Terça-feira, 30 de Junho de 2009

Gente que rala em harmonia

Rita Amaro | C13

 

TIMwe

São Paulo| Brasil

 

Li num artigo da revista Veja que um estudo da Gallup Organization tentou identificar a relação entre amizade e satisfação profissional, revelando que, quem tem um amigo no trabalho é sete vezes mais produtivo, criativo e envolvido nos projectos da empresa, do que o funcionário que mantém um relacionamento frio e distante com os colegas. Achei que era o tema perfeito para o meu artigo de opinião, já que o factor que mais tem marcado a minha passagem pelo Brasil é o ambiente de trabalho fantástico em que fui integrada.

 

Uma segunda-feira cheguei ao escritório e estava todo remodelado. Na minha mesa tinha um envelope que dizia Gente que rala em harmonia... e dentro explicava a iniciativa: Foi com todo o carinho, dor nas costas, nas pernas, nos braços, nos dedos, que isso foi feito para vocês. Não houve a menor pretensão de fazer um trabalho profissional, por isso não encha o saco se perceber pequenos defeitos – ou mesmo grandes!

Chega de paredes brancas e um escritório sem vida. Que venham as cores, os pufes, as balinhas na sala de reunião para quebrar o clima azedo que às vezes fica por lá, e mais um monte de detalhes “bobos” – mas que esperamos que façam uma diferença danada.

Não importa que a Exame não nos escolha para a lista do ‘Great Places to Work’. Eles é que perdem por não descobrir uma empresa com pessoas como você. E contamos justamente com você para que a gente tenha cada dia mais prazer em trabalhar aqui. Stresses? Sempre existirão. Mas pelo menos agora são mais coloridos. Um beijo de boas vindas ao nosso novo escritório.

 

Três pessoas tinham dedicado o fim de semana a colorir e renovar o ambiente do escritório e o resultado foi sensacional! Esta iniciativa, juntamente com muitas outras (happy-hour última quinta do mês, pequenos-almoços às sextas, etc.) têm criado um ambiente de trabalho invejável e uma relação de amizade e espírito de equipa incríveis, que fazem com que eu vá trabalhar todos os dias cheia de vontade e com um sorriso na cara.

 

Numa sociedade cada vez mais individualista, onde a grande maioria das pessoas passa, no minimo, 50% do tempo que está acordada no trabalho, parece-me inacreditável que ainda haja escritórios onde colegas de trabalho pouco ou nada se relacionem. É fundamental criar laços com as pessoas com quem convivemos diariamente grande parte do nosso tempo, não só para a nossa saúde mental, mas também porque um melhor aproveitamento é conseguido quando as pessoas se sentem comprometidas com a organização e equipa em que trabalham. É dada pouca importância a coisas simples como ter alguém com quem conversar, pedir conselhos, ou mesmo partilhar um olhar de cumplicidade, mas são pormenores que podem fazer toda a diferença e contribuir em muito para a produtividade da empresa. Quando a relação das pessoas é fluída e positiva, a comunicação fica mais fácil, o tempo despendido na coordenação de actividades de equipa é menor, os processos de resolução de problemas são mais dinâmicos e torna-se mais simples reunir diferentes perspectivas e expertises num único ambiente, pois existe um maior sentido de cooperação. O empenho de uma pessoa num ambiente de trabalho sério, pouco pessoal e com relações débeis é bastante inferior – toda a sua produtividade fica afectada, pois grande parte do tempo a pessoa fica consumida a gerir emoções.

 

Talvez  por ser um país tropical, com pessoas mais emotivas, no Brasil presta-se mais atenção às emoções e investe-se mais nas relações interpessoais. Fala-se muito em Inteligência Emocional nos dias de hoje, mas nem todos entendem o seu real significado e utilidade. Num mercado cada vez mais inseguro, onde a competitividade e tensão reinam,  acredito que as empresas que, não só sabem gerir pessoas, mas também as suas expectativas e emoções, saem a ganhar, promovendo um ambiente de trabalho saudável, acolhedor e divertido que estimula o empenho e criatividade dos seus trabalhadores.

 

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Terça-feira, 23 de Junho de 2009

Brasil: Até quanto um país irmão?

André Gomes | C13
 
Prio Agricultura e Extracção Ltda
 
São Luís | Brasil
 

É quase do uso geral designar o Brasil como o País Irmão, contudo para além da língua (que tem variações no vocabulário e sintaxe em relação ao português europeu) e de apresentarem vestígios culturais nossos, pouco mais existe a unir-nos. As diferenças são mais que muitas, inclusivé dentro do próprio país, desde a multietnicidade (desde o Sul predominantemente "europeu" ao Norte e Nordeste "indígena" e afro-americano), passando pelo clima, gastronomia, infra-estruturas até à mentalidade e cultura de trabalho.

