porquê” e “como se faz” podem assumir diversas formas, desde a necessidade de aceder a recursos a custos mais reduzidos ou apenas conquistar novos mercados, contratando distribuidores ou estabelecendo-se a empresa directamente no país pretendido. Outro factor colateral inerente a uma qualquer estratégia de internacionalização adoptada pela empresa, é a abertura de mentalidades e a busca de novos conhecimentos.
De facto, hoje em dia, quando penso em internacionalização, associo-a não apenas a empresas, mas sobretudo a indivíduos. Porque são indivíduos quem gere as empresas e quem conduz os seus negócios de forma a atingir objectivos delineados por outros indivíduos. Assim sendo, parece-me mais relevante falar, não de estratégias de internacionalização de empresas, mas sim de indivíduos.
Costumo dizer que há um mundo lá fora, um milhão de culturas diferentes e diversas maneiras de trabalhar com as quais vale a pena contactar e aprender. Diversificar é a palavra de ordem do dia – diversificar competências, conhecimentos, experiências – e cada vez mais, mais indivíduos tendem a trabalhar para a internacionalização da sua carreira, associando os seus objectivos pessoais aos das empresas para as quais trabalham ou às quais pretendem disponibilizar as suas competências.
São também inúmeras as estratégias para o conseguir, desde oferecer os seus serviços a várias empresas espalhadas pelo mundo, aproveitar oportunidades internas da empresa que actualmente os emprega ou simplesmente apostar no networking e agarrar – ou, muitas vezes, criar – as oportunidades à medida que forem surgindo.
É aqui, hoje em dia, que reside a maior oportunidade de internacionalização de carreira. O estabelecimento de uma forte rede de contactos abre portas. Oportunidades como o INOV Contacto permitem-nos, para além de iniciar uma carreira no estrangeiro, criar uma rede e dar-nos acesso a oportunidades de que de outra forma não teríamos conhecimento. O facto de pertencermos a um mesmo círculo dá-nos ainda a vantagem de, ao sabermos que à partida partilhamos os mesmos princípios base, sermos rotulados de indivíduos “recomendáveis”. Permite-nos, acima de tudo, ter acesso a informação privilegiada e em primeira-mão.
Outro tipo de iniciativa que tem vindo a ganhar peso e que pretende, para além de estimular o networking, “a construção de um Portugal vencedor”, são associações como a Jason Associates, “empresa portuguesa de consultoria estratégica, especializada na gestão de talento”.
Recentemente, esta empresa promoveu em Paris um evento que pretendia reunir os talentos portugueses espalhados em França no geral, e em Paris em particular. E quando inquiridos sobre qual o objectivo desta iniciativa, respondem-nos que “o Star Tracking - Odisseia do Talento foi desenvolvido com o objectivo de identificar a comunidade expatriada de talento Português, fomentar a aglutinação dessa comunidade e estabelecer uma ligação mais forte e positiva com o País”.
Esta reunião teve início em Madrid, capital à qual se sucedeu Paris e, brevemente, Londres. Para o próximo ano estão já previstos encontros em São Paulo e Nova Iorque. Todas as comunidades serão colocadas em contacto fomentando não só relações de solidariedade mas também estimulando o estabelecimento de contactos profissionais.
Ficam a ganhar os indivíduos, com o já referido acesso a informação privilegiada e oportunidades, mas também as empresas, por poderem dispor de um conjunto de pessoas que partilham os mesmos valores, ambição de crescer internacionalmente e vontade de fazer evoluir Portugal. Porque apesar de estarmos no estrangeiro e contribuirmos activamente para a internacionalização das nossas carreiras, continuamos a ser portugueses.
* in www.stratracking.org
Inês Lopes
C9 – Delegação Portuguesa junto da OCDE - Paris
A Presidência Portuguesa da União Europeia, que agora se inicia, será marcada pelas questões institucionais. Depois de ter sido aberto o caminho no último Conselho Europeu, Portugal herda a importante tarefa de elaborar o Tratado que deverá ser aprovado na cimeira a ter lugar em Lisboa de chefes de Estado e de Governo da União (motivo pelo qual já está a ser apelidado, talvez de uma forma precipitada, de “Tratado de Lisboa”).
Apesar de relevante, esta não é a única prioridade da nossa Presidência. A implementação da Estratégia de Lisboa revista, que constitui um elemento fundamental para fortalecer a criação de emprego, a competitividade e o crescimento das economias europeias, é um outro ponto basilar. As discussões sobre uma redefinição do Modelo Social Europeu (que deverá ser entendido como uma mais valia para a sociedade e não como um fardo para as empresas) tal como sobre uma nova Estratégia de Emprego deverão também ter um lugar de destaque.
