Ao saber que vinha morar para Itália, não previ grandes dificuldades relativas à aculturação, muito menos um choque de culturas. Passados quase cinco meses posso dizer que tinha razão. As diferenças culturais naturalmente existem e provocaram alterações no dia-a-dia, mas se é a isso que se chama processo de aculturação, então o meu correu da melhor forma possível.
Começando pela alimentação, a cozinha italiana é uma das mais difundidas a nível internacional, pelo que qualquer pessoa conhece minimamente a oferta disponível e não tem grandes surpresas quando vai a um café ou restaurante. Ainda assim, começar o dia com um cappuccino em vez de um galão e uma brioche (que na verdade é um croissant) em vez de uma torrada teve que passar a fazer parte da rotina. Uma acqua naturale não é aquela que não está fria, mas sim a que não tem gás. A pasta deixou de ser um acompanhamento e passou a ser um primo (um primeiro prato) e, supostamente, depois dele ainda viria o secondo (que seria um prato de carne ou peixe). Felizmente é aceitável comer apenas um deles. Mas caso se comam os dois, inverter a ordem dos pratos (comer primeiro o bife e só depois a massa) ou pedir que venham em simultâneo é visto com alguma estranheza. Se todas as refeições, em geral, são boas ocasiões para se conhecer pessoas, o aperitivo milanês é, por excelência o evento social mais apreciado da cidade. Na prática, é um motivo de encontro com os amigos ao final da tarde, onde a bebida é acompanhada por um buffet, e que acaba por substituir o jantar num restaurante (de forma bastante mais económica).
A par dos aperitivos, jogar calcetto (futebol de cinco) à segunda-feira à noite com os colegas de trabalho foi para mim um dos mais importantes factores de integração. Entre interistas, milanistas, romanistas ou juventinos, falar de futebol será uma das formas mais fáceis de socializar com um italiano. Na verdade, o calcio, mais do que o desporto preferido, é uma das paixões deste povo, um tema de conversa recorrente de manhã nos cafés, durante as pausas do trabalho, ou fora delas, e até às refeições. Ao dizer que sou português, recebo automaticamente um de dois comentários, sempre ligados a este tema: ou adoram o José Mourinho (os interistas) ou detestam-no (os restantes). E muita gente pensa até que todos os portugueses têm o feitio especial do nosso notável compatriota. Se acontecer estar em casa e não ter ninguém com quem falar de calcio, basta ligar a televisão e assistir a um dos muitos programas (pelo menos um por dia) exclusivamente dedicados a este desporto.
A televisão é de facto outro dos aspectos característicos deste país. Para além da já referida omnipresença dos programas sobre futebol, há outros elementos que se encontram facilmente em qualquer programa, desde os talkshows aos concursos, nomeadamente a bela apresentadora (ou bailarina ou até a simples assistente que lê os e-mails dos espectadores) que usa sempre um vestido que realça os seus dotes corporais e em torno dos quais gira toda a emissão. Todos os filmes e séries estrangeiros são dobrados. Por último, e associado ao temperamento dos italianos, é também frequente assistir-se a acesas discussões sobre temas que vão desde o Grande Fratello à política nacional.
Estes são alguns dos aspectos que resolvi realçar, mas obviamente há mais, como por exemplo a obsessão pela imagem e pela moda (levada ao extremo aqui em Milão), ou a facilidade com que nos podemos de transportes públicos (desde a bicicleta até ao comboio). Em suma, pondo tudo numa balança, o resultado é uma adaptação extremamente simples, facilitada pelo espírito receptivo dos italianos e tornada mais interessante pelas suas peculiaridades.
Bartolomeu Bernardes - SonaeSierra, Bréscia - Itália.
A Sonae Sierra, onde estou a estagiar, tem um ambicioso projecto para implementar uma cultura de Segurança e Saúde (S&S) a toda a organização, em cooperação com a DuPont, a multinacional da indústria química com elevada reputação em S&S. De nome Personae, uma das premissas para o sucesso do projecto é o compromisso visível da gestão de topo e a mudança comportamental de todos os stakeholders para uma cultura de prevenção e antecipação de acidentes, tomando em conta as atitudes de cada um em vez de se apoiar no numa equipa de especialistas em S&S.
O sucesso do projecto foi reconhecido ao ganhar o prémio “Dupont Safety Awards” no passado mês de Outubro não só pelo facto de ter envolvido mais de 70000 pessoas em menos de 4 anos, mas também pelo empenho visível da liderança.
