Segunda-feira, 11 de Junho de 2007
Hugo de Carvalho, Deleg. Icep, Milão, Itália.
O sector do turismo é um dos principais, no que diz respeito ao peso que representa para o PIB nacional e à população activa que emprega, sendo estes pesos de 8 e 10% respectivamente. Estes valores associados a um dinamismo que se tem verificado nos últimos anos no sector do turismo à escala mundial, justificam a atenção que tem sido dada a este sector de actividade económica pelas autoridades nacionais.
Nos últimos anos, com o aumento do número de turistas, das receitas que lhe estão associadas, da mão de obra empregue, e os consequentes efeitos multiplicadores que o turismo induz em várias áreas, tem levado os agentes económicos, perante a concorrência internacional, a adoptarem um conjunto de medidas dinamizadoras, especialmente no âmbito da oferta.
A este crescimento não ficou alheio o mercado emissor de turistas italianos para Portugal.
De facto o ano de 2006 foi um dos melhores anos turísticos de sempre para Portugal, tal foi resultado do bom comportamento dos principais mercados emissores, onde se insere a Itália.
Em 2006 o número de dormidas de turistas italianos em Portugal foi o mais elevado de sempre, situando-se nas 945.988 dormidas, o que representou um crescimento de 31% face a 2005.
O caso mais significativo é as visitas de turistas à cidade de Lisboa, uma vez que a Itália é o 3º país com mais dormidas na hotelaria da cidade.
É indiscutível que o mercado emissor de turistas italianos para Portugal, actualmente, não pode concorrer com os principias mercados como Espanha, Reino Unido e Alemanha. No entanto, um destino que há uns anos era desconhecido para os italianos, torna-se hoje em dia alvo de grande procura no mercado turístico italiano.
Muito deste sucesso ficou a dever-se à actividade promocional realizada junto do trade e do público em geral. De salientar a relevância dos números atrás apresentados, uma vez que Portugal compete no mercado italiano, com gigantes como a França e a Espanha, que para além de disporem de um orçamento para campanhas de promoção incomparável ao português, beneficiam ainda da proximidade geográfica.
A perspectiva de crescimento do mercado turístico italiano face a Portugal, é um dado adquirido e uma aposta de sucesso, dado que duas das principais barreiras para o seu desenvolvimento, estão praticamente abolidas. São elas, o desconhecimento do país, e a falta de ligações, ou existência mas a preços poucos competitivos, entre os dois países.
Na verdade, não é de estranhar que as regiões que apresentaram um maior crescimento relativamente ao número de turistas italianos, tenham sido Lisboa e a Madeira. Em relação à primeira existem 13 voos diários que partem de 4 cidades italianas para a capital portuguesa, entre os quais um voo de uma companhia low cost.. No que diz respeito à Madeira, existem 2 voos charters semanais que servem a Ilha de Porto Santo.
Está prevista até ao final do presente ano a abertura de duas rotas de companhias low cost para as cidades do Porto e Faro.
A existência de boas ligações aéreas entre os dois países ganha especial importância, dado que o turista italiano aprecia as deslocações através das vias terrestres, situação para qual Portugal encontra-se numa posição significativamente desvantajosa, face a concorrentes como: França ,Alemanha, Suíça, Áustria, Espanha, entre outros.
Abolida a barreira das vias de comunicação, é possível criar um efeito “passa palavra” que permitirá aumentar a procura turística, não só das principais regiões turísticas portuguesas, mas alargar-se também a outras ainda menos conhecidas do turista italiano.
Portugal dada a sua pequena dimensão, é um mercado ideal para o turista italiano que nas suas viagens ao estrangeiro não circunstancia a sua visita apenas a um lugar ou uma cidade, mas procura sempre um conhecimento mais alargado a nível geográfico e cultural, de tal forma que o Touring constitui a principal motivação para realizar uma viagem.