No que diz respeito à “Agenda Externa” foi sublinhado no último Conselho a relevância da Cimeira UE-África que terá lugar em Dezembro. Mas existe um outro encontro de especial proeminência, a Cimeira UE-Brasil, que marca o início das “relações privilegiadas” com o nosso “país irmão”.
Com mais de 185 milhões de habitantes e o 9° PIB mundial, o Brasil tem um enorme potencial de crescimento que não tem sido aproveitado, em consequência de problemas estruturais. Apesar da estabilidade do quadro macroeconómico, segundo Fabio Giambiagi (economista e antigo Conselheiro do Ministro do Planeamento) “não têm sido feitas alterações fundamentais no código fiscal, lei do trabalho e sistema de pensões” durante a actual administração. Encontros como este, tal como o reforço da cooperação com organizações internacionais como a OCDE, podem pressionar o “gigante” da América Latina a adoptar políticas que levem à consolidação seu desenvolvimento, tal como a uma maior abertura do seu mercado.
A realização deste encontro durante a Presidência Portuguesa também representa o consolidar das relações entre os dois países. Apesar de nós sermos o “parceiro natural”, a nossa posição não é inquestionável e o interesse do Brasil depende da nossa projecção tal como da nossa actuação nos diversos tabuleiros da política internacional. A nossa relevância internacional também resulta, em parte, do nosso papel de facilitador de comunicação com os países de língua oficial portuguesa.
Com eventos como este gera-se um círculo virtuoso.
Cristina Brasileiro, Delegação, Paris, França
O cenário Europeu tem sido palco de diversas e interessantes mudanças.
Após a rejeição da malograda Constituição Europeia, na primavera de
Perante o chumbo do projecto da Constituição Europeia, pelos franceses e holandeses, e na tentativa de salvar o mesmo projecto, foram avançados alguns elementos que estariam na origem da discórdia. No entanto, na opinião de muitos o “não” manifestado nas urnas não se dirigia ao projecto de uma Constituição europeia nem ao seu conteúdo, mas representava um sinal de insatisfação face aos respectivos governos. Esta tem sido, aliás, a opinião consensual dos franceses que tenho conhecido durante a minha estadia em terras gaulesas e aos quais relanço a questão. Não posso, porém, daqui tirar grandes ilações devido à reduzida dimensão da amostra mas fica no ar a sensação de descontentamento face ao governo do ex-presidente Chirac e algum desconhecimento face ao texto da defunta Constituição Europeia.
Não obstante as várias interpretações possíveis, foi consensual a dificuldade em ratificar um texto desta importância atendendo às diversas constituições e processos políticos dos estados membros. Em resposta ao marasmo, surgiram algumas vozes defendendo um tratado simplificado como resposta ao problema constitucional. Uma delas, possivelmente a mais energética, foi a do presidente francês Nicolas Sarkozy que se desdobrou em encontros e iniciativas com vista a um acordo entre os 27 membros da União Europeia, intensamente noticiadas nos meios de comunicação nacionais. De facto, o mais recente ocupante do palácio do Eliseu está decidido a marcar o regresso da França ao centro político da Europa, pretensão suportada pelo desejo generalizado dos franceses que, de certa forma, lho exigem.
Durante o último Conselho Europeu (21 e 22 Junho) a União Europeia conseguiu chegar a um acordo sobre a substância do vindouro “Tratado Simplificado” que põe termo à introspecção e às batalhas institucionais dos últimos anos. Abre-se, desta forma, caminho a um mandato preciso e claro para Portugal que assume a presidência da EU a 1 de Julho e da qual se espera a redacção do novo tratado no quadro de uma Conferência Intergovernamental. As expectativas em relação à presidência portuguesa são elevadas. A possibilidade de uma rápida e fácil negociação que porá termo à indefinição na Europa corresponde ao melhor cenário possível para a UE e para Portugal que gostaria de ver materializado o Tratado de Lisboa.
Na minha opinião, a Europa precisava de uma constituição que defendesse um conjunto base de direitos e que garanta o Modelo Social Europeu, adaptado ao contexto da globalização. Não se aproveitou o período de reflexão para avançar com reformas mais amplas. O futuro tratado surge como um second-best de aprovação facilitada, quase decalcado da dita Constituição mas desprovido de todos os elementos que lhe conferiam essa característica. Enquanto a Constituição pretendia substituir e concentrar num só texto todos os tratados actuais, o seu substituto limitar-se-á a modificá-los. A meu ver, o processo de integração foi diferido, mas talvez não fosse o momento ideal para dar tal passo.