Neste momento, a Sonae Sierra tem 15 centros comerciais em fase de desenvolvimento em vários países, abrangendo um investimento total de mais de um mil milhões de euros e que adicionarão mais 25% de área comercializável ao portfolio da companhia.
Na Europa, a industria da construção civil é a terceira maior (a seguir ao sector público e retalho) e é dos sectores mais perigosos, registando mais do dobro dos acidentes fatais do que qualquer outro sector. Dentro do sector, a queda em altura representa cerca de 60% das ocorrências. Mas nem tudo são más notícias: houve uma redução de entre 10 e 15% de todos os incidentes nos últimos 10 anos.
Fazendo parte do sistema de toda a organização, está em curso a implementação do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde (SGSS) na Construção de um centro comercial. Numa obra de relativa grande dimensão como é a de um centro comercial, a Segurança e Saúde é difícil de gerir: além dos prazos apertados, a utilização de mão-de-obra barata e estrangeira, que por vezes não percebe a língua do país onde trabalha, são problemas a ter em conta. Em Itália, a maioria das empresas que trabalham na construção são de pequena ou média dimensão, muitas delas familiares, o que dificulta uma mudança para uma cultura de prevenção. Além disso, a cascada de subempreitadas é tão grande que dificulta a comunicação eficiente de boas práticas e standards a todos os trabalhadores
O SGSS é baseado na norma britânica BS OHSA (Occupational Health and Safety Administration) 18001 na sua versão 2007, compatível com o já conhecido ISO14001 e ISO9001. O objectivo da implementação deste sistema de gestão passa por garantir gestão dos riscos dos trabalhadores, visitantes ou outros, durante a duração da obra, de uma maneira eficaz e responsável. O SGSS estabelecerá mecanismos para controlar todos aspectos relacionados com SS e a sua operacionalidade no terreno, definindo a estrutura organizacional, responsabilidades, planeamento de actividades, procedimentos, processos e monitorização. O propósito final será de reduzir os riscos a todas as pessoas e bens envolvidos durante a construção.
Espera-se que a implementação e certificação do SGSS terão lugar na construção do centro comercial La Terrazze em La Spezia (Itália) que deverá iniciar a sua construção em Julho 2008.
Paulo Resende, ESRIN, Roma, Itália
O Envolvimento de Portugal no Sector Espacial
A participação de Portugal em actividades ligadas ao sector espacial é relativamente recente. O primeiro passo foi dado em 1986, ano em que se tornou membro da EUMETSAT. Oito anos depois, em 1994, Portugal tornou-se membro permanente do Comité das Nações Unidas para as Aplicações Pacíficas do Espaço exterior (COPUOS), e em 1997 assinou um acordo com a Agência Espacial Europeia (ESA) onde se comprometeu a participar nas áreas de Telecomunicações e Navegação. No seguimento deste esforço, em Dezembro de 1999 foi assinado o Acordo entre a Agência Espacial Europeia e o Governo da República Portuguesa relativo à adesão de Portugal à Convenção da Agência Espacial Europeia e respectivos termos e condições, que possibilitou, em Novembro de 2000, a adesão plena de Portugal à ESA. Enquanto a EUMETSAT é sobretudo uma organização de tipo operacional, a ESA, além da exploração planetária e do espaço exterior, é essencialmente uma organização que promove o desenvolvimento tecnológico e a investigação científica com o objectivo de desenvolver aplicações que têm impacto em toda a cadeia de valor dos serviços que utilizam um segmento espacial. Portugal contribui anualmente com cerca de 3 M€ para a EUMETSAT e com cerca de 10 M€ para a ESA, - destes, 30% são dedicados aos programas opcionais de valor estratégico, nas áreas de Telecomunicações, Navegação, Exploração do Sistema Solar e futuros lançadores. Para dar impulso a esta participação, foi criado em 2003 o Gabinete Português para o Espaço (GPE), no âmbito do Gabinete de Relações Internacionais para a Ciência e do Ensino Superior (GRICES).