Dentro do turismo dito tradicional, isto é, Sol & Mar, este tipo de motivação para realizar uma deslocação ao estrangeiro não assume pelo turista italiano, um papel tão importante como acontece com os povos do Norte da Europa. Tal conclusão deriva do facto da vasta oferta de localidades balneares existentes no país. No caso português esta realidade também se verifica, em muito devido à inexistência de ligações directas para o Algarve. Situação esta que pode ser alterada ainda até ao final de 2007.
No que diz respeito à experiência profissional desenvolvida na área de turismo da Delegação do ICEP em Milão participei na Bolsa Internacional de Turismo, que decorreu entre os dias 25 e 27 de Fevereiro em Milão. Esta feira sendo uma das maiores da Europa nesta área de actividade, contou este ano com a participação de 120 países e foi visitada por mais de 150 mil pessoas. Portugal fez-se representar pela Delegação do ICEP, pelas Associações de Turismo do Algarve, Lisboa, Norte de Portugal, Direcção Regional de Turismo da Madeira.
Para este ano está ainda prevista no mês de Outubro em Rimini a participação na feira TTG Incontri.
No mês de Maio realizou-se em Milão a apresentação do Algarve como região turística, uma iniciativa do Operador Turístico King Holidays, que contou com a participação da nossa delegação, membros locais da TAP Air Portugal e profissionais de agências de viagens.
No âmbito do trabalho de promoção da Delegação, realizar-se-á no mês de Junho na cidade do Porto, o congresso da Federação Italiana de Agências de Viagem e Turismo (FIAVET) que contará com a participação de 350 agentes do Trade italiano.
No que diz respeito ao trabalho desenvolvido pela área de Turismo da Delegação junto da imprensa até ao momento foram levadas a cabo 16 viagens educacionais pelas várias regiões Portuguesas, estando ainda previstas a realização de um número indeterminado até ao final do ano.
Por outro lado tenho tido contacto com o trade local, uma vez que visitei alguns operadores turísticos no sentido de recolher informações no que diz respeito à situação actual do mercado emissor de turistas italianos para Portugal. De uma forma geral as opiniões são positivas, a tendência é para o crescimento do mercado, traduzido em um aumento da procura quer de produtos quer de regiões, sendo o feedback do turista italiano que visita Portugal, na maior parte dos casos, positivo.
Cláudio Santos, Deleg. ICEP, Cidade do México, México.
Há cerca de 11 horas de avião de distância da Europa (sem contar com as escalas que devemos fazer para quem vem de Portugal), a percepção que nós usualmente temos deste país poderia ser resumido a: praias, tequilla, fiesta, carochas e Cancún. Ledo engano, o México é um país bastante industrializado e desenvolvido, apenas vivendo no obscurantismo quando comparado com os seus vizinhos “todos-poderosos” do norte.
A oportunidade de poder estagiar numa delegação do ICEP, neste caso no México, se por um lado me privou de conhecer um típico ambiente de trabalho mexicano, por outro permitiu-me adquirir conhecimentos bastante alargados sobre sua economia e seus diversos sectores.
Pode parecer um pouco irreal, mas o México possui números realmente importantes: 14º economia mundial, 5º maior produtor de petróleo, crescimento de 3.5% em 2006, principais multinacionais do Mundo presentes no país. Além disso e segundo um estudo divulgado pela reconhecida consultadoria PricewaterhouseCoopers referente a 2005, a Cidade do México figura na 8º posição entre as metrópoles mundiais com o maior PIB em termos de poder de compra, projectando-se como a 7º em 2020. Impressionante para quem não tem muita informação sobre este país.
Outros factores a salientar, o México, comparativamente com os outros países da América Latina, possui uma economia muito mais aberta, traduzida nos inúmeros acordos bilaterais assinados com outros países (inclusive a União Europeia), sendo o segundo país (depois de Singapura) a assinar um tratado de livre comércio com o Japão. É o país, actualmente, com maior número de acordos de livre comércio no mundo. Também é o país da América Latina que mais recebeu investimentos estrangeiros em 2006 (19 mil milhões de dólares), superando o Brasil como destino favorito.