De qualquer forma, ultrapassou-se o imbróglio institucional e foram dados passos importantes para que o resto da agenda europeia possa correr bem. O estado de graça do europeísta Sarkozy e o entendimento, presente, da nova geração de líderes europeus determinados em pôr em prática a sua visão da Europa, podem estar na origem do crescente optimismo europeu que se faz sentir (pelo menos, em França) entre políticos e cidadãos comuns. Polémicas à parte, as dificuldades foram ultrapassadas e chegou-se a um acordo que desbloqueou a situação e do qual se espera uma configuração com bases sólidas, de modo a suportar as reformas futuras necessárias na Europa.
Gonçalo Santos, Altran, Levallois-Perret, França.
Innovation is hardly an obstacle for companies. Over the years, it has become the foundation of their strategies. Through innovation, a product or service sets itself apart from the competition and sets the stage for growth.
Reconhecida mundialmente por ser uma das empresas que mais aposta na inovação e sendo um empregador de referência, a Altran é por si só um mundo a explorar. Actualmente, com mais de 17 000 empregados em mais de 20 países, desde a Europa, Ásia, Brasil aos Estados Unidos, é uma empresa que passa por um processo de reestruturação gigante e eu tenho a sorte de estar no meio desse processo. Empenhada em unificar as várias empresas e os processos comuns nos inúmeros escritórios por todo o mundo, é também visionária, na minha opinião, por aproveitar as sinergias oriundas da dimensão do grupo e da sua distribuição geográfica sem descurar a flexibilidade e particularidades de cada uma das pequenas empresas com que o grupo foi crescendo (a política expansionista deu-se por aquisições de empresas de excelência nos diversos mercados globais). Actualmente, urge a necessidade de melhorar os processos internos, standardizar políticas comuns e aproveitar a base tecnológica que pode ser adoptada pelas várias empresas do grupo para reduzir custos e maximizar a produtividade interna. Sendo uma empresa cuja maior unidade de negócio é a vertente de consultadoria tecnológica, é crucial dotar todos os consultores e administrativos das ferramentas correctas e de plataformas que melhorem o processo de gestão de uma empresa cujas línguas, culturas e processos são fortemente heterogéneos. Este binómio entre standardização (facilidade de gestão global) e particularização (flexibilidade empresarial e adaptação a novos ambientes e necessidades) é um dos mais complexos e mais interessantes tópicos desta aventura.
Actualmente, encontro-me na equipa de Gestão dos Sistemas de Informação e a minha responsabilidade passa por conhecer em detalhe toda a nova infra-estrutura tecnológica que está a ser disponibilizada as empresas do grupo, formar os novos utilizadores, apresentar a nova solução do ponto de vista dos utilizadores, perceber os resultados deste esforço a nível mundial e numa fase posterior, pela colaboração no desenvolvimento da nova plataforma de trabalho colaborativo. Este, será um dos pilares da nova solução tecnológica do Grupo Altran.
"If you are lucky enough to have lived in
Não preciso de vos dizer que Paris é uma cidade encantadora, romântica, viva e recheada de eventos pois bastaria lerem um folheto da cidade das luzes para ficarem a saber. Mas posso dizer-vos as pequenas coisas que adoro nesta cidade; os pequenos piqueniques solarengos no parque mesmo ao lado da minha casa, o jogging nocturno pela cidade e parar numas das pontes do Sena para apreciar o cintilar da torre Eiffel, dos franceses sempre com a sua orgulhosa baguette debaixo do braço, dos restaurantes típicos na Cité de Paris onde alguns datam depois de 1680, da soberba vista do topo da torre de MontParnasse, do meu esforço em compreender e falar esta língua que ainda não domino, de ligar o rádio e ouvir alguns dos grandes clássicos franceses, de parar na estação de 7 andares de St. Lazares e ver a correria louca de alguns dos 12 milhões que aqui habitam, de visitar os castelos onde viveram os grandes Reis e Imperadores e compreender a expressão – à grande e à Francesa, de sentir o cheiro a pão quente e croissants logo pela manhã nas inúmeras Pâtisseries e Boulangerie, de testemunhar os pedidos de casamento na Pont des Arts, de visitar as pequenas galerias de arte espalhadas por Montmarte, de sair à noite e saber que vai ser uma loucura conseguir encontrar um táxi para voltar para casa, de perder-me pela cidade e encontrar um novo recanto e um novo pedaço da cidade para descobrir. Não haja dúvidas, Paris irá acompanhar-me para sempre nas minhas memórias.
Ângelo Dias, Magic Fil, Paris, França.
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