 

Profissionalmente, deparei-me com uma realidade de trabalho diferente da que conheci em Portugal. Eu, que sou formado em Eng.ª Civil e que estava habituado ao uso de equipamento e tecnologia em detrimento de mão-de-obra, confrontei-me com o inverso e confesso que foi útil para a minha formação, permitindo aprender como poupar em processos construtivos pois, até tarefas consideradas tão simples como amarrar armadura, são feitas de modo diferente. Uma das barreiras que tive que enfrentar foi o vocabulário técnico diferente do nosso, concreto (betão), formas (cofragem), picão (perfurador hidráulico), sapão (compactador) entre outros, são termos que tive que usar no meu dia-a-dia e que me saem já de forma espontânea e fluente.

 

Uma das situações mais hilariantes com que me confrontei, foi quando contactei um fornecedor por telefone para saber se fazia "vedação com pilaretes de betão armado e com 5 fiadas de arame liso" ao qual ele respondeu que não fazia. Colegas meus de trabalho que são brasileiros assistiram à conversa por telefone, riram-se e explicaram-me como deveria ter dito porque o fornecedor não tinha entendido nada. Voltei a contactá-lo e perguntei de outra forma: " Você faz cercas com postes de concreto armado e com 5 fiadas de arame liso?" à qual ele dessa vez respondeu que sim. São estes pequenos detalhes que, por vezes, podem prender negócios.

 

Pessoalmente, também está a ser bastante enriquecedor. O Maranhão, onde trabalho, é um dos estados mais pobres e subdesenvolvidos do Brasil, com um PIB per capita comparável ao dos países africanos, mas, esse facto por si só, não tira a felicidade e simpatia às pessoas. Agora pergunto eu, nós portugueses, que andamos sistematicamente a queixar-nos das condições de vida do nosso país e que é de  longe muito mais desenvolvido do que todas as áreas que o Maranhão, como nos comportaríamos nestas condições?!

 

Sem qualquer sombra de dúvida, a interculturalidade alarga-nos os horizontes e faz-nos mudar determinados preconceitos.

 

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Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2008

Independência e liberdade

Bruno Tavares | C12
Cisco Systems
 
Boulder | Colorado, USA
 

Em dias onde o conceito de globalização ganha novo significado, onde novos mercados emergem, a tecnologia tem novamente um papel fundamental. Numa recessão que afecta todos os sectores da indústria, as empresas das novas tecnologias continuam a investir e a apostar em novas ideias num mercado onde uma simples ideia consegue atingir milhões de utilizadores representando lucros exorbitantes. A passagem por uma empresa como a Cisco e um país como os EUA é sem dúvida uma experiência extraordinária. A Cisco apresenta-se como uma empresa onde o que realmente importa são os objectivos, a metodologia de trabalho é completamente diferente da que geralmente se encontra em Portugal.

Nos EUA onde a independência e a liberdade realmente importam consegue-se ouvir uma mãe dizer a outra: “Olha como o meu filho já é tão independente!...” - enquanto a criança de 3, 4 anos corre e explora tudo quando é local longe dos progenitores, onde os pais a partir dos 18 anos cobram ao filho uma renda por estes morarem em sua casa. Sem dúvida, é um país onde sem nada se pode ter tudo e com tudo se pode ficar sem nada; onde o interesse pelo estado do país passa por todos, a facilidade de falar de política com qualquer pessoa é quase inacreditável, onde a maioria das pessoas tem uma opinião formada e o que pode parecer estarmos perante uma opinião fundada pelos diversos órgãos de comunicação social, em tempos de eleições acaba por ser fundamentada com factos históricos que demonstram um seguimento muito próximo do estado do país pelos seus eleitores.

Em Boulder - Colorado uma das cidades com maior qualidade de vida dos EUA, trilhos de bicicleta e pedestres estão em todo o lado, onde no Inverno limpam a neve desses trilhos primeiro do que da própria estrada; o contacto com a natureza é constante sendo comum encontrar veados em plena cidade ou ouvir falar de leões da montanha em partes da cidade durante a noite, sendo mais perigoso um encontro imediato com um desses animais do que propriamente com um assaltante. Num local onde a maioria das pessoas são amigáveis e prontas a ajudar nunca devemos esquecer que estamos num país onde existe uma lei apelidada de “Make my day law” dando o direito de atirar a matar em qualquer pessoa que entra em nossa casa sem ser convidado. É impossível não se deixar surpreender com alguns desses aspectos, como o facto de mesmo frente a um liceu encontrarmos uma das maiores lojas de armas da cidade, uma loja de bebidas alcoólicas e uma loja para adultos... Numa cidade onde está situada a maior universidade do estado repleta de estudantes e de atletas, onde muitos dos atletas (de alta competição) vêm treinar devido às condições da cidade e à altitude a que se encontra. A vida e a loucura pelos desportos é evidente quando existe um simples jogo de Futebol Americano entre universidades, vemos o estádio da Universidade cheio, um helicóptero a rondar o estádio e o jogo transmitido pela televisão, mais uma vez é demonstrada a capacidade de organização e mobilização para que o evento seja realizado com sucesso.