Claro que existem pontos negativos importantes a apontar, como a disparidade da distribuição de renda (20% dos mais ricos detém 55% da riqueza nacional) contribuindo bastante para os índices de criminalidade, e mais especificamente na Cidade do México, o completo caos a nível de urbanização, com excepção de algumas áreas, dos transportes e a poluição. E claro, a ainda excessiva dependência da evolução da economia norte-americana constitui um dos principais entraves para o seu desenvolvimento.
O mesmo estudo mencionado anteriormente alerta que o peso económico não é necessariamente a solução. "A Cidade do México, a maior economia entre as cidades emergentes, é acometida por problemas de crime, congestionamento e poluição que fazem cidades menores mas de crescimento mais rápido, como Guadalajara e Monterrey, mais atractivas".
Um dos aspectos culturais e que de certo modo bloqueia o desenvolvimento do país pode ser resumido numa expressão muito comum por aqui: ahorita. Esta expressão, numa tradução simples, significa “daqui a pouco” ou “já lhe faço”. Mas para efeitos práticos, o ahorita significa uma “eternidade”. Tudo é feito com bastante calma e lentidão para o padrão europeu, pelo que é preciso ter alguma paciência e encarar tudo isto com naturalidade, como um traço característico deste povo.
Sobre sectores específicos do mercado mexicano vistos como oportunidades para a oferta portuguesa, podem-se destacar os Vinhos e o Turismo.
A indústria vitivinícola mexicana é uma indústria que, contando o facto de não ser de tradição, tem apresentado vinhos de boa qualidade. Até há alguns anos a ideia de produzir vinho no México fosse uma ilusão. Actualmente, o México entra no cenário dos chamados Vinhos do Novo Mundo, provenientes da Austrália, Chile, EUA, África do Sul, Argentina, Nova Zelândia, e começou a participar nos melhores concursos internacionais. Actualmente o México exporta para pouco mais de 10 países, destacando-se os EUA.
Apesar disto, o consumo de vinho entre a população é baixo, sendo que a reduzida parcela de cidadãos com altos rendimentos apresenta preferência pelos produtos importados. No entanto, o México dispõe de condições geográficas e climáticas favoráveis para a produção de vinhos de alta qualidade, o que lhe dá vantagens comparativas principalmente para o mercado de exportação. Este mercado, no qual a participação mexicana é ainda incipiente, apresenta potencial dada a boa relação qualidade/preço do produto mexicano.
Os vinhos portugueses encontram uma forte concorrência no mercado mexicano. Como noutros sectores, Portugal sofre pela falta de “marca” e reconhecimento que os seus produtos têm nos mercados internacionais. No caso do vinho, a qualidade do mesmo é conhecida pelos profissionais do sector, mas tal não acontece junto dos consumidores e compradores finais, com excepção do vinho do Porto.
Além disto que a concorrência em preço é muito forte e os vinhos portugueses são colocados acima da média da concorrência, factor que pode ser explicado por custos logísticos mais altos devidos pelo menor volume de caixas que entram no mercado quando comparado com os vinhos de outros países, sem contar claro com os custos de fabricação.
A oferta portuguesa no sector do turismo não pode promover o país como um destino do tipo “praia e sol”, visto que o México é bastante reconhecido a nível internacional nesta área. Pode-se citar como exemplo, Acapulco e Cancún, pelo que o turista mexicano dará preferência a destinos nacionais, considerando a sua qualidade e também pelo reduzido poder de compra de grande parte da população. Outro facto que bloqueia a promoção de Portugal como destino turístico aqui é a inexistência de voos directos entre os dois países.
Considerando estes factos, pode-se dizer que a promoção turística no México deve mostrar Portugal como um destino de importância histórica e cultural. Também o turismo religioso, muitas vezes ignorado pelos agentes do ramo, tem um grande potencial aqui, visto que 89% de sua população de cerca de 100 milhões de habitantes é católica e tem grande devoção pela Virgem de Guadalupe (47% da população assiste a missa semanalmente), que assume importância similar a Fátima em Portugal.