Formação em Áreas Estratégicas
O investimento de Portugal nas actividades espaciais não é só uma aposta na internacionalização das suas actividades no sector tecnológico, mas também uma aposta no potencial humano. Esta aposta é feita em grande parte através programas de estágio tais como o programa Network Contacto suportado pelo ICEP e pelo programa Prime do Ministério da Economia, ou o Portuguese Trainees Program, no âmbito do Programa Dinamizador das Ciências e Tecnologias do Espaço, gerido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) em colaboração com o GRICES e a Agência de Inovação (AdI). O objectivo destes estágios é a especialização e formação profissional de portugueses em áreas estratégicas, neste caso no sector aeroespacial, e a posterior integração destes jovens profissionais no tecido empresarial português, contribuindo para o aumento da competitividade das empresas portuguesas face à concorrência Europeia e até mesmo à concorrência Mundial.
O espírito de empreendedorismo que caracteriza os jovens licenciados que fizeram o seu estágio na ESA deu já origem a criação de três empresas, a Active Space Technologies, a Omnidea e a Oristeba (na área das tecnologias espaciais), e a uma iniciativa que se encontra em desenvolvimento (na área dos UAVs para aplicações em detecção remota).
Estagiar na ESA (ESRIN)
O Programa Contacto levou-me para a ESA (ESRIN). O Instituto de Pesquisa Espacial Europeu da ESA (ESRIN) está localizado em Frascati, Itália, pouco depois da saída sudeste de Roma. O ESRIN é responsável por coordenar mais de 30 estações terrestres que recebem dados de satélite das várias missões de Observação da Terra da ESA, bem como missões dos Estados Unidos da América, Rússia e Japão, e distribuir esses dados pelos parceiros da ESA. O ESRIN é também responsável pelos sistemas de informação e software usados pela ESA. É aqui que o programa Vega, o pequeno lançador de satélites da ESA, está a ser coordenado e onde é feita a manutenção do portal web da ESA. Outras funções do ESRIN estão relacionadas com a administração de contractos, a gestão de projectos e recursos, as relações públicas e/ou institucionais, e o suporte administrativo. Aqui, para além dos cerca de 150 trabalhadores da ESA (staff) encontram-se vários trabalhadores de outras empresas por intermédio de contractos (contractors). É nesta última situação que eu me encontro. Mais especificamente, como contractor da Critical Software S.A.! Isto porque iniciei a minha primeira parte do estágio Contacto ainda em Portugal na Critical Software S.A. em Taveiro, bem perto da minha cidade natal, Coimbra. Esta jovem e enérgica empresa portuguesa, criada em 1998, fornece tecnologias inovadoras e fiáveis e soluções de engenharia para sistemas de informação crítica para indústrias a nível Mundial. Com sede em Coimbra, escritórios em Lisboa, Porto, Southampton (Reino Unido) e presença em San Jose (E.U.A.), conta já com mais de 300 trabalhadores.
A segunda parte do meu estágio decorre na ESA (ESRIN) em Itália mantendo uma ligação estreita com a Critical Software S.A. em Portugal. Razão pela qual, estou a realizar o meu estágio não como trainee mas como contractor.
Neste momento o meu trabalho aqui na ESA (ESRIN) consiste basicamente na criação e implementação de um serviço de detecção e caracterização de fogo usando o satélite meteorológico de segunda geração (MSG) da ESA. Este satélite, sendo geostacionário (orbita o equador á mesma velocidade de rotação da Terra), permite a monitorização em quase tempo real da mesma área ou região permitindo detectar e localizar fogos com uma frequência temporal superior à dos satélites polares apesar de estes terem uma melhor resolução espacial. Sem querer entrar em mais detalhes, posso dizer tenho muito trabalho pela frente...
O Futuro de Portugal no Espaço
Portugal deverá continuar a aumentar a incidência financeira no investimento público no domínio espacial uma vez que possui um efeito multiplicador importante, tanto no acesso a financiamentos suplementares da União Europeia como através da criação de oportunidades de negócio para as empresas e reforço da sua posição noutros mercados que beneficiem da base tecnológica espacial.
A formação, educação, treino e informação são e continuarão a ser muito importantes bem como a dinamização de redes de cooperação, mas, acima de tudo, é essencial a inserção profissional de licenciados em ciências e tecnologias aeroespaciais em empresas industriais nacionais do sector aeroespacial, incentivando-as à criação de postos de trabalho ao mesmo tempo levando-as a adquirir novas aptidões e competências permitindo afirmarem-se no domínio espacial.
André Ribeiro, ESRIN, Roma, Itália
Roma, 25 de Março de 1957
A Europa ressaca ainda com as memórias frescas de um dos períodos mais chocantes da História recente. Os avanços tecnológicos tinham sido muitos, arrancados à comunidade científica, em grande parte por motivos menos nobres. O sentimento geral era da chegada da bonança, finda a tempestade. Assinava-se [1] o que a história viria a apelidar de Tratado de Roma, estabelecia-se a Comunidade Económica Europeia e esboçava-se, o que viria mais tarde a ser, muito mais do que um pacto para aligeirar trocas comerciais e burocracias económicas.
