Sónia Barros da Silva
Hewlett-Packard
Galway | Irlanda | C11
Até aos anos 80, a Irlanda passou uma fase muito negativa no sector económico, na qual só conseguiram recuperar nos anos 90 através da combinação de quatro factores:
1) Atracção de investimentos dos Estados Unidos na Indústria
2) Forte investimento do governo na Educação
3) Desenvolvimento da língua inglesa
4) Aposta nas novas tecnologias
O grande factor de atracção das empresas em investir na Irlanda foi os baixos impostos praticados pelo governo. As empreses conseguiam ter lucro de mais 20% do que em qualquer outro pais. “ As empresas pagam impostos mais baixos e por isso os salários podem ser mais altos. Ao mesmo tempo, os impostos sobre o consumo também são baixos e por isso a generalidade da população beneficia de impostos baixos. Por outro lado, os ricos aumentam os seus rendimentos mais depressa”.
Em segundo lugar, a aposta do governo na Educação. A Irlanda deu primeiro prioridade à formação/motivação do seu povo no desenvolvimento integrado do país do que propriamente na construção de uma rede de “alta velocidade” rodoviária. Actualmente, a Irlanda conta com umas das taxas mais altas de literacia do mundo. Por esta razão, dá para perceber o porquê deste povo mostrar a extrema simpatia, objectividade e educação. As características do povo irlandês de certa forma também vieram impulsionar o comércio internacional.
Estes dois factores, com a ajuda da língua inglesa e da aposta nas novas tecnologias, fizeram com que a Irlanda tivesse um crescimento económico inédito no contexto europeu.
Actualmente um dos motores de crescimento económico é o sector imobiliário e a quantidade de empréstimos que fizeram e vão continuar a fazer. “Estamos a construir casas a um ritmo seis ou setes vezes superior ao Reino Unido e quatro vezes superior à Alemanha. Por isso o nosso crescimento económico depende muito deste sector. O preço das casas também tem aumentado muito rapidamente”
Na Irlanda a vida tem outro ritmo. Um ritmo Irish que significa, “tudo a seu tempo”. Os irlandeses em geral, pode demorar um pouco mais a atingir os objectivos mas quando atingem é com brio.
Fontes: Site do Arquivo do Compromisso Portugal
Gonçalo Garret - AICEP, Dublin, Irlanda.
Por trabalhar numa delegação da AICEP e, consequentemente, ter contacto com muitos portugueses que trabalham para empresas portuguesas e irlandesas, tenho-me apercebido com bastante clareza das diferenças que existem na cultura empresarial em Portugal e na Irlanda.
Assim, começo por destacar a grande diferença que encontro na primeira abordagem aos novos trabalhadores de uma organização. Se em Portugal um novo trabalhador é visto com desconfiança, em que o nível de responsabilidade é muito limitado, e é colocado numa posição em que é obrigado a provar que é bom, na cultura empresarial irlandesa, o ónus inverte-se, ou seja, o trabalhador é o melhor até provar o contrário, e caso isso aconteça ele é convidado a sair.
O mesmo acontece em relação à atitude dos empregadores perante o uso de horas extraordinárias. Se em Portugal, e creio que todos nós já passamos por isso, o uso de horas extraordinárias não remuneradas é politica corrente em quase todas as empresas, aqui o conceito de hora extraordinária é o do dicionário, ou seja, hora de trabalho extraordinária ao horário normal, em que o trabalhador deverá ser remunerado de forma a compensar o excesso de horas relativamente ao horário normal.
Outra das características que podemos encontrar, é o prolongamento das relações de trabalho após hora de expediente. Se em Portugal, a vida profissional está completamente separada da vida pessoal, os irlandeses, alimentados por uma sede enorme por Guinness e/ou Jameson, tiram proveito das relações profissionais para construir um ambiente de festa após os dias de trabalho. Quem visitar a cidade, e estiver atento, irá verificar que, com maior incidência à sexta-feira, os pubs após as 5 da tarde estão cheios de executivos que procuram relaxar de um dia de trabalho. É vê-los, homens e mulheres, cada um com uma pint na mão a brindar a mais um dia de trabalho, porque é também ao sabor do álcool que neste país se fazem muitos negócios!
Mas o que encontro de realmente diferente na cultura organizacional na Irlanda, é a completa rejeição por qualquer tipo de formalidade nas relações entre colegas de trabalho, quer estejamos a falar de pares hierárquicos, quer em relação a superiores. Em qualquer um dos casos, as estruturas assentam, não em relações de medo, alimentadas pelo poder dos superiores, mas sim por relações que assentam numa visão construtiva dos objectivos comuns a toda a empresa que, consequentemente, envolve todos os trabalhadores. A noção de responsabilidade fica, assim, partilhada, e funciona como elo e motor para o sucesso das empresas.
Deixo-vos só mais uma nota de comparação: na Irlanda a economia cresce a 5% ao ano, a taxa de desemprego é de 3,8%, o salário mínimo é de 1500€ e o índice de produtividade é dos mais altos da Europa. Será por acaso?
A Irlanda e o Mercado do Vinho.
Luís Lima, HP, Galway, Irlanda.
As intermináveis paisagens verdes que se estendem de costa a costa, a tranquilidade rupestre das aldeias e vilas que encontramos a poucos passos do centro da cidade, bem como a rede de transportes pouco desenvolvida, fazem com que ainda seja possível ver um pouco do que foi a Irlanda há não muito tempo atrás: um país pobre, vivendo sobretudo da agricultura e no qual a população diminuía drasticamente ano após ano, sobretudo devido à emigração em busca de novas oportunidades.
Tudo isto se apresenta, visto de dentro, como uma fachada ilusória. O país tem vivido nos últimos 30 anos o crescimento exponencial da sua economia, que inverteu radicalmente a confiança de um povo que passou a viver num clima de prosperidade nunca antes visto.
A entrada na União Europeia proporcionou o investimento que se assume ter desencadeado esta mudança, mas foi a aposta das organizações governamentais em criar condições para que as empresas de alta tecnologia se instalassem no país que fez com que este se tenha colocado numa posição cimeira na zona europeia a este nível. Numa altura em que a grande aposta da maior parte das nações era as indústrias pesadas, como a automóvel, a metalúrgica, a petrolífera ou a química, a redução de impostos sobre as empresas, aliada à aposta na educação, no sentido de criar capital humano altamente qualificado, surgiram como os principais atractivos para permitir que empresas norte-americanas, japonesas ou mesmo europeias se estabelecessem na Irlanda. Exemplos como o da Digital, seguida pela Apple, a IBM, a Fujitsu IT, a Dell ou mesmo a Microsoft e, mais tarde, a Intel são disso demonstrativos.
A capacidade que houve para seguir uma ideia diferente da linha de pensamento da altura, permitindo a conciliação de um desenvolvimento notável com a manutenção da paisagem característica, fugindo, na medida do possível, do alastrar da poluição e das consequências nefastas da industrialização em massa, levou a Irlanda a tornar-se numa das primeiras chamadas “Economias Verdes”.
Hoje em dia, no entanto, uma dúvida impõe-se: como irá o país evoluir daqui para a frente? O crescimento foi notório mas vai abrandando e não esconde os atrasos existentes a nível de infra-estruturas, que se vivem a cada dia e que dificilmente serão sustentáveis. Será a economia capaz de suportar a transição para uma nova aposta, aquela que deitará por terra o equilíbrio já referido de uma “Economia Verde”?
. Abertura
. Sim, a Irlanda é diferent...