O México, como referido no título, é definitivamente um país a descobrir pelos portugueses, não apenas como um destino turístico, mas sim como um país em vias de desenvolvimento e com excelentes projecções de crescimento, podendo ser uma alternativa de investimento aos já tradicionais países do BRIC, e mas especificamente no caso português, a Angola. Um país cheio de oportunidades, rico e diversificado culturalmente.
Barbara Salgado, Deleg.Icep, Shanghai, China.
“Aconteceu tudo muito repentinamente. Ainda há poucos anos a China pairava, para a maioria de nós, como uma presença grande mas distante. Hoje afecta e influencia tudo. A competição pelos nossos empregos, as nossas economias, as coisas que compramos, o desaparecimento da selva amazónica, o preço do petróleo, o equilíbrio de poderes no mundo e tantas das outras tendências que estão a modificar o mundo têm, pelo menos em parte, o dedo da China.”, James Kynge, A China Abala o Mundo
A China, conhecida como o “Centro do Mundo”, e com uma cultura milenar, esteve adormecida durante décadas. No entanto, vinte anos após a implementação da política de reforma e abertura de Deng Xiaoping, permitindo a entrada de turistas, a China permanece ainda sob a aura de mistério e secretismo do século XIX. Todo este secretismo e mistério subjacentes ao maior país do mundo têm levado ao aumento exponencial do número de turistas que visitam a China. A Organização Mundial do Turismo prevê que em 2020 a China se torne no destino mais procurado do mundo. O crescimento económico foi rápido, tendo surgido hotéis de luxo, melhores transportes públicos e excelentes restaurantes. Os principais pólos de atracção são as grandes metrópoles e cidades mais desenvolvidas (Pequim, Xangai e Hong-Kong e Macau, apesar do seu estatuto singular de Regiões Administrativas Especiais), e aldeias históricas, como Suzhou, a veneza oriental, Hangzhou, a conhecida cidade dos lagos, entre outras, como Guilin e a província de Sichuan.
Conhecida como a “Paris do Oriente”, Shanghai é agora a minha cidade. Situada no delta do Yangze, é um porto extremamente activo, desde há alguns séculos celebrizando o Império do Meio. Os europeus, a partir de meados do séc. XIX, viram oportunidades de negócio, aí constituindo as chamadas concessões, francesa e internacional (englobando a inglesa e a americana).
Shanghai, uma cidade com 6 mil anos de história, preserva uma cultura ancestral e projecta-se num universo financeiro à escala mundial. Pudong, o maior centro económico da China, impressiona-nos pela velocidade com que se implantou e posicionou na geografia económica planetária. Tornou-se num dos principais pontos estratégicos do mundo. Nascido há uma dúzia de anos, ostenta a mais moderna arquitectura que existe no Mundo, abrigando as empresas em expansão, desde os grandes grupos financeiros nacionais às multinacionais. Estas últimas, ai se estabelecem atraídas pelas potencialidades de uma economia emergente que é a China (1.3 mil milhões de habitantes).
Enquanto há algumas décadas o “American Dream” preenchia o imaginário dos homens, a China nestes últimos anos tornou-se numa realidade alternativa. Shanghai oferece inúmeras oportunidades de negócio, seduzindo os Ocidentais pelo espaço existente no tecido empresarial, permitindo desenvolver um leque variado de produtos que vão ao encontro das necessidades dos chineses. Este facto, por si só, justifica o fluxo de turistas a Shanghai. A maioria dos turistas estrangeiros, fascinados pelos encantos da cidade, não fazem apenas turismo histórico, acabando por se integrar no tecido empresarial da cidade.
Em Pequim, antiga capital imperial e actual capital administrativa, as centenas de turistas que diariamente visitam a cidade são atraídos por razões histórico-artísticas, pelo que se pode designar de “turismo de visita”, em oposição ao “turismo de estabelecimento” que ocorre em Shanghai. O “turismo de visita” acolhe os estrangeiros que à China se deslocam por pura curiosidade intelectual enquanto que o “turismo de estabelecimento” tem como objectivo a fixação na própria cidade. Comum aos dois tipos de turismo, temos os elementos da tranquilidade e segurança que, em grande medida, contribuem para um aumento de turismo da China nos dias que correm. Para além disto, ainda que a barreira linguística dificulte a comunicação, os chineses são um povo acolhedor.
Estas características de segurança, tranquilidade e afabilidade aplicam-se igualmente a Portugal, pelo que, desde já, existem afinidades potenciadoras de relações turísticas e culturais. São estes elementos, comuns aos dois países, que podem aproximar os povos de modo a consolidar o seu relacionamento e a promover um verdadeiro turismo português e chinês.
A título de exemplo, os franceses têm vindo a procurar cada vez mais Shanghai pela segurança que a cidade oferece, longe da violência e distúrbios que têm ocorrido em Paris, e pelas potenciais oportunidades de estabelecimento de negócio.
Assiste-se, igualmente, a um despertar para um continente que esteve adormecido durante séculos e um crescente interesse por uma civilização milenar, enraizada na cultura do dia-a-dia, sobre a qual ainda se tem pouca informação. Hoje, a China começa a reabrir-se para o mundo e a emergir como uma potência e como maior país do mundo que faz temer com a sua dimensão e força. É interessante pensar na evolução de Shanghai – começa como uma vila piscatória e torna-se no pólo económico e industrial da China, presenciando uma saudável volatilidade diária e um dinamismo progressivo, razões pelas quais também atrai turistas.
No entanto, o turismo chinês inclui uma componente igualmente importante de turismo interno. A China, sendo o maior país do mundo, tem um mercado interno de turistas de 1.3 mil milhões. O movimento “regresso a casa durante as férias” é de tal modo impressionante que se torna caótico viajar nessa altura. São magotes de chineses a viajar para as suas terras natal uma vez que o regime de férias, sob influência do comunismo, funciona de igual forma para todos, o que significa que os chineses têm todos férias na mesma altura e são obrigados a gozá-las todos ao mesmo tempo. É inegável a dimensão do mercado interno e das leis vigentes que limitam o turismo além fronteiras, não impedindo, contudo, em definitivo, o turismo internacional contribuindo para um aumento do fluxo de turistas na China.
João Santos, Deleg.ICEP, Dublin, Irlanda.
Vejo a Europa de hoje como um espaço alargado de confluência de culturas, um pequeno mundo inserido no Mundo. O sentimento europeu parece-me, em grande parte dos casos, sobrepor-se ao tradicional sentimento nacional, tal a integração que se verifica no Velho Continente.
Chegado à Irlanda, deparei-me com uma pergunta que imagino comum a muitos outros colegas: o que tem este país de diferenciador face a outros países da mesma área geográfica? Ao fim, de quase quatro meses, julgo ter algumas respostas.
O factor mais imediato é o clima: intranquilo, imprevisível, oferece-nos num só dia as quatro estações do ano, tal a sua capacidade para nos surpreender.
Um outro aspecto que assume relevância nas relações sociais é a informalidade, visível não só no campo pessoal como na vertente profissional – na Irlanda serão tomadas tantas decisões empresariais num bar como numa sala de reuniões.
Um terceiro ponto, este de mais difícil habituação, é o sentido de humor irlandês. Sarcástico, acutilante, quase cínico, deve ser compreendido mas nunca subestimado.
Por último, o factor decisivo, condicionador de toda a vida social irlandesa: uma verdadeira pub culture, visível na qualidade e diversidade de bares existentes, na quantidade de cerveja ingerida, na animação dos finais de tarde.
Sim, a Irlanda é diferente!
Pedro Folgado, ESViagens, Madrid, Espanha.
Depois de dois anos e meio a trabalhar em Portugal com um início de carreira (talvez demasiado) estável, o bichinho de mudar definitivamente de vida começou a fazer mais sentido do que nunca. Fosse pela ausência de novos desafios, fosse por estar saturado da estabilidade, fosse pela estranha sensação de não querer lamentar-me de nunca ter embarcado numa aventura rumo ao “desconhecido”, a verdade é que daí a candidatar-me ao Programa Inov Contacto foi um pequeno (grande) passo.
A colocação em Madrid teve um sabor agridoce: por um lado, a capital Espanhola não foi o destino que inicialmente estava previsto, nem o que, por consequência e muito honestamente, mais me estimulava; por outro, a proximidade a Portugal confundia-se com um sentimento de segurança adicional. O resultado tem-se revelado muito “saboroso” e a recompensa maior do que alguma vez esperado, em especial ao constatar o magnífico grupo que me esperava.
A Carlson Wagonlit Travel, empresa que me recebeu, era-me de todo desconhecida e nem o mês de estágio que passei em Lisboa me iluminou particularmente acerca da mesma. No entanto, tudo mudou após a chegada a Espanha e aqui foi-me transmitida não só formação geral acerca da empresa, como também formação específica para as funções que iria desempenhar. Actualmente, encontro-me a estagiar no Departamento de Recursos Humanos e tenho sob minha responsabilidade a gestão do projecto de implementação de um sistema de payroll em regime de outsourcing.
Nunca esperei que confiassem tamanha responsabilidade nas mãos de um mero estagiário, mas essa é, sem dúvida, uma das mais agradáveis diferenças que encontro entre a cultura empresarial espanhola e a portuguesa: uma vez aqui, o tratamento não é excessivamente hierarquizado e o nível de responsabilidade e responsabilização é horizontal, independentemente do nosso background, experiência profissional anterior ou até país de origem.
Outra diferença que desde logo considero relevante notar é uma maior orientação para resultados e objectivos, mesmo que, à semelhança de Portugal, se note uma ligeira tendência para trabalhar sob pressão e deixar tudo para o último “minuto”…
Sobre a cidade que pela primeira vez me recebe, Madrid é absolutamente fantástica! Desde as famosas tapas y cañas, à diversão nocturna incomparável, passando pela enorme oferta cultural, tudo é pretexto para que nos sintamos bem e (quase) em casa. Se existe alguma coisa em que os Espanhóis nos levam vantagem, só poderá ser o facto de os nuestros hermanos estarem sempre prontos para a movida! Em qualquer dia da semana e a qualquer hora da noite ou do dia, desde que esteja bom tempo, encontra-se a Gran Via, por exemplo, frequentada por pessoas de todas as idades, estatutos sociais e ocupações profissionais. Turistas, madrileños e habitantes mais ou menos ocasionais, cruzam-se assim num dos ex libris da cidade com o mesmo deslumbramento.
Para nós Portugueses, a adaptação ao modo de vida madrileño não é difícil. Também nós partilhamos do gosto por ambientes festivos, as diferenças culturais não são muito acentuadas, a língua é fácil de compreender e falar. Curiosa é a extrema dificuldade que os Espanhóis têm para perceber o Português falado, assim como o desconhecimento que muitos revelam acerca do nosso País. Sempre pensei que os nossos vizinhos estivessem mais informados acerca da nossa realidade actual e tivessem já desmistificado alguns dos estereótipos que associavam(os) a gerações mais antigas.
Não obstante o facto de a experiência profissional ser amplamente positiva e de ser uma óptima oportunidade de desenvolvimento, creio que o mais importante é o crescimento pessoal que se obtém. A descoberta, mesmo que forçada, de capacidades desconhecidas (como a culinária, por exemplo), a partilha de espaço com totais desconhecidos, a vivência diária num ambiente cultural diferente daquele a que estamos habituados, a estranheza de passar dias inteiros sem ouvir falar a nossa língua… são experiências que nos obrigam a crescer e a encarar com maior confiança o futuro.
O que quer que o destino me reserve, tenho hoje a certeza que estarei, se não preparado, pelo menos mais optimista, para o enfrentar.