Meses mais tarde, a 4 de Outubro, era lançado o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1, marcando o início da exploração espacial pelo Homem.
Tempos de comemoração pelos sucessos alcançados, pela e para a Europa.
Roma, 26 de Março de 2007
Num evento organizado pela representação Italiana da Comissão Europeia, pela embaixada Francesa em Itália, pela Universidade Sapienza de Roma, pela Agência Espacial Europeia (ESA) e pela Agência Espacial Italiana, designado de “Uma noite no espaço: Encontro com os astronautas europeus”, comemoravam-se igualmente os 50 anos de exploração espacial [1].
Com a presença de 5 membros da corporação de astronautas europeia (participantes em missões espaciais), do Ministro Italiano para a investigação e desenvolvimento e de um anfiteatro com cerca de 600 pessoas o Professor Renato Guarini, Reitor da Universidade de Roma, iniciou as hostes relembrando os primórdios da exploração espacial e recordando também as recentes comemorações relativas aos 80 anos de estudos espaciais na Universidade de Sapienza. Numa nota descontraída e relaxada o Ministro Fabio Mussi, confessava o seu fascínio pelo espaço e pela exploração tripulada do espaço que tem desde infância, salientava a importância do espaço para a Europa e por fim reiterava a importância que a exploração espacial tem no programa político Italiano. Claudie Haigneré, astronauta da ESA, e primeira mulher europeia a visitar a estação espacial internacional (ISS) em Outubro de 2001 salientou o facto de há 50 anos, com os Tratados de Roma, nos tornarmos europeus e no mesmo ano com o lançamento do Sputnik nos olharmos de fora e nos vermos “terráqueos” à escala universal. Sublinhou ainda que a exploração espacial é ainda uma ciência embrionária, que os alcances do passado devem ser encarados com orgulho mas que mais importante é encarar o futuro com determinação.
A apresentação dos cinco astronautas ficou a cargo do Director da Divisão de Voo Espacial Humano, Micro gravidade e Exploração, Daniel Sacotte, que salientou o quão importante é o sentimento patriótico de orgulho na nacionalidade de cada astronauta, mas que ainda mais importância tem o facto de serem embaixadores da Europa no Espaço. Relembrou ainda que os executores da missão são sem dúvida importantes, contudo, não se devem esquecer as imensas pessoas, como os Engenheiros, Médicos, Físicos, Astrónomos e todos os técnicos que a ESA tem nos bastidores para garantir o sucesso das suas missões. De seguida pudemos ficar com os depoimentos de cada um dos astronautas presentes que expuseram um pouco dos trabalhos que fizeram ao longo das missões espaciais em que participaram.
Por fim, para encerrar este agradável final de tarde na Aula Magna da Universidade de Roma, houve lugar a um cocktail informal no qual pudemos conversar com todos os presentes para continuar o diálogo, colocar questões e satisfazer todas as curiosidades que ainda pudessem restar.
Tempos de comemoração pelos sucessos alcançados, pela e para a Europa. [4]
Notas
[1] No momento da assinatura do tratado pelos vários intervenientes, o tratado de roma presente era apenas um maço de folhas brancas com a capa e as últimas folhas impressas, devido a atrasos na gráfica italiana responsável pela impressão. Pierre Pescatore disse à BBC na comemoração do quinquagésimo aniversário dos tratados: “They signed a bundle of blank pages.”, “The first title existed in four languages and also the protocol at the end; nobody looked at what was in between.”
[2] Todos os satélites Russos são até hoje designados de Sputnik (numerados) pelos média Americanos, embora todos eles tenham nomes diferentes.
[3] Espera-se que seja também em 2007 que a China (com satélite orbital lunar Chang’e 1), o Irão (satélite Mesbah) e a Índia (com a missão Chandrayaan I) iniciem as suas próprias explorações espaciais.
[4] A 24 de Abril, a equipa liderada por Stéphane Udry (composta por elementos Suiços, Franceses e Portugueses) do European Southern Observatory (ESO), anuncia, a descoberta do Gliese 581c, planeta com características naturais muito semelhantes às da terra a apenas 20,5 anos-luz de distância.
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