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Sexta-feira, 25 de Julho de 2008

Cultura Livre

   Helena Calado

 

   Ventura Valcarce Magdalena  |  Barcelona  |  Espanha  |  C11

 

 

Provavelmente muitos de nós já tiveram a oportunidade de ver o filme “A Residência Espanhola” (2002) de Cédric Klapisch, onde é retratado um dos aspectos, que quanto a mim, melhor caracterizam a cidade de Barcelona: a questão da multiculturalidade.

Barcelona é uma cidade de confluências, onde por distintas razões convergem pessoas de todo o mundo, quer inseridas no programa Erasmus, quer por questões profissionais ou simplesmente por turismo e lazer.

Quando há uns anos tive a oportunidade de conhecer a cidade, experienciei pela primeira vez o facto de não me sentir estrangeira fora do meu país,e foi com enorme entusiasmo que recebi a notícia de que através do Programa INOV Contacto iria ter a oportunidade de viver e trabalhar durante alguns meses em Barcelona.

 

Num pequeno espaço facilmente se cruzam distintas nacionalidades, e na própria geometria urbana associam-se determinadas zonas a determinados grupos culturais, como é o caso do Raval, bairro pertencente ao casco antigo da cidade, onde não faltam as lojas de paquistaneses e marroquinos e onde ao virar da esquina se pode beber um chá de menta, deixando à porta os sapatos e os costumes ocidentais. Um pouco por toda a cidade existem os afamados “locutórios”, locais de acesso rápido e económico à internet e telefone, e na sua maioria geridos por indianos.

Ao deambular pelas ruas escutam-se distintos idiomas para além do castelhano e catalão, como o inglês, o alemão, o italiano, o francês, e também português. A nova geração de imigrantes trouxe para a cidade pessoas recém-licenciadas ou que procuram continuar uma carreira académica com mestrados e doutoramentos, e que continuam a ver Barcelona como um local de possibilidades, mas o estado de estagnação geral da economia começa a dar sinais.  Apesar do acesso a um posto de trabalho e respectivas condições de remuneração serem bastante menos favoráveis que há meia dúzia de anos atrás, Barcelona continua a exercer fascínio sobretudo nas áreas artística, pelo que existe actualmente na cidade um grande número de arquitectos e designers estrangeiros, grande parte dos quais portugueses.

A tradição da cidade nestas áreas, nomeadamente na Arquitectura é evidente, com um legado histórico de elevada qualidade, destacando-se, como não poderia deixar de ser, as obras de Antoni Gaudí. Podem também apreciar-se obras contemporâneas de prestigiados arquitectos nacionais e estrangeiros como Jean Nouvel e o seu controvérsio projecto para a Torre Agbar, ou a moderna cobertura do mercado de Sta. Catarina, da autoria dos arquitectos catalães Enric Miralles e Benedetta Tagliabue.

Mas quando falo de multiculturalidade não me refiro apenas a esta mistura e convivência de pessoas de distintas nacionalidades. Barcelona é também uma cidade de fácil acesso à cultura. Há uma grande quantidade de eventos culturais gratuítos, desde concertos de música clássica e contemporânea a exposições e performances que animam o espaço público, o local de convivência por excelência.

 

Contudo o que atribui um carácter peculiar à vida de Barcelona é, quanto a mim, a liberdade que existe nesta convivência. São raros os dias em que passo na Praça da Generalitat e não há uma manifestação, às vezes por motivos caricatos como o protesto de um pequeno grupo de cidadãos contra o encerramento da rádio paquistanesa de Barcelona, ou como me contou um amigo, a manifestação de umas quantas pessoas na altura da morte do Papa João Paulo II, que reivindicavam o direito a ver notícias na distintas desta na televisão.

 

Em Barcelona é permitido andar despido, pelo menos em alguns locais da cidade, e há um ou outro transeunte que leva este consentimento muito a sério. É também a cidade da liberdade sexual e por isso destino eleito por muitos casais homossexuais.

BCN é sem dúvida uma cidade cosmopolita, que se por um lado reivindica maior autonomia dentro de Espanha, está aberta ao exterior acolhendo no seu dia-a-dia um grande número de estrangeiros, muitos dos quais contribuem para o crescimento e desenvolvimento da cidade.

É nesta convivência descomprometida que gira o mundo do trabalho e dos negócios e que permite à cidade continuar a ser uma referência na vanguarda da cultura.

 

publicado por visaocontacto às 10